Vinte e quatro horas e três leitos de distância. Parecem mínimas as circunstâncias que poderiam ter evitado a morte de Gabriel Vilas Boas Minossi na madrugada desta sexta-feira (9). Confundido com um alvo de criminosos, o jovem teve a vida interrompida aos 19 anos enquanto se recuperava de uma cirurgia no Hospital Centenário de São Leopoldo.
— O que falar nessa hora? Eu estou aqui no IML esperando para reconhecer o corpo, tentando juntar forças — desabafa Marcelo Minossi, pai de Gabriel, em entrevista ao Timeline Gaúcha.
Gabriel sofreu um acidente de moto na BR-116 ao voltar do trabalho, lesionando os dois fêmures. De acordo com o pai do jovem, ele deveria ter recebido alta do hospital na última quinta-feira (8), mas devido ao quadro de pressão alta, a equipe médica estendeu o prazo de internação. Na ala cirúrgica, por cerca de duas horas, Gabriel ficou a três leitos de distância e chegou a trocar palavras com Alex Junior Abreu Tubiana, 28 anos, o homem egresso do sistema prisional que seria, segundo a Polícia Civil, o alvo dos criminosos que invadiram a unidade de saúde nesta madrugada.
— Esse cara baleado conversou com meu filho, porque o Gabriel me contou. O Gabriel (disse): "Pai, ele passou por aqui e perguntou pra mim o que tinha acontecido comigo. Daí eu falei que tinha sofrido um acidente de moto e ele: 'Bah cara, melhoras pra ti'" — conta o pai do jovem.
Segundo Marcelo, desde a tarde de quinta-feira (8) havia um "murmurinho" no hospital sobre a intenção dos criminosos de invadirem o local. Após duas horas dividindo o mesmo ambiente com os demais, Tubiana foi levado a outro leito. No quarto onde estava Gabriel, ficaram com ele a madrinha, irmã de seu pai, e um outro paciente, que estava internado também na presença de um acompanhante.
— Eles não viram nem em quem estavam atirando, eles entraram e atiraram no primeiro que eles viram, na primeira maca — observa Marcelo, após ver as imagens das câmeras de segurança do hospital.
Na avaliação do pai de Gabriel, o Hospital Centenário fez sua parte. No entanto, as autoridades não conseguiram impedir os 29 tiros disparados contra o jovem, que deixaram outras duas pessoas feridas.
— Eu vi o ofício que eles mandaram (para a BM). O hospital não posso falar, ele foi muito bem atendido, fez sua parte, mas o poder público não fez! — diz. — Até agora, ninguém veio falar comigo, a polícia não me mandou nem longe — completa.
A mãe de Gabriel se encontra medicada, segundo Marcelo, que agora tenta juntar forças para reconhecer o corpo do filho. Na cabeça, ainda há a preocupação com sua irmã, madrinha do jovem, "que viu tudo". Indagado sobre quem era Gabriel, tentou resumir, com a voz embargada:
— Um guri ímpar, trabalhador, de CTG, sem maldade. A gente dizia que ele era ingênuo, muito puro. Bem como o nome já diz: um anjo, né.
Ouça a entrevista: