A Corregedoria da Polícia Civil (Cogepol) recebeu na manhã desta quinta-feira (8) a cópia do segundo inquérito envolvendo o caso das crianças esquartejadas em Novo Hamburgo. A investigação sobre falso testemunho e denunciação caluniosa será feita pelo delegado corregedor Marcos Meirelles. Caberá a ele avaliar a conduta do delegado Moacir Fermino, que disse ter uma revelação divina e que não apresentou provas técnicas para sustentar que as vítimas teriam sido sacrificadas em um suposto ritual satânico.
A Cogepol tem como objetivo saber por que as testemunhas mentiram sobre o suposto ritual de magia negra e por que envolveram pessoas inocentes. Após a reviravolta no caso, os sete suspeitos tiveram a prisão revogada. Os cinco que se encontravam em casas prisionais foram soltos.
- Investigaremos a denunciação caluniosa por completo, testemunhas e também o suposto envolvimento de policiais - ressalta Meirelles.
Nos próximos dias, a Cogepol decidirá quais serão os primeiros procedimentos adotados, entre eles, ouvir o delegado Fermino e as demais testemunhas. São três ao todo e elas teriam sido coagidas e até recebido promessa de dinheiro e de moradia por uma quarta pessoa presa nesta quarta-feira (7).
O inquérito sobre a morte das duas crianças, que voltou à estaca zero, segue com a Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo. O delegado Rogério Baggio, que na manhã desta quinta entregou a cópia do segundo inquérito para Meirelles, disse que agora vai se reunir com a equipe da delegacia para retomar as investigações sobre a morte das duas crianças. Ele ainda terá uma reunião com o Ministério Público sobre o fato.
O chefe de Polícia, delegado Emerson Wendt, em entrevista nesta quinta ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, lamentou todo este episódio e disse que o mesmo servirá de aprendizado para a corporação.
Respeitando a liberdade de crença, Wendt informou que a religião jamais pode influenciar no contexto de uma investigação técnica. Segundo ele, o trabalho da Polícia Civil tem como prioridade o embasamento de provas contundentes para a materialização dos fatos apurados. Por isso, a Cogepol tem a responsabilidade de apurar toda a conduta adotada pelo delegado Fermino. Dependendo da investigação, procedimentos como estes podem levar até ao afastamento de servidores perante o Conselho Superior de Polícia.
A reportagem tentou contato com Fermino, mas não obteve retorno.
Ministério Público
O promotor de Justiça Manoel Prates Gonçalves, de Novo Hamburgo, em entrevista ao programa Gaúcha+, na tarde desta quinta-feira (8), falou sobre a atuação do Ministério Público no caso das crianças esquartejadas. Destacou que na Promotoria de Justiça que trata dos crimes contra a vida naquele município, não há um titular, e os promotores atuam em forma de revezamento.
– Os primeiros pedidos de prisões se deram durante o recesso, eu não estava ali para me manifestar e posteriormente, quando foram feito os pedidos posteriores, já com as provas dos testemunhos, que agora voltaram atrás, com base nesses testemunhos a opinião sempre foi de manutenção destas prisões – disse.
De acordo com ele, a precisão de detalhes apresentada pelas falsas testemunha ludibriou as autoridades do sistema jurídico criminal envolvidas com o caso.
– Nesse caso, nós tínhamos a materialidade inequívoca pelos corpos, os testemunhos eram bastante detalhados, específicos, com dados que batiam com a realidade. O delegado Rogério chegou a mencionar que quem orientou estes testemunhos sabiam bem o que estavam fazendo. Conheciam ao menos parte da vida dos que foram investigados, da ritualística envolvida, porque soube explicar dentro do que realmente se faz, com alguns dados de veracidade que batiam com a realidade e davam veracidade. Nesse sentido, foram testemunhas que davam ao juízo e ao Ministério Público uma confiança de que realmente de que pareciam verídicos.