As cerca de três toneladas de maconha apreendidas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) na BR-386, em Lajeado, no Vale do Taquari, iriam para Novo Hamburgo abastecer uma das maiores organizações criminosas do Rio Grande do Sul. A suspeita de investigadores que conhecem a facção é de que ela seria repartida em porções pequenas e depois abasteceria municípios do próprio Vale do Sinos e da Serra.
A hipótese ganha força a partir do histórico da facção. O grupo possui hegemonia há anos no Vale do Sinos e é um dos com maiores poderes econômicos no Rio Grande do Sul. A facção já esteve envolvida em outros audaciosos planos, como o túnel construído para fuga em massa do Presídio Central de Porto Alegre.
A maior probabilidade, segundo a PRF e policiais do Vale do Sinos, é de que a droga foi comprada no Paraguai — onde é vendida mais barato do que no Rio Grande do Sul. Há investigações recentes que apontam que o quilo no país vizinho é vendido a R$ 300, enquanto na Região Metropolitana chega a R$ 1 mil. O golpe nas finanças do grupo seria de pelo menos R$ 900 mil. Se fracionada, a droga poderia render ainda mais.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), essa é a maior apreensão da corporação no Rio Grande do Sul. Uma outra ação que se assemelha a essa ocorreu em 2011, em um sítio de Viamão, e foi organizada pela Polícia Federal. Na ocasião, 2,7 toneladas foram encontradas.
BR-386 é rota do tráfico
O caminhão com a carga foi parado na madrugada desta sexta-feira por ter características semelhantes com um que vinha sendo monitorado pelos agentes. Uma viatura da PRF com quatro policiais o parou na frente da unidade operacional corporação em Lajeado. O motorista, que não teve o nome revelado, disse inicialmente que não havia carga nenhuma no seu caminhão bitrem, o que levantou a desconfiança dos agentes. Eles revistaram a carroceria e encontraram a droga.
Em conversa com os agentes, o caminhoneiro se disse surpreso por estar carregando droga. O homem de 50 anos, que não tem passagens pela polícia, contou que foi contratado por um ex-empregador para trazer o caminhão do Paraná até Novo Hamburgo, onde seria feito um conserto no caminhão. Ele receberia R$ 10 mil pelo serviço, e foi levado de carona até o Paraná. A localização exata do final da rota ainda é misteriosa. Segundo o motorista, uma pessoa o esperaria na cidade para o levar até o local do suposto conserto.
— Ele vinha com um dos eixos erguido, inclusive, por achar que estava vazio. Acontece muito de a pessoa ser contratada sem ter envolvimento direto com a quadrilha — comenta o chefe da PRF em Lajeado, Paulo Remi da Silva.
A BR-386 é historicamente uma das principais rotas de drogas no Rio Grande do Sul. Conforme o coordenador de comunicação da PRF, Alessandro Castro, a corporação recentemente reforçou a fiscalização no local e rodovias da Serra, aumentando o número de apreensões.
A droga, o preso e o caminhão estão na sede da Polícia Federal em Santa Cruz do Sul. Os agentes ainda não contaram toda a maconha apreendida. A contagem será feita na sede da PF em Porto Alegre, provavelmente na tarde desta sexta-feira (27).
O Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil acompanha os desdobramentos do caso.