Os números do crime que mais preocupou a população de Porto Alegre em 2016, provocando, inclusive, a troca do secretário da Segurança Pública do Estado, deram alento às autoridades no primeiro semestre deste ano. De acordo com o levantamento da editoria de Segurança dos jornais Zero Hora e Diário Gaúcho, os casos de latrocínio caíram 35% na Capital, entre janeiro e junho, na comparação com o mesmo período do ano passado. Em 2017 foram 13, contra 20 de 2016.
A queda coincide com a chegada de reforço no policiamento ostensivo vindo do Interior para a Região Metropolitana. No dia 15 de março, 350 policiais militares foram deslocados de Pelotas, Santa Maria e outras cidades para aumentar o efetivo na Grande Porto Alegre. Até então, nove assaltos haviam resultado em morte. Depois disso, foram quatro casos.
Ainda na espera dos indicadores criminais do primeiro semestre da Secretaria da Segurança Pública, o titular da pasta, Cezar Schirmer, avalia como positivas as medidas adotadas.
– A redução dos indicadores de criminalidade em Porto Alegre já é resultado das ações que a secretaria vem desenvolvendo nos últimos meses e vão ao encontro da nossa meta de fazer com que 2017 seja o ano das mudanças na segurança pública do Rio Grande do Sul. Não há milagres e não se muda uma realidade da noite para o dia, mas os números indicam que estamos no caminho certo – afirma.
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O subcomandante da Brigada Militar, coronel Mario Ikeda, destaca ações resultantes do aumento do efetivo na região, como maior visibilidade de policiais nas ruas, que também se tornam fatores decisivos para o combate aos casos de homicídio, roubos e, em consequência, de latrocínios.
– Com a formatura de mais de mil soldados (que começam a atuar na próxima segunda-feira) teremos um reforço ainda maior nas áreas com altos indicadores de criminalidade – projeta.
Por parte da Polícia Civil, a quem cabe a investigação dos crimes e ainda prisão dos envolvidos, 10 dos 13 latrocínios registrados em Porto Alegre este ano foram solucionados ou tiveram suspeitos identificados.
– É reflexo de um conjunto de fatores, não só de nossa parte, com um alto nível de elucidação de casos, o que desestimula a prática do crime, como também da ação preventiva da Brigada Militar – avalia o chefe de Polícia, delegado Emerson Wendt.
Para o especialista em segurança pública Gustavo Caleffi, porém, ainda é prematura qualquer avaliação que relacione a queda nos indicadores criminais ao reforço no policiamento.
– Na minha opinião, ainda é um dado incipiente, embora tenha ocorrido queda nos casos. É preciso um tempo maior para ver se há relação – afirma.
Outro pesquisador do tema, o professor aposentado da UFRGS e sociólogo Juan Fandino, avalia que a redução possa ser reflexo do aumento de efetivo. Porém, para ele, não há garantia de que a medida se mantenha eficaz por muito tempo.
– O problema é que esta questão envolvendo polícia e bandidos é cíclica. Os bandos e as quadrilhas costumam se adequar a mudanças na segurança pública, criando novas modalidades de crimes ou retomando antigas – alerta.
A mesma tendência não é verificada na Região Metropolitana. Nos outros 18 municípios pesquisados no levantamento dos jornais (excetuando-se Porto Alegre), foram 16 casos de latrocínio no período, com aumento de 33% na comparação com 2016, quando ocorreram 12.
Porém, um dado traz esperança: assim como na Capital, o número de roubos com morte nesses locais registrou baixa no segundo trimestre deste ano – quando houve reforço no policiamento – se comparado aos três primeiros meses: foram cinco casos, contra 11 do primeiro trimestre.
Além disso, o ano começou com explosão de violência: em janeiro, Porto Alegre teve 97 assassinatos. Se comparado o primeiro semestre na Capital com sete anos atrás, o aumento foi de 90% nos homicídios.
Alerta na Região Metropolitana
Diferentemente do que ocorreu em Porto Alegre, nos municípios da Região Metropolitana houve aumento nos casos de latrocínio no primeiro semestre. Foram 16, contra 12 do ano passado, o que representa aumento de 33%. Como alento, houve baixa após a chegada de reforço no policiamento. No primeiro trimestre de 2017, o número de roubos com morte disparou. Houve crescimento de 83% nos casos, na comparação com 2016: 11 contra seis. De abril a junho, foram cinco, um a menos do que no mesmo período.
