Região de ruas esburacadas e casas simples virou cenário de uma chacina no final da noite de segunda-feira (18), em Viamão. Em meia hora, sete pessoas foram mortas em três endereços diferentes, com distância de 700 metros entre eles. Quatro vítimas são mulheres e outras três são homens — um oitavo corpo foi encontrado no final desta manhã. Conforme levantamento da editoria de Segurança de Zero Hora e Diário Gaúcho, esta é a maior chacina registrada nos últimos sete anos na Grande Porto Alegre.
Apenas um homem — identificado como Claudio Roberto Gonçalves, 38 anos — foi morto em via pública. O corpo dele foi encontrado ao lado de uma Kombi na Rua Araranguá. No local, uma touca e um par de óculos coberto de sangue eram alguns dos indícios do crime. A poucos metros dali, tênis pendurados na fiação elétrica indicavam que outras pessoas haviam sido mortas na região.
Em uma casa na Rua Professor Freitas Cabral, três pessoas foram assassinadas. Uma das vítimas — Cintia Fogaça dos Santos — chegou a ser socorrida e levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas acabou morrendo em atendimento. Além dela, estava na residência um casal de namorados — Graziela da Silva Santos e Frank Bruno —, que deixa uma bebê. Não se sabe onde estaria a criança no momento dos disparos.
Antes dos tiros, vizinhos perceberam grande movimentação de carros e motos no local. Em seguida, ouviram os gritos das mulheres, seguidos dos disparos.
— As mulheres gritavam muito. A gente também estava meio apavorado e não sabia direito o que era tiro ou grito — conta uma moradora, que relata ter escutado ao menos três disparos.
Pela manhã, ainda era possível ver as marcas da violência. A porta dos fundos da casa aparentava ter sido arrombada e a cozinha estava revirada: uma mesa partida, um prato de arroz jogado em um canto e vidros das janelas quebrados.
Uma das vítimas morava na casa há mais de 10 anos. Conforme a vizinhança, a família de Frank Bruno deixou a região, mas ele acabou ficando. A casa fica próxima de uma boca de fumo e registrava "movimentação anormal", de acordo com moradores das redondezas.
Outro morador foi pego de surpresa com a notícia das três mortes na Rua Professor Freitas Cabral, já que não estava em casa na hora dos disparos.
— O Frank era trabalhador, vendia café no Centro. Tinha família, mulher e filha — conta um homem.
A mulher dele também não escondia espanto com o crime. Ao saber das mortes, começou a chorar e tremer.
— Conhecia desde pequeno.
Reforço no policiamento
Após a chacina, a Brigada Militar e a Polícia Civil anunciaram reforços nas equipes. Pela BM, serão enviados policiais do Batalhão de Operações Especiais (BOE), a tropa de elite da corporação. O número de soldados destinados não foi revelado. Já a Polícia Civil destinará cinco agentes para reforçar a Delegacia de Homicídios por pelo menos 15 dias, para dar andamento ao inquérito.
Na Rua Guarapari, silêncio
Na Rua Guarapari, duas mulheres e um homem foram mortos. Uma delas estava utilizando tornozeleira eletrônica. Na casa, também estavam quatro crianças e um cadeirante, que foram poupados. GaúchaZH apurou que são duas meninas e dois meninos: três de um a cinco anos e uma menina de oito anos.
Na rua do crime, o silêncio imperava. Vizinhos da casa espiavam por meio de cortinas, fechavam a porta rapidamente e chegavam a baixar a cabeça ao deparar com a reportagem na rua. Uma das poucas pessoas que toparam falar anonimamente contou que foram mais de 50 disparos na casa. Além disso, o homem acrescentou que as vítimas estavam morando na residência há pouco tempo, cerca de cinco meses.
Possível ligação com o tráfico
Responsável pela Delegacia de Homicídios em Viamão, a delegada Caroline Jacobs acredita que a motivação esteja ligada ao tráfico de drogas. O ponto do bairro onde houve o crime reforça a hipótese policial:
— É um bairro em que a gente sabe que existe esse tipo de crime e que é algo recorrente, mas não tínhamos informação recente de confrontos. Tudo indica que é disputa por pontos de tráfico de drogas.
O subchefe da Polícia Civil, Leonel Carivalli, classificou a chacina como algo "pontual" e descartou inicialmente relação entre as mortes.
— Temos linhas de investigação e estamos iniciando agora. Não podemos afirmar que haja relação entre as mortes — salienta Carivalli, em coletiva de imprensa.
As vítimas
Rua Guarapari
Douglas da Costa Orguin, 19 — sem antecedentes policiais
Greice Kelly da Mota Jorge, 28 — com antecedentes por tráfico
Stefânia Carvalho da Silva, 20 — sem antecedentes
Rua Professor de Freitas Cabral
Graziela da Silva Santos — idade não informada
Frank Bruno — idade não informada
Cintia Fogaça dos Santos — idade não informada
Rua Araranguá
Claudio Roberto Gonçalves, 38 anos