O Departamento de Homicídios da Polícia Civil indiciou os dois policiais militares que mataram, em agosto deste ano, dois homens que retornavam de uma festa na zona norte de Porto Alegre. Os soldados Samuel Curtinaz de Freitas e Ricardo Pedroso de Almeida foram indiciados por duplo homicídio doloso qualificado, com recurso que dificultou a defesa das vítimas.
O crime ocorreu no dia 18 de agosto, na Avenida Sertório. Os amigos Juliano Andrade Ferreira e Cristiano Severo Lima, ambos de 40 anos e sem antecedentes criminais graves, voltavam para casa em um Golf quando foram mortos. Os PMs – que estavam em um Toyota Corolla blindado – contaram que também saíam de uma festa quando as vítimas se aproximaram, de carro, e anunciaram um roubo. Por isso, os policiais teriam reagido.
No entanto, a investigação da 2ª Delegacia de Homicídios não conseguiu confirmar essa versão. A delegada Roberta Bertoldo garante que nenhuma prova mostra as vítimas anunciando o suposto assalto aos PMs à paisana.
— Imagens de câmeras de segurança e análises de laudos periciais nos levam a crer que (o caso) não ocorreu da forma que foi inicialmente informada pelos policiais militares, de que houve uma reação a uma tentativa de roubo — diz a delegada.
Laudos periciais confirmam 26 perfurações no carro das vítimas. Já o veículo dos soldados tinha marcas de três impactos. Outro laudo alerta para o grande número de disparos que atingiu as vítimas. Lima levou cinco tiros, sendo quatro pelas costas. Juliano também foi atingido por cinco, todos pela frente.
Além disso, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) também elaborou um laudo residuográfico para confirmar se havia indicativos de que algum tiro tivesse partido das duas vítimas. Os peritos não encontraram nenhum indício de que os amigos tenham usado armas. Sequer há certeza de que as armas apresentadas pelos PMs na Polícia Civil eram das vítimas.
Não houve perícia no local do crime. Em aproximadamente uma hora após as mortes, os dois veículos já haviam sido recolhidos por guinchos. Uma fonte de GaúchaZH confirmou, à época, que os amigos baleados foram levados para o Hospital Cristo Redentor (HCR) no porta-malas de viaturas. Eles já chegaram mortos na instituição.
Também há incerteza sobre onde os policiais estavam antes do tiroteio. Eles alegaram aos investigadores que haviam saído de uma boate, que não seria a mesma onde as vítimas estavam. No entanto, outras testemunhas apontam que todos estavam no mesmo local, uma boate na Avenida Voluntários da Pátria. Agentes tentaram recolher imagens do estabelecimento, mas foram informados que as câmeras só começaram a gravar no dia seguinte ao crime.
Apesar do indiciamento, a delegada decidiu não pedir a prisão dos policiais. Segundo ela, o perfil deles durante a investigação não condiz com a necessidade de reclusão.
— A prisão preventiva de alguém que seja indiciado ou suspeito de um fato criminoso decorre de requisitos que constam no código penal. Não visualizei nesse momento nenhuma das hipóteses que autorizariam que fizéssemos a representação da prisão preventiva de ambos os indiciados — afirma Roberta Bertoldo.
O caso foi remetido à Justiça na terça-feira (5). O Ministério Público deve se manifestar nos próximos dias.
O comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar, major Douglas Soares, diz que a manifestação da corporação sobre o caso é o próprio Inquérito Policial Militar (IPM), que foi concluído no dia 29 de setembro deste ano, com o indiciamento dos soldados por homicídio. O oficial diz, também, que os soldados seguem normalmente em suas funções no batalhão.
A reportagem de GaúchaZH tenta contato com os advogados dos PMs, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.