GaúchaZH ouviu quatro especialistas que analisaram a redução de 34% nos homicídios na região metropolitana de Porto Alegre. Confira as opiniões:
“Reversão começou a acontecer”
Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, sociólogo, especialista em segurança e coordenador da pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRS
Para o sociólogo Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, os índices representam o início da mudança do quadro na segurança pública no RS que, segundo ele, "chegou ao fundo do poço" em 2016 e teve reflexos em 2017.
— Esse quadro tem a ver com desestruturação das políticas de segurança e polícias, com parcelamento de salários, corte de horas extras, falta de investimentos no setor. Isso acabou tendo grande impacto. Depois, para retomar trajetória mais positiva é demorado. Não é um dado que permita dizer que já houve mudança de situação grave, mas há indicativo de que alguma coisa está se movimentando. A reversão começou a acontecer.
Há, de fato, situação que demonstra que possivelmente tenha havido abrandamento dos conflitos e queda da ação dos grupos criminosos.
RODRIGO GHIRINGHELLI DE AZEVEDO
especialista em segurança
Medidas adotadas pelo governo como solicitar a presença da Força Nacional e, apesar da crise orçamentária, retomar investimentos na segurança, contratando policiais, são apontadas mo fatores que auxiliam:
— Uma série de mecanismos foi criada para dar conta do déficit de pessoal e de estrutura. Os dados acabam indicando que está dando resultado. Se é de longo prazo, não se pode afirmar, seria preciso mais trimestres.
A transferência de 27 líderes de facções para prisões federais também é apontada por Azevedo como fator que pode ter impactado na redução dos índices.
“Precisamos encarar com cautela”
Paulo José Vicente da Silva Filho
Coronel da reserva da PM de São Paulo e ex-secretário nacional de segurança pública
Ex-secretário nacional de Segurança Pública e coronel da reserva da PM de São Paulo, José Vicente da Silva Filho entende que a melhora em curto período "não pode ser comemorada", já que pode ser decorrente de fenômeno ocasional e não de política de segurança:
— É preciso esperar três trimestres para se avaliar um início de tendência. A consolidação demora uns três anos. Precisamos encarar com cautela. O que pode acontecer é que uns grupos estavam matando e se retraíram. Outra possibilidade é que algumas das cidades possam ter tido ação mais eficiente das polícias locais e ter dado impacto.
O policiamento precisa ser reajustado o tempo todo, em função do crime. É como examinar tendências climáticas, vai vendo e tomando medidas em prazo curto.
PAULO JOSÉ VICENTE DA SILVA FILHO
ex-secretário nacional de segurança pública
Em São Paulo, segundo o especialista, foram necessários 10 anos para reduzir de 52 homicídios por 100 mil habitantes para a proporção de 10 mortes por 100 mil pessoas. Somente no ano passado, a capital paulista chegou a 6,1 para cada grupo de 100 mil.
— O principal fator para a redução é a polícia, sim. O trabalho da polícia é essencial. A polícia tem de ser bem estruturada, motivada, com comando e uso de tecnologia. Também é essencial promover integração entre Polícia Civil e Militar — avalia.
Para o coronel, a presença da Força Nacional no RS não está entre os fatores que provocam impacto no resultado. É preciso mais investimento, segundo o oficial. Em SP, a PM recebeu tablets nas viaturas, nos quais é possível acessar fichas criminais.
“Reaparelhar a segurança”
Fernanda Vasconcellos
Socióloga e professora da UFPel
Doutora em Ciências Sociais e professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Fernanda Vasconcellos se diz supresa com a queda nos homicídios na Capital e em 12 cidades. Para ela, a redução nos casos na Capital representa “número expressivo”. Apesar disso, a pesquisadora entende que é preciso ter cautela ao analisar os dados, devido à campanha eleitoral de outubro e ao curto espaço de tempo do levantamento.
— O que a gente percebe é que, em meses antes das eleições, o governo começa a colocar dinheiro em setores sensíveis, como a segurança. Foi o que a gente verificou com a tentativa de reaparelhamento dos órgãos de segurança pública — analisa.
Em meses antes das eleições, o governo começa a colocar dinheiro em setores sensíveis, como a segurança.
FERNANDA VASCONCELLOS
Socióloga e professora da UFPel
Fernanda reforça que, diferentemente de outros crimes, é difícil haver subnotificação nos homicídios, quando não é registrado na polícia.
— Se sabe que, se tem corpo, tem homicídio. Não tem cifra oculta — afirma.
Ao tentar encontrar explicações para a queda a professora observa que a situação pode estar na forma como os crimes estão sendo classificados pela polícia. Por exemplo, casos de encontro de cadáver são informados à imprensa e não entram na contagem. Depois, quando sai o laudo da perícia, é que podem passar a ser homicídios.
“Presença maior da Brigada”
Gustavo Caleffi
Especialista em segurança pública
O especialista em segurança Gustavo Caleffi acredita que o cenário de diminuição dos assassinatos tenha relação com o convocação de novos policiais – aprovados em concurso – e com a distribuição de PMs para as cidades com maior indicadores criminais.
— Temos presença maior da Brigada na Capital e Região Metropolitana, devido ao incremento no efetivo. A Brigada se deslocou para locais conflagrados. Com efetivo maior e ações mais efetivas, mais foram presos, e isso tem relação direta para a redução.
Para ele, o aumento das apreensões de drogas também influencia na redução das mortes, já que muitos assassinatos têm relação com acerto de contas do tráfico.
— Com as operações do Denarc, são retiradas pessoas de circulação e apreendidas grandes quantidades de drogas em curto espaço de tempo.
Sabemos que os homicídios estão ligados ao tráfico. Com operações e prisões, são retiradas pessoas de circulação.
GUSTAVO CALEFFI
Especialista em segurança pública
Caleffi alerta que, caso não haja a manutenção das prisões de criminosos, a situação pode acabar se invertendo:
— Há diferença da ação de polícia e da Justiça. Em curto espaço de tempo se percebe redução. Se não mantiver presos, a tendência é aumentar.