Um médico de 69 anos foi preso suspeito de estuprar um adolescente de 14 anos. O cirurgião plástico Cleber Antonio Nogueira Santos foi detido na noite de sábado (7) dentro de seu apartamento, no bairro Menino Deus, na região central de Porto Alegre. Santos foi preso em flagrante e a Justiça converteu a detenção em preventiva no dia seguinte. O caso é investigado pela delegada do Departamento Estadual da Criança e Adolescente (Deca) Andrea Magno.
O caso veio à tona após um morador do mesmo condomínio ouvir gritos vindos do apartamento do médico e constatar que o adolescente ameaçava se jogar da janela. O vizinho e dois vigilantes foram até a residência e bateram na porta, mas o homem se recusava a dar acesso ao interior da moradia. Nesse meio-tempo, a Brigada Militar foi acionada.
— Depois de muito insistir, ele abriu a porta e o menor saiu correndo, de cuecas, chorando muito — detalha a delegada.
Inicialmente, a Brigada Militar foi chamada para atender a uma ocorrência de tentativa de suicídio. Porém, ao chegar ao local, deparou com o adolescente despido, que relatou o que teria acontecido.
— O menor contou que foi obrigado a fazer coisas que não queria — observa a delegada, sem dar detalhes.
Para os PMs, o adolescente contou que estava em uma parada de ônibus próximo da Avenida Osvaldo Aranha, na região central de Porto Alegre, quando foi abordado pelo idoso, que ofereceu comida e dinheiro para entrar no carro.
Devido a uma nova legislação, que entrou em vigor em abril, a vítima não foi ouvida novamente pelos investigadores do Deca. Conhecida como depoimento especial, a nova regra determina que o menor deve relatar os acontecimentos apenas uma vez, a fim de que se evite o aumento do sofrimento.
Conforme a delegada, havia indícios de materialidade e de autoria, que acabaram sustentando a conversão da prisão em flagrante para preventiva. Além disso, o adolescente foi encaminhado para exame de corpo de delito.
— Para evitar revitimização, só se faz o depoimento quando é extremamente necessário, quando é imprescindível. Nesse caso, havia elementos suficientes — salienta.
Na delegacia, o médico permaneceu em silêncio. Segundo a delegada, ele vai responder por estupro. Por isso, o idoso pode ser condenado a uma pena de oito a 12 anos. Após o flagrante, ele foi levado para a carceragem do Palácio da Polícia até que surgisse uma vaga no sistema prisional. Depois foi encaminhado para a Penitenciária de Canoas (Pecan), na região metropolitana de Porto Alegre.
Devido à prisão, a polícia tem 10 dias para concluir a investigação. Andrea, que é titular da Delegacia de Polícia da Criança e do Adolescente Vítima (DPCAV), conta que recebeu o inquérito na quarta-feira (11) e ainda analisa os próximos passos da apuração. Não está descartado solicitar imagens de câmeras de segurança do condomínio para auxiliar nos trabalhos.
— Agora vamos verificar o que falta, se é preciso ouvir testemunhas, complementar o inquérito. Se não houver necessidade, vamos encaminhar para o Judiciário.
Por doença, médico cancelou inscrição no Cremers
Conforme o presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremers), Fernando Mattos, o cirurgião plástico formalizou um pedido para cancelar a inscrição como médico em 2015 devido a problemas de saúde. Além disso, Mattos salientou que, até essa data, ele não havia respondido a nenhum tipo de sindicância ou processo disciplinar.
Cirurgião tem depressão e esquizofrenia, afirma familiar
Um familiar, que pediu para não se identificar, reconheceu que os "fatos são graves". Argumentou que o médico sofre de depressão e esquizofrenia e que é diabético. Além disso, ele faz tratamento contra câncer na próstata e precisou fazer cirurgia em 2014. Devido às complicações, está tendo acompanhamento da família, que fornece a medicação específica.
Santos, ainda segundo o parente, ficou 40 dias internado em uma clínica na capital gaúcha entre 2016 e 2017 por causa da depressão.
— Quando eu fiquei sabendo da acusação de abuso, na noite de sábado, eu me assustei — relata.
Familiares tentaram conversar com o médico no dia da prisão e enquanto ele estava aguardando a transferência para um presídio. Ele estaria "muito confuso", segundo a fonte ouvida por GaúchaZH.
O médico é separado e tem dois filhos, já adultos. De acordo com o familiar, o cirurgião plástico morava sozinho no apartamento.
Contraponto
O advogado do médico, Luciano Fischer, entrou com um pedido de liberdade na última segunda-feira (9). Porém, ainda não há retorno da solicitação. O defensor salienta que seu cliente apresenta uma série de doenças e que, no dia do fato, estaria "muito transtornado".
— Estamos brigando pela soltura dele. Ele pegou o menino na rua, não teria abusado, e os vizinhos ouviram gritos. Acredito que o adolescente se aproveitou da situação — entende o advogado.
O médico não explicou ao advogado por que teria chamado o menor para seu apartamento. A defesa do cirurgião plástico já solicitou um laudo psiquiátrico, que deve ser encaminhado ao Judiciário.