Um corretor de imóveis é acusado de enganar mais de 30 pessoas desde 2013, no Rio Grande do Sul, com a venda de cartas de consórcio contempladas, sem necessidade de lance ou espera. Para enganar as vítimas, utilizando um dos golpes mais antigos, Edmílson Machado e Silva apresenta uma história convincente sustentada com documentos reais.
Apesar da extensa ficha criminal, Silva possui registro regular no Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-RS). Além disso, possui empresa registrada em seu nome e usa como endereço um escritório em área nobre de Porto Alegre. Tudo utilizado para gerar uma falsa sensação de segurança nas vítimas.
A primeira parte do golpe é conhecida e consiste em realizar um anúncio em jornais. Quando o comprador realiza o primeiro contato, é atendido por um suposto dono da carta, que encaminha a negociação para um corretor de imóveis. É nesse momento que Silva entra na história e apresenta-se como um profissional registrado, como de fato é.
Embora os golpistas prefiram pessoas com baixa instrução, um dos lesados pelo corretor é um idoso que tem experiência com consórcios. Viu na carta de R$ 249 mil uma oportunidade de investir em imóveis e pagou R$ 27 mil a Silva, assumindo ainda 197 parcelas de R$ 1.344,90 com o Banco do Brasil, que é operador do consórcio. O advogado Fernandes de Boite, que representa o idoso, descreve o golpista como uma pessoa de bom papo e que consegue estabelecer relação de confiança.
— Bem bonito, bem trajado. E vai chegando na pessoa e cativando. Um bom carro, bom automóvel, e vai se aproximando e as pessoas caem na lábia dele — descreve De Boite.
Esse consórcio, de fato existe e foi contemplado. No entanto, pertence a uma empresa de Teresina, no Piauí, que não possui interesse em realizar a venda. O advogado inclusive ganhou a ação em primeiro grau, que obriga a devolução do valor e pagamento de indenização. O corretor não apareceu em nenhuma das audiências de conciliação.
GaúchaZH teve acesso ainda a outros processos em que Edmílson Machado e Silva é réu pelo mesmo crime. Existem relatos de golpes praticados por ele em Canoas, Porto Alegre, São Leopoldo e no Litoral Norte.
No final de abril, foi preso em flagrante por extorsão, em São Leopoldo, dentro da casa de uma vítima, enquanto recebia o dinheiro do golpe. Desde então, está detido preventivamente no Presídio Central, em Porto Alegre. Na Polícia Civil, existem 34 registros contra ele, sendo a maioria na Capital.
Advogado especialista em direito do consumidor, Cauê Vieira, orienta que os compradores sempre desconfiem de propostas vantajosas.
— Quando uma crédito é colocada à disposição para venda, a oferta nem sempre é a mais vantajosa de todas. Então, se a oferta é muito tentadora, já há de se ligar um alerta de que pode haver algum tipo de problema.
Vieira ainda orienta para uma conferência com o banco se o consórcio existe e foi sorteado. Sempre que possível, a transação deve ser realizada diretamente com o titular do consórcio, e não com um intermediário.
O que diz o Creci-RS
O Conselho Regional de Corretores de Imóveis 3ª Região (Creci-RS) afirma que recebeu duas denúncias no mês de abril e instaurou um processo administrativo disciplinar. A apuração está na fase de notificação.
Coordenador de Fiscalização do Conselho, Rodrigo Cabral, ainda diz que é necessário apurar se existiu irregularidade envolvendo a atividade de corretor, já que venda de consórcio não é prática da profissão.
O que diz a advogada do réu
Em contato com GaúchaZH, a advogada que representou o preso nos processos mais recentes afirmou que está "se desligando do cliente" e que não iria se manifestar. A reportagem não localizou um novo defensor de Edmílson.