– Recebemos (em março) o reforço de 50 policiais, que se integraram à Operação Avante. Além de termos um número de latrocínios em queda, não houve aumento na criminalidade nas cidades de onde veio esse efetivo – comemora o comandante do policiamento metropolitano, coronel Altemir Lima.
Segundo o oficial, com a Avante, a BM tem a possibilidade de deslocar policiais para locais com maior carência.
– A operação nos permite um acompanhamento real de onde estão acontecendo os fatos e isso nos possibilita um maior gerenciamento – afirma o coronel, que também comemora a previsão de mil novos soldados (leia abaixo).
Lima afirma que o reforço possibilitará maior combate aos casos de homicídio, que seguem em alta na região. No ano passado, no trimestre, foram 429 casos e, em 2017, pelo menos 485.
Capital teve redução de 6% nos homicídios, mas meta é 7,5%
Apesar da continuidade da guerra entre facções criminosas que disputam pontos de venda de drogas, Porto Alegre apresentou queda de 6% no número de homicídios no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2016. São 364 casos, contra 387 do ano passado. O resultado ficou 1,5 ponto percentual abaixo da meta estabelecida no Plano Nacional de Segurança Pública, do qual a capital gaúcha é uma das cidades-piloto.
A Brigada Militar atribui a mudança ao reforço no efetivo, que possibilitou o deslocamento de agentes da Força Nacional de Segurança Pública para áreas periféricas, onde os índices de assassinatos são mais altos.
Já a Polícia Civil, como medidas, aprofundou investigações para isolar dois líderes de facções, ambos presos no Paraguai, de onde comandavam o crime, ordenando homicídios. José Dalvani Nunes Rodrigues, o Minhoca, 34 anos, foi transferido para a Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), e Jackson Peixoto Rodrigues, o Nego Jackson, 32 anos, para a Penitenciária Federal de Catanduvas (PR). Ainda assim, o diretor do Departamento de Homicídios de Porto Alegre, delegado Paulo Grillo, é cauteloso em relação aos motivos da redução do indicador criminal:
– Qualquer opinião que for emitida em relação à queda dos números não terá 110% de segurança. Pode ser o aumento do policiamento ostensivo, das investigações, do trabalho de inteligência, o isolamento de lideranças do crime, tudo pode ter uma parcela no resultado, mas não nos dá a certeza de que tenha sido o fator decisivo.
Para o delegado, a situação necessita de análise mais aprofundada, que poderá contribuir para uma redução ainda maior os índices de violência.
– Vamos nos debruçar sobre os números, as medidas adotadas e tudo o que aconteceu para chegarmos a uma conclusão mais concreta – adianta.
O especialista em segurança pública Gustavo Caleffi é mais otimista.
– Como a maioria dos homicídios tem relação direta com o tráfico de drogas, o isolamento de líderes de facções que costumam ordenar as execuções pode provocar redução nos crimes – registra o especialista.
Na segunda-feira, reforço policial
Nesta quarta-feira, no Parque Luiz Osório, em Tramandaí, no Litoral Norte, formaram-se 157 novos soldados. Conforme o comando da Brigada Militar, hoje e amanhã outros 903 irão se graduar e estar aptos para o policiamento nas ruas a partir da segunda-feira.
A maior parte ficará em Porto Alegre e na Região Metropolitana, mas a BM não divulgou ainda detalhes de quais cidades receberão os PMs.
No entanto, municípios do Vale do Sinos e da Serra, como Caxias do Sul, por exemplo, devem ser contemplados devido aos índices de violência.
Na solenidade de ontem, o comandante-geral da corporação, coronel Andreis Dal'Ago, discursou:
– Vocês chegaram à vitória, ao objetivo traçado. Nossa profissão de policial militar é uma missão.
Com a medida, os 350 brigadianos que vieram do interior do Estado para reforçar a segurança na Grande Porto Alegre retornarão para as cidades de origem até o fim do mês. A BM também garantiu a permanência dos militares da Força Nacional em Porto Alegre. Segundo ele, não há nenhuma previsão de saída dos agentes.