A cena é sempre a mesma: uma loira de cerca de 1m70cm, que se identifica como Suzi, descrita como "escultural" por uma testemunha, utiliza o serviço de táxi ou de transporte por aplicativo e orienta o motorista a parar na frente do portão da garagem do Hotel Rodoviária, no cruzamento da Rua Ernesto Alves com a Rua Voluntários da Pátria, bairro Floresta, região central de Porto Alegre.
Pede então ao motorista que a aguarde por cerca de 10 minutos pois, supostamente, tem de entrar no estabelecimento, onde estaria hospedada, para pegar o dinheiro da corrida. Aproveitando-se da localização de esquina do hotel, ela estrategicamente simula uma entrada no prédio, mas segue em frente pela Voluntários da Pátria, até "sumir" nas imediações da Rua Comendador Coruja.
O golpe, aplicado a 150 metros da sede da Secretaria da Segurança Pública e a 350 metros da 17ª Delegacia de Polícia (DP), já fez pelo menos oito vítimas, nos últimos dois meses.
— O pior é que alguns motoristas ficam exaltados e não acreditam quando a gente diz que a tal loira não é nossa hóspede. Já chegaram a ameaçar funcionários. Teve um que queria revistar todos os quartos. Outro, queria examinar o fichário — conta o proprietário do hotel, Guido Jacó Hilgert, 78 anos.
Guido lembra que outro motorista chegou a chamá-lo de mentiroso, quando foi informado de que havia caído no golpe.
— E além de tudo, queria brigar comigo. Imagina se eu, na minha idade, iria estar mentindo para proteger uma mulher que nem conheço — argumenta.
Pela reação de algumas vítimas, o proprietário do hotel desconfia que o golpe não se resuma ao não pagamento da corrida. Ele acredita que a mulher faça outras promessas aos motoristas.
— Um dos hóspedes já viu a loira e disse que ela é muito atraente, usa roupas curtas e, pelo visto, ela sabe encantar — diz.
Guido atribui à localização de esquina e à "má fama" da região a escolha de seu hotel pela loira para a aplicação do golpe.
— Tenho hotel aqui há 41 anos. Essa região mudou muito, está cheia de igrejas, tem shopping aqui perto, mas muita gente a enxerga como se ainda estivéssemos no passado, quando tinha prostituição na Rua Voluntários da Pátria — diz.
Devido à repetição do golpe e à irritação de alguns motoristas, o proprietário do hotel registrou ocorrência na 17ª DP. As vítimas não tiveram a mesma iniciativa.
— Acredito que eles (os motoristas) fiquem com vergonha por caírem num golpe assim —avalia.