Uma menina que entra e sai dos locais sorrindo. Uma criança que abraça todas as outras mesmo sem conhecê-las. Alguém que cumprimenta todos e gosta de conversar. Esse é o retrato de Naiara Soares Gomes, sete anos, desaparecida desde a última sexta-feira (9), quando ia para a escola Renato João Cesa, em Caxias do Sul, na Serra.
Nay, como é chamada pelos familiares, foi morar com a tia, a dona de casa Maria de Lourdes Gomes, em março de 2015, junto com outros dois irmãos, de nove e 10 anos.
Conforme o Conselho Tutelar de Vacaria, no norte do Estado, os três moraram na Casa Abrigo Divina Providência. A mãe de Naiara, que tem outros cinco filhos, é usuária de drogas e perdeu a guarda da menina em 2014.
— Quando ela e os dois irmãos chegaram aqui, estavam famintos, sujos e maltratados. Pelo que sei, eles viveram até na rua — conta Adriele Gomes, 21 anos, prima de Naiara.
Segundo a tia, o Conselho Tutelar entrou em contato perguntando se poderia ficar com a tutela de um dos menores.
— Na hora em que ligaram, falaram só em um. Mas, quando cheguei lá, tinha três. Então, decidi que, se era para ficar com um, ficava com todos ou nenhum — recorda.
Conforme Maria, Naiara é uma criança alegre.
— Ela era muito pequena quando tudo aconteceu. O único problema dela é conversar com todo mundo e abraçar qualquer criança, mesmo sem conhecer. Ela faz muito isso quando vamos ao mercado — disse Maria.
Tia não teve dinheiro para pagar van para Naiara
No ano passado, Naiara ia de van para a Escola Municipal de Ensino Fundamental Renato João Cesa, onde estuda, mas a tia não teve recursos para pagar o transporte no primeiro mês letivo em 2018.
Por esse motivo, o primo de 15 anos acompanharia a menina até abril, quando Naiara poderia novamente usar o transporte.
— Ela nunca reclamou de nada, saía e chegava sorrindo da escola — afirma Maria.
A família tentou colocar Naiara na Escola Municipal de Ensino Fundamental Basílio Tcacenco, mais próxima da residência e onde os dois irmãos estão matriculados. Porém, a falta de vagas na instituição motivou a família a manter a menina na Renato João Cesa, que fica a cerca de dois quilômetros de onde vive.
A Secretaria Municipal de Educação de Caxias do Sul e a escola municipal em que a menor estuda não quiseram se pronunciar sobre o caso.
— As pessoas julgam muito, acham que a gente não se importa — reclama a tia de Naiara.
Segundo a prima, a família soube do desaparecimento da criança quando o primo retornou da escola afirmando não ter visto a menina. A partir daquele momento, iniciou-se a peregrinação que dura até hoje.
— Não sei mais o que fazer. Procuramos pelas ruas, pelas matas, seguimos pistas que as pessoas dão, mas não encontramos nada — lamenta.
"As pessoas julgam muito"
Enquanto o genro e as filhas da dona de casa saem em busca de Naiara, ela fica cuidando dos netos e dos irmãos de Naiara que moram com ela.
— Tenho problemas de saúde e não posso ficar muito tempo em pé, por isso que não saio. Só durmo à base de medicamentos e fico pensando o dia todo em como ela deve estar — se preocupa.
Ela ainda reclama dos constantes julgamentos pelos quais diz passar.
— Teve o aniversário de um neto e as pessoas já vieram dizer que eu estava festejando e que nem estava preocupada com a Naiara. Mas eu nem participei e era o aniversário de uma criança. As pessoas julgam muito — reclama.
Como ajudar
Quem tiver algum dado que possa colaborar com a ação policial pode informar pelo 190, da Brigada Militar, pelo 197, da Polícia Civil, e pelo (54) 3238-7700, da Central de Polícia (24 horas), ou (54) 3214-2014, da DPCA (em horário comercial).