Uma reconstituição da cena do assassinato da doméstica Kátia Alves Marques, 37 anos, foi realizada pela Polícia Civil no final da tarde de domingo (6), em um lixão no bairro Anchieta, na zona norte de Porto Alegre. No local, o ex-companheiro da vítima, João Carlos Prestes de Oliveira, 43 anos, que foi preso no sábado (5), em Santa Catarina, confessou e descreveu em detalhes como cometeu o crime.
Cinco policiais civis da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) participaram da reconstituição. Uma das policiais fez o papel da vítima do crime. O preso, algemado em uma das mãos e segurado na outra por uma outra agente, usou um pedaço de galho para simbolizar as facas usadas no ataque à ex-companheira.
Com o relato do homem, não resta dúvidas à delegada Tatiana Bastos de que ele cometeu o crime. Ele disse às policiais que agiu motivado pelo término do relacionamento de 13 anos que mantinha com Kátia e por acreditar que ela estava com outro homem.
— O relato dele é feito com riqueza de detalhes, inclusive descrevendo as palavras da vítima, e muita frieza. Em nenhum momento ele se mostrou arrependido. Foi um crime extremamente brutal — afirma a delegada.
A reconstituição é considerada ponto fundamental no inquérito para confirmar se ele contou com a ajuda de alguma outra pessoa ou se cometeu sozinho o assassinato — como acredita a polícia. Uma faca usada no crime, e que estava escondida no matagal, foi entregue pelo homem à polícia.
Nesta segunda-feira (7), amigas e familiares de Kátia serão ouvidas pela delegada. A polícia pretende indiciá-lo ainda nesta semana por feminicídio com as qualificadoras de meio cruel, emboscada e ocultação de cadáver.
O crime ocorreu no dia 2 de maio, por volta das 20h40min. Naquele dia, o homem marcou com Kátia um encontro em um posto de combustíveis da região para entregá-la o carro do casal. Ela aceitou conversar com ele em um outro local e ele dirigiu até as proximidades do lixão. Além de golpeá-la com uma faca pelo menos 20 vezes, o homem ainda incendiou o corpo e o enterrou no local.
A polícia foi avisada um dia depois, quando foi registrada a ocorrência de desaparecimento da vítima. A localização do corpo foi informada pelo próprio homem a amigos de Kátia por meio de um aplicativo de mensagens.
Quatro feminicídios em 2018
Este é o quarto caso de feminicídio do ano de 2018 em Porto Alegre. Os outros casos ocorreram no dia 27 de março, nas proximidades da Rua Ary Tarragô, na zona norte, e no dia 25 de abril, em um apartamento do bairro Humaitá, onde um homem matou a esposa e a sogra dele a facadas. No primeiro, o autor cometeu suicídio e, na segunda ocorrência, com duas mulheres mortas, o homem foi preso pela polícia.
Feminicídio é uma qualificadora do crime de homicídio que implica em aumento de um terço da pena. A qualificadora é considerada toda vez que o homicídio é cometido contra mulheres em situação de violência doméstica ou por discriminação de gênero.