A filha de quatro anos era o xodó da mãe. Possivelmente era nela que Ariana Arias dos Santos, 34 anos, pensava quando voltava de ônibus do trabalho como operadora de telemarketing em uma imobiliária em Porto Alegre para casa em Alvorada, na Região Metropolitana. Não sabia que, ao subir no coletivo, estava sendo monitorada pelo ex-companheiro Maximiliano Rodrigues Freitas, 36 anos.
Ariana não percebeu a aproximação do homem em sua direção. Segundo familiares, o ex-companheiro tinha embarcado duas paradas antes dela. Freitas sentou no fundo do ônibus articulado e pelas janelas de vidro avistou a movimentação de Ariana para o interior do ônibus. Ele conhecia a rotina da ex-companheira.
Sem lugar para sentar, Ariana decidiu ficar de pé na parte articulada. Uma passageira, que estava sentada no último banco antes da parte móvel do coletivo, estranhou a movimentação de Freitas, que inclusive passou a mão no rosto da ex-companheira. No segundo seguinte, um grito:
— Ela disse: "Socorro. Ele vai me matar". Só deu tempo de me virar e ver ele segurando o ombro dela e desferindo as facadas. Presenciei cinco estocadas. Na saída do ônibus, ele disse: "Eu falei que ia fazer e fiz" — conta a passageira.
Ao tentar fugir do ônibus, Freitas foi contido pelos próprios passageiros e preso. Ele cumpria prisão domiciliar e deveria estar usando uma tornozeleira eletrônica. Ariana já havia registrado duas ocorrências contra ele por agressão.
Horas depois, Ariana acabou morrendo no hospital, para onde foi levada. Até a conclusão desta reportagem, não havia informações sobre velório e enterro.
Casal se conheceu em festa
Ariana e Freitas se conheceram há cinco anos, em uma festa em uma boate no Centro de Porto Alegre. Três dias depois, ele foi preso e foi levado para o Presídio Central. O relacionamento continuou e Ariana engravidou de uma menina.
Entretanto, logo após o nascimento do bebê, os dois se separaram. Ariana se incomodava com o consumo de drogas do companheiro, seguido de surtos e ataques de fúria, que resultavam em agressões físicas e verbais à mulher.
Em outubro deste ano, o casal acabou reatando. Ficaram juntos por cerca de um mês. A dependência química dele voltou a incomodar. Em uma briga do casal, Freitas acabou batendo na filha, segundo familiares. Ariana decidiu passar dois dias na casa de uma prima.
O homem acabou preso, mas seguia fazendo ameaças à mulher por telefone.
— Ela teve que trocar o número do telefone. Não aguentava mais isso — conta uma prima, que pediu para não ser identificada.
"Sempre alegre", diz tia
Com olhos cheios de lágrimas, uma tia lamentou a morte repentina da sobrinha. Segundo a familiar, o envolvimento dela com Freitas era visto com temor pela família, devido ao passado violento.
— A gente sempre avisou ela para ter cuidado — conta a mulher.
Segundo a familiar, Ariana era conhecida pelo bom humor.
— Ela estava sempre sorrindo, não tinha maldade no coração. Era sempre alegre, mesmo nos altos e baixos. É muito triste tudo isso.