A violência perdeu força nos três primeiros meses do ano. Os homicídios diminuíram em Porto Alegre e outras 12 cidades da Região Metropolitana em relação ao mesmo período do ano passado. É o que mostra levantamento exclusivo da editoria de Segurança de Zero Hora e Diário Gaúcho. A queda mais significativa, em número de vítimas, ocorreu na Capital. Foram 70 casos a menos — de 240 para 170 assassinatos —, redução de 29%.
Especialistas analisam os motivos pelos quais os homicídios caíram (clique e entenda). Outras duas cidades despontam com maior queda. Novo Hamburgo apresentou diminuição de 77% nesse tipo de crime (de 31 para sete casos). Já São Leopoldo teve redução de 67%, com 30 mortes a menos — 45 para 15. Ao se considerar as 19 cidades acompanhadas no levantamento, a queda foi de 34% nas mortes. De 544 para 358 assassinatos.
Para o secretário da Segurança Pública, Cezar Schirmer, a redução está relacionada a ações implementadas pelo governo. Entre elas, está a recomposição do efetivo da Brigada Militar e da Polícia Civil e aquisição de armas, veículos e coletes à prova de balas para o policiamento. O titular da pasta ainda destaca a transferência de 27 detentos para três prisões federais, em julho passado. O secretário classifica os apenados como “chefes do crime organizado”.
— É um conjunto de ações que vem dando resultados. Melhor até do que imaginávamos — diz Schirmer.
Fora essas 13 cidades, outras quatro registraram aumento nas mortes: Eldorado do Sul, Guaíba, Sapucaia do Sul e Viamão. Em número de crimes, o maior acréscimo ocorreu em Eldorado, com quatro homicídios a mais (leia os dados ao lado).
Recém-formados irão para cidades com maiores índices de violência
Na sexta-feira, durante a formatura de 506 soldados, Schirmer salientou que essas cidades que têm aumento da violência vão receber reforço no policiamento.
Conforme a Secretaria da Segurança Pública, a intenção é realocar, em um primeiro momento, os novos soldados da Brigada nos 21 municípios onde há maiores índices de homicídios na proporção da população. O período de estágio operacional será supervisionado e, segundo Schirmer, deve durar de 30 a 60 dias.
Ouvidos por ZH, especialistas dividem opiniões para explicar a situação. Para o sociólogo Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, a queda nos homicídios pode ser reflexo da retomada de investimento na segurança.
— É um indicativo de que alguma coisa está se movimentando — entende o especialista.
Já o coronel da reserva da PM de São Paulo José Vicente da Silva Filho alerta para situação sazonal.
— É preciso esperar três trimestres para se avaliar um início de tendência — afirma.
Em São Leopoldo, a união da BM e da Polícia Civil
Depois de registrar um começo de ano violento em 2017, São Leopoldo teve 30 assassinatos a menos neste ano – redução de 67%. A disputa pelo tráfico de drogas entre facções é apontada pela polícia como um dos principais fatores que levaram à eclosão no número de homicídios no ano passado na cidade.
Para o comandante do 25º Batalhão de Polícia Militar, que atende o município, tenente-coronel Carlos Daniel Schultz Coelho, o combate a outros crimes, como roubos de veículos, roubos a pedestres, violência doméstica e tráfico de drogas, é essencial para impactar nos índices de assassinatos.
— Se o policiamento identifica que em uma comunidade a liderança de tráfico foi presa ou vítima de homicídio e se vê uma movimentação de delitos, passa a atuar naquele local para evitar mais mortes. É preciso ter conhecimento da cidade e dos índices de criminalidade — argumenta o oficial.
Uma das formas empregadas pelo policiamento para tentar reduzir os índices é a intensificação de blitze. Entre dezembro e fevereiro, a BM no município realizou 7 mil abordagens de veículos por mês, com identificação de 9 mil pessoas, em busca de foragidos, armas e drogas. O comandante ainda destaca a integração entre a BM e a Polícia Civil como um fator essencial no combate ao crime. O delegado Vinicius do Valle, titular da especializada em homicídios, concorda com Coelho:
— Chamamos todos os órgãos de segurança para trabalhar conosco. Hoje, além da investigação, prevenção e ações pontuais, o uso das tecnologias também é fundamental.
Entre as iniciativas, o delegado aponta o auxílio de câmeras para identificar suspeitos de crime, além de denúncias por WhatsApp feitas pela comunidade.
— Sentimos aumento na produtividade em relação ao ano passado. Conseguimos prender mais, resolver mais casos, diminuir o número de vítimas. É trabalho de longo prazo — conclui.
"Não existe fórmula mágica", avalia diretor de investigações
A queda acentuada nos assassinatos em Porto Alegre também é justificada por intenso trabalho conjunto da Brigada Militar e da Polícia Civil. A opinião é do diretor de investigações do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Capital, Gabriel Bicca.
— Não existe fórmula mágica. Tivemos incremento de policiais. Além disso, a Brigada teve presença forte em regiões conflagradas, não só reativamente, mas preventivamente, entrando em confronto com pessoas que querem cometer crimes, tirando armamento das ruas. E na Polícia Civil, com investigação de homicídios, tiramos homicidas das ruas. Isso começou a dar resultado.
No ano passado, a especializada recebeu reforço de pelo menos 40 agentes: novos servidores que se formaram na Academia de Polícia ou por meio de movimentação interna entre DPs. Além disso, o departamento recebeu aporte de agentes da Força Nacional, que chegaram a partir de novembro de 2016. Inicialmente, vieram 26 pessoas, número que oscilou com o passar dos meses.
Além das investigações de assassinatos, o delegado destaca ainda o trabalho realizado pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), com a apreensão de drogas e prisão de traficantes.
Tivemos incremento de policiais. Além disso, a Brigada teve presença forte em regiões conflagradas, não só reativamente, mas preventivamente, entrando em confronto com pessoas que querem cometer crimes, tirando armamento das ruas. E na Polícia Civil, com investigação de homicídios, tiramos homicidas das ruas. Isso começou a dar resultado.
GABRIEL BICCA
Diretor de Investigações do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da Capital
— Isso descapitalizou as facções, tirou as facções da zona de conforto.
Para o subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Mário Ikeda, o aumento de efetivo no início do segundo semestre e transferência de presos para penitenciárias federais influenciaram na redução das mortes.
— Os homicídios estão muito ligados à disputa pelo tráfico de drogas, e as lideranças foram retiradas. Com o aumento de efetivo, também aumentamos o policiamento de rotina e a repressão qualificada pela análise de inteligência e pela análise criminal.
O oficial ainda cita ações de policiamento com outros órgãos da segurança como medidas que impactaram na criminalidade. Neste ano, de acordo com Ikeda, durante a Operação Golfinho, quando PMs são transferidos para o Litoral, foram empregados 500 alunos em estágio supervisionado nas maiores cidades do Estado, para ações de visibilidade.
— A grande maioria da população não se sente insegura pelo homicídio porque não está inserida dentro dessas disputas de facções, embora eventualmente se vitime algum inocente. A maioria se vê como possível vítima de latrocínio. Por isso, a percepção de segurança é importante, e é isso que estamos conseguindo aumentar.
* Colaboraram Camila Viegas e Cris Lopes