Preso e condenado a 42 anos de prisão por estupros e extorsões, Róger da Silva Pires, 20 anos, utilizava uma série de artimanhas e ameaças para envolver e atrair adolescentes por meio de redes sociais. A divulgação da forma de atuação do estuprador é um alerta sobre os riscos do uso de aplicativos e sites de relacionamento social.
— É importante divulgar a forma como ele agia porque revela o modo fácil de atrair e atingir as vítimas — ressalta o promotor Júlio Almeida.
Veja, abaixo, como agia o criminoso, de acordo com informações que constam em processos judiciais sobre os cinco estupros.
Vítima 1
A adolescente, de 13 anos, fez amizade com Pires pelo Facebook. Quase simultaneamente, passou a receber de outra pessoa ameaças no WhatsApp de divulgação de fotos suas. Assustada, relatou ao novo amigo, Pires, a situação. Ele disse saber quem estaria fazendo as ameaças e se prontificou a ajudá-la. Ele, então, pediu que ela fosse a um encontro em que o rapaz que fazia as ameaças estaria. Mas apenas Pires a esperava e, fingindo dar apoio e carinho, levou-a para sua casa e manteve relações sexuais. A adolescente era virgem.
Dias depois, nova ameaça em que a pessoa exigia R$ 200 para não divulgar fotos da garota. A vítima mentiu para a mãe que iria num jantar de aniversário e depois dormiria na casa de uma amiga. Fez o saque com o cartão da mãe (que deveria ser usado no jantar) e foi novamente encontrar Pires e o homem que fazia a extorsão. Mais uma vez, o homem não apareceu e Pires a fez passar a noite na casa dele. Mantiveram relações e ele ficou com o dinheiro para supostamente entregar ao autor das ameaças. A mãe da vítima descobriu a mentira sobre o aniversário e acabou conseguindo que a menina contasse o que estava acontecendo. A mãe passou a monitorar as ameaças no telefone da filha e logo percebeu que Pires e o outro homem eram a mesma pessoa. Foi feito registro na Polícia Civil e, por meses, Pires teria perseguido a vítima, ligando para familiares e colegas de escola. Chegou a confrontar a mãe da vítima em um mercado.
Em depoimento, a adolescente disse que ele não foi violento para forçar a relação sexual, mas a lei prevê como estupro a relação com menor de 14 anos, ainda que consentida. Além disso, ficou comprovado que Pires envolveu a vítima num jogo emocional de medo justamente para satisfazer seus desejos sexuais.
Vítima 2
A adolescente, de 12 anos, foi atraída por Pires em conversas em um grupo de WhatsApp que tinha cerca de 70 integrantes. Pires usava o nome e a foto de outro garoto, que era "popular" no grupo. Foi acreditando estar falando com este jovem que a vítima enviou fotos nuas. Ele lhe dizia que era gay e precisava de ajuda para se tornar homem. Depois do envio das imagens, a vítima recebeu contato de pessoa se identificando como Roger, que dizia ser filho de desembargador e ter pego suas fotos no celular do outro garoto para divulgar na internet. Com isso, Pires atraiu a vítima para um encontro e propôs sexo para apagar as imagens. A vítima, então virgem, tentou resistir. Pires ponderou que tudo bem, mas que, quando ela voltasse para casa, a polícia, a mando do desembargador, estaria lá. A vítima foi obrigada a ter relações e, depois, Pires seguiu com as ameaças e exigindo novo encontro. Dizia que os pais dela perderiam o emprego e a casa.
Desesperada, a adolescente contou tudo a uma professora, que chamou a família. O caso foi levado à polícia. Depois de Pires ser preso, a polícia encontrou as fotos e os diálogos no celular dele. Também havia mensagens endereçadas à vítima no celular de uma colega de escola, de 11 anos, que havia emprestado o aparelho à garota. À polícia, a vítima contou que enviou as fotos por se tratar de "namoro pelo Whats" e porque o interlocutor dizia coisas românticas. Ela fez acompanhamento psicológico e declarou ter medo e vergonha.
Vítima 3
A adolescente, de 12 anos, conheceu Pires durante almoço com amigos em um shopping. Passaram a conversar por WhatsApp e logo Pires começou a falar de sexo e enviou uma foto do pênis. Identificou-se como "instrutor de sexo" e pedia para encontrá-la e ter relações. Ela negou.
Ele se fez passar por uma jovem que seria também vítima dele e enviou mensagem dizendo que cometeria suicídio por causa das pressões que estava sofrendo. Diante das ameaças do agressor, a vítima de 12 anos enviou fotos nua, mas se negou a encontrá-lo. Pires passou a dizer que era de uma facção que atua na Capital e escreveu: "Os guris viram teus nudes já, ô vagabunda. Bombando. E só esperando te pegar vagando para te apagar. Falaram que tu é muito feia. Vai morrer, vagabunda. Sei onde tu mora. Na noite vamos passar aí. Vou mandar te apagar, tu e tua família, mas agora odeio que me bloqueie (no Whats). Cuida no colégio, na saída e na saída de casa. Não é guri, é só nego véio, vai tomar e nem vai saber de onde veio. Já dá adeus aos teus pais, vão te apagar".
Apavorada, a menina contou aos pais.
Vítima 4
A adolescente, de 15 anos, conheceu Pires durante o Carnaval, em um bar na Cidade Baixa. Trocaram contatos e se falavam pelo WhatsApp e pelo Facebook. Ele dizia ser professor de tênis e que tinha muitos celulares que ganhava de patrocinadores. Chegou a dar um para ela. Segundo a vítima, Pires insistia em ter relações, mas ela, por recém ter terminado um namoro, não queria. Pires passou a fazer ameaças e, ao saber que ela estava namorando, afirmou que mataria o rapaz.
Também fez ameaças por telefone, fazendo-se passar por outra pessoa. Convenceu a vítima a encontrá-lo pessoalmente e a convidou para ir a um shopping. Disse que havia outras pessoas vigiando e que, se ela não embarcasse em um ônibus, seria morta. Levou-a para sua casa, na Vila Jardim, onde cometeu o estupro sob ameaça de morte. Sem revelar o estupro, a jovem disse à mãe que estava sendo ameaçada e as duas foram à polícia. Mesmo depois do registro, Pires seguiu enviando ameaças e disse que divulgaria fotos da vítima na internet. Foi então que a mãe soube do estupro e da possibilidade de a filha ter sido fotografada.
Vítima 5
A adolescente, de 13 anos, conheceu Pires no Parque Germânia. Ele lhe deu bebida alcóolica, fazendo-a passar mal. Levou-a para casa e a estuprou. Depois, seguiu fazendo ameaças, dizendo ter fotos e filme da relação sexual para divulgar na internet. Foram cerca de três meses de ameaças, durante os quais ela foi obrigada a encontrar-se outras vezes com ele para manter relações. Ele usava perfis falsos, identificava-se ora como sendo o pai dele, que seria desembargador, ora como um oficial de Justiça. Tudo visando pressioná-la para encontrá-lo. Um dia, ao receber mais uma ameaça, não suportou e contou ao ex-namorado, que a orientou a procurar a polícia. A vítima se mudou para outro Estado.
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Contraponto
O que disse, por meio de nota, a Defensoria Pública, que atuou nos processos de Róger da Silva Pires:
"Os processos tramitaram em segredo de Justiça e a defesa não fará manifestação. A função da defesa no processo criminal é garantir o cumprimento e a fiel observância da lei e da Constituição."