A violência está provocando o fechamento de agências bancárias no interior do Rio Grande do Sul. O reflexo já foi sentido em cidades dos vales do Rio Pardo e do Taquari, que tiveram unidades assaltadas com uso de explosivos e escudo humano, e outra no Vale do Sinos, em 2017. Agências do Banco do Brasil de Progresso e Boqueirão do Leão, distantes 18 quilômetros uma da outra, não contam mais com atendimento especializado — feito pessoalmente — e os moradores precisam se dirigir a Lajeado ou Barros Cassal.
O assalto em Progresso, cidade de 6 mil habitantes, ocorreu nas unidades do Banco do Brasil e do Banrisul. A agência do banco gaúcho, conforme o prefeito Gilberto Gaspar Costantin (PDT), reabriu cerca de um mês após o ataque de criminosos, mas o BB não retomou as atividades, tendo anúncio do seu fechamento feito em novembro de 2017. Em 8 de julho do mesmo ano, um Sicredi foi atacado também com explosivos, reabrindo 30 dias após o assalto, conforme o prefeito.
— Desde o sinistro no Banco do Brasil, temos procurado deputados em Brasília, além do governo federal e a direção do banco. Eles dizem que 485 agências foram fechadas, mas este é o Banco do Brasil, deveria ser público, deveria se preocupar com o social. Fizemos até manifestação, mas não adiantou — reclama Costantin.
O mesmo tipo de ataque foi empregado em Boqueirão do Leão, em 21 de abril passado. O prefeito Paulo Joel Ferreira (PMDB) informou que, desde então, o Banco do Brasil não abriu mais e teve o anúncio oficial de fechamento em novembro, assim como em Progresso.
— Fomos a Brasília, tivemos audiência com a Secretaria da Fazenda e com a direção do banco. Eles falam em reestruturação, mas também falam da insegurança nas cidades — detalha Ferreira.
Dona de um minimercado em Boqueirão do Leão, Fátima Maria Borsato não aceita cheques que devem ser trocados no BB. Isso porque são necessárias pelo menos três horas entre a ida a Barros Cassal, o atendimento e o retorno para casa.
— As pessoas têm reclamado bastante por aqui e assim como eu, muita gente não está mais trocando cheques da agência que não temos mais. É um transtorno para todos — relata.
Segundo a moradora de 54 anos, nunca havia acontecido algo semelhante nos 15 anos em que mantém comércio na cidade.
— Tem algumas coisas que dá para fazer na lotérica. Mesmo assim, algum funcionário deveria ter nos avisado. E ninguém falou com nenhum correntista — reclama.
O BB, por meio da assessoria, explica que agências tiveram suas estruturas comprometidas em razão das ações criminosas, inclusive as que estavam em fase final de obras para recomposição em diferentes partes do país. Em alguns casos, agências e postos são autorizados a manter apenas o atendimento do ambiente negocial (sem possibilidade de transações bancárias), após avaliação dos setores de segurança e engenharia.
As pessoas têm reclamado bastante por aqui e assim como eu, muita gente não está mais trocando cheques da agência (do Banco do Brasil) que não temos mais. É um transtorno para todos.
FÁTIMA MARIA BORSATO
Comerciante, moradora de Boqueirão do Leão
Nos casos de Boqueirão do Leão e Progresso, as agências passaram por análise técnica que considera aspectos relacionados à segurança de clientes, colaboradores, além patrimonial, de ordens estratégica e financeira. Após avaliação, o BB decidiu pelo fechamento das duas unidades. Até a recuperação da unidade de Butiá, danificada no último dia 6, a assessoria informou que os clientes poderão fazer transações bancárias pelo aplicativo, por meio de caixas 24 horas, lotéricas e em agências dos Correios.
2018 já tem três casos
Levantamento da Rádio Gaúcha feito desde 2010, quando este tipo de crime começou a ser praticado, mostra que 2017 foi o ano com maior número de roubo a bancos no Rio Grande do Sul, com ao menos 62 casos. Os dados mostram que 2018 já supera 2017 nos assaltos a agências com uso de explosivos. Enquanto em 7 de janeiro de 2017 uma agência bancária foi alvo de ladrões em Mato Castelhano, este ano contabiliza ao menos três crimes desse tipo, sendo dois em Butiá, no dia 6 de janeiro e um em Mariana Pimentel, dia 9.
Caixa estuda terminar atividades em Nova Hartz
Os 18 mil moradores de Nova Hartz, no Vale do Sinos, vivem com a incerteza do fechamento da Caixa Econômica Federal, assaltada em 22 de janeiro de 2017 com explosivos. Circula na cidade a informação de que as atividades serão encerradas em fevereiro.
O prefeito Flávio Emílio Jost (PP) fez desabafo nas suas redes sociais comunicando aos moradores o fechamento da agência e informando que juntamente com a Câmara de Vereadores irá analisar alternativas para evitar a perda de outras. A assessoria da CEF não confirma o fechamento, mas informa que há reestruturação em curso no país.
Muitos bancos argumentam problemas financeiros, mas os bancos públicos deveriam se preocupar com o social, com desenvolvimento dos municípios. Com lucro, instituições privadas já se preocupam.
EVERTON GIMENEZ
Presidente do Sindibancários de Porto Alegre e Região
O presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancarios), Everton Gimenez, é contrário aos planos de reestruturação dos bancos públicos, pois na visão dele, tratam-se de instituições públicas, que não deveriam comportar-se como empresas privadas.
— Muitos bancos argumentam problemas financeiros, mas os bancos públicos deveriam se preocupar com o social, com o desenvolvimento dos municípios. Com o lucro, as instituições privadas já se preocupam — protesta.
Segundo Gimenez, há 96 cidades no Rio Grande do Sul que só possuem a agência do Banrisul.
— É bastante perigoso para um comerciante, por exemplo, ter de se preocupar em sair da sua cidade e ter de se deslocar por quilômetros para fazer depósitos, correndo o risco de ser assaltado no caminho — preocupa-se.
Em relação à violência dos ataques aos bancos, Gimenez acredita que é preocupação que o Estado deve ter, visto que o efetivo de policiamento no Interior é defasado.
— Os bancos podem, sim, usar como argumento o aumento da insegurança para fechar agências — diz ele.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informa que as instituições bancárias tem cooperado com as autoridades, ampliando seus investimentos em segurança. A nova realidade é que os bancos têm investido em tecnologias para que os clientes façam operações financeiras de forma digital, o que reduz a necessidade de grandes quantias nas agências bancárias.
Em relação às explosões de caixas eletrônicos, a Febraban destaca que vem acompanhando os ataques a caixas eletrônicos com extrema preocupação e entende que o combate desse tipo de crime exige um conjunto de ações investigativas no âmbito da segurança pública, com as quais o setor está comprometido em dar sua contribuição.