A tarde de folga da motorista de aplicativo Isabel Lazzarin Gonsalves, 29 anos, de Gravataí, foi interrompida por um pedido particular de corrida para outro município. No domingo, a mãe da jovem, a esteticista Teresinha Maria Lazzarin, 60 anos, ficaria com o neto de quatro anos para a filha se divertir com amigos, depois de uma semana de trabalho.
De acordo com Teresinha, a filha enviou mensagem avisando que iria até São Leopoldo pegar uma passageira, que levaria para Lajeado. A jovem, no entanto, voltou em casa, e a mãe tentou convencê-la a não realizar a viagem durante a noite. Chegou a ameaçar não ficar com o neto, mas Isabel não recuou: arrumou cadeirinha e um cobertor para levar o filho.
– Quando vi que ela iria de qualquer forma, disse para deixar o menino, pois se acontecesse algo com os dois, eu morreria. Então, ela falou que precisava do dinheiro e que aquele domingo a passageira deveria ser levada a uma festa em Lajeado, onde estaria um vereador – recorda.
Aquela foi a última conversa que Teresinha teve com a filha, que completaria 30 anos no próximo dia 20.
– Este mês iniciaria um tempo de festas na família, começando com o aniversário dela. Depois, uma das crianças faz aniversário em agosto, outra em setembro e eu em outubro. Agora, acabou tudo – diz, consternada.
De acordo com a Polícia Civil, o veículo de Isabel passou pelo pedágio da RS-040, mas não foi informado o sentido no qual trafegava. O delegado informou que não serão fornecidos detalhes sobre o caso, pois as investigações estão em andamento e qualquer informação pode atrapalhar o trabalho dos agentes.
Cerca de 15 minutos após Isabel sair de casa, Teresinha recebeu uma mensagem da filha pedindo o número da conta, pois havia esquecido o cartão bancário e a viagem seria paga em depósito. Por volta das 21h30min, Isabel visualizou pela última vez uma mensagem da mãe que dizia que as discussões eram por pura preocupação, pedindo compreensão e que a amava muito.
Após várias mensagens sem retorno, decidiu ligar, às 10h52min. Ouviu a resposta de um homem que a preocupou:
– Esse telefone não é mais das gurias.
Às 10h59min, Teresinha ligou novamente e, desta vez, ouviu o homem perguntar, com voz baixa, de quem era o celular, e uma mulher responder:
– Nada a ver, desliga.
Preocupação e buscas de amigos
— Ela se preocupava muito com os últimos casos de motoristas que desapareciam e depois eram encontrados mortos. Uma semana antes da morte, ela avisou que tinha feito um curso de unhas alongadas, e só trabalharia no aplicativo até juntar dinheiro para ajeitar o motor do carro dela — afirma Teresinha.
Após o registro da ocorrência na delegacia de Gravataí, os amigos também começaram uma busca particular.
— Todos os motoristas se ligavam e trocavam mensagens. Até foram na minha casa para me tranquilizar e dizer que achariam ela.
Às 10h de terça-feira (3), um amigo ligou para a mãe de Isabel, chorando. Avisou que documentos e roupas foram encontrados em Mostardas. Dois veículos com amigos e familiares foram até o DML de Osório, onde, às 14h, Teresinha encontrou o corpo da filha.
— Quando vi o boletim de ocorrência, já com o meu nome lá, meu mundo caiu. Ao ver as pessoas chorando, eu não sabia como reagir. Queria ver o corpo dela, mas me convenceram a não fazer isso, pois estava deformado pelo estrangulamento e pelo inchaço — diz a mãe de Isabel, com a voz embargada.
Uma fotografia da tatuagem que cobria a coxa direita levou ao reconhecimento de Isabel. Sua corrente e os dois anéis que usava estavam em um saco plástico.
Para o filho menor, a mãe ainda está trabalhando
Definida pela mãe como uma mulher trabalhadora, alegre e geniosa, Isabel começava a trabalhar as 5h da manhã, mas também fazia corridas particulares à noite. O filho maior de oito anos esteve no velório da mãe, mas o de quatro, segundo a avó, ainda acredita que a mãe está trabalhando.
— Ela podia demorar para chegar do trabalho, mas o menor sempre dormia com ela. Nos últimos dias, ele não para de perguntar, pedir pela mãe. A gente vai ter que contar, mas ainda não sabemos como — detalha.
As crianças são fruto de dois relacionamentos distintos. Uma delas vive com o pai e a outra, na casa de Teresinha, onde Isabel morava. O corpo de Isabel foi enterrado no cemitério Rincão da Madalena, em Gravataí, na terça-feira (3).