Um ex-participante da Operação Condor (colaboração entre as ditaduras militares sul-americanas) foi preso na tarde desta sexta-feira (3) em Porto Alegre. O uruguaio Mário Ronald Neira Barreiro, ex-agente dos serviços de informação da ditadura militar do Uruguai, foi detido pela Polícia Federal num estacionamento no Centro, onde trabalhava clandestinamente.
Ele estava foragido da Justiça. Tem pendente um mandado de extradição emitido pelo Supremo Tribunal Federal. O STF negou a Neira o asilo e decretou sua extradição, mas ela ainda não ocorreu porque o uruguaio tem contas a acertar com a Justiça brasileira. Há pouco cumpriu pena por assaltos.
Antes de ser condenado por crimes comuns no Brasil, o uruguaio se notabilizou por ter assumido que espionou o ex-presidente brasileiro João Goulart, o Jango, deposto por militares em 1964 e exilado na Argentina. O agente uruguaio e colegas de espionagem tinham a missão de seguir Jango onde ele fosse (Uruguai ou Argentina).
Neira ganhou notoriedade ao garantir - em entrevistas a vários jornais, inclusive Zero Hora - que Jango foi assassinado, envenenado de forma a simular um ataque cardíaco. O veneno teria sido misturado a pílulas que o ex-presidente tomava para evitar um infarto.
Após a redemocratização, Neira fugiu para o Brasil, temeroso de ser punido por crimes praticados em favor dos militares de seu país. Aqui foi preso pela primeira vez em 1999. Portava radio-comunicadores, coletes à prova de bala e foi condenado por formação de quadrilha e roubo. Ainda preso, pediu no começo dos anos 2000 asilo ao governo brasileiro, sob alegação de ser perseguido político no Uruguai. Lá ele está condenado por crimes comuns, como assalto a uma financeira.
A última prisão de Neira aconteceu em 2015, com identidade falsa.