O comandante-geral da Brigada Militar, coronel Mário Ikeda, afastou um oficial da corporação por suspeita de cobrar por escolta de times de futebol de outros Estados que vêm a Porto Alegre para disputar partidas contra a dupla Gre-Nal.
A corporação confirma o afastamento e que, na sexta-feira (5), um Inquérito Policial Militar (IPM) foi aberto para apurar o caso. A BM está ouvindo testemunhas e quer saber se o oficial agia sozinho, se usava a estrutura da BM, como viaturas, por exemplo, se fazia em horário de folga e se outros PMs participariam do esquema.
O nome do oficial não é divulgado pela BM. Mas GaúchaZH teve acesso ao IPM. Trata-se do então subcomandante do 11º Batalhão de Polícia Militar (BPM), major Fernando Maciel. Ele e um soldado já prestaram depoimento. O último caso teria ocorrido com uma equipe que veio jogar em Porto Alegre, em outubro. O crime de corrupção passiva é apurado, cuja pena, em caso de condenação, varia de dois a oito anos de prisão.
Conforme o IPM, o caso chegou à corporação por meio de denúncia anônima. A partir disso, a Corregedoria-Geral da BM fez diligências e obteve o flagrante do que caracteriza como corrupção passiva. O esquema ocorreria da seguinte forma, segundo relato no IPM: um suposto dirigente de um clube de futebol teria entrado em contato por Whatsapp com o major Maciel pedindo segurança para outros dirigentes que chegariam na manhã de 5 de outubro, no aeroporto Salgado Filho.
Foi então que Maciel teria cobrado R$ 5 mil para fazer a segurança. A partir disso, policiais da Corregedoria chegaram ao saguão do aeroporto e flagraram três soldados da BM indicados por Maciel para realizar o serviço. Maciel não foi até o local. Além do trio de PMs que estava à paisana e armado, o cunhado de Maciel também estava no local e ele faria o transporte dos supostos dirigentes.
"Sendo encontrado em sua posse um recibo, com dados do Esporte Clube Bahia, tendo na ocasião confirmado que era a pessoa encarregada de receber os dirigentes do referido clube", relata o major Rafael Monteiro Costa, encarregado do IPM.
Ainda conforma o IPM, houve a "confirmação oral dos abordados quanto ao serviço de segurança privado". Conversas de WhatsApp foram extraídas dos celulares dos envolvidos e comprovariam a negociação. Sobre o suposto crime praticado pelo major Maciel, o encarregado afirma que "resta evidente a prática do delito de corrupção passiva por parte do Major FERNANDO RODRIGUES MACIEL, pois entabulou negociação onde aceita vantagem indevida consistente no pagamento de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para fazer o serviço de segurança privada de supostos dirigentes do Esporte Clube Bahia. Supostos porque não foram ao encontro do cunhado do investigado."
Em relação aos soldados, não há citação sobre afastamento das funções.
Contrapontos
O que diz o investigado
O major Fernando Maciel preferiu não se manifestar. Tentamos conversar com o advogado dele, Fábio Silveira, mas não conseguimos.
O que diz o Bahia
Por meio da assessoria de imprensa, o Bahia se limitou a dizer que o fato não aconteceu.
O que diz a BM
Segundo o comandante do policiamento da capital, tenente-coronel André Córdova, escolta de times visitantes é feita pelo Batalhão de Operações Especiais (BOE) nos deslocamentos entre aeroporto, hotel e estádio. No caso da equipe mandante, a escolta é pelo 11º BPM, no caso de jogos na Arena, e pelo 1º BPM, em jogos no Beira-Rio. E é feita entre hotel e estádio. O oficial reforça que não há qualquer cobrança, que "trata-se de um dever do Estado para proporcionar segurança ao evento". Sobre escolta de dirigentes de clube, Córdova diz que não é usual. Mas ressalta que mesmo que ocorresse, não há qualquer cobrança.