Restos de João Goulart são exumados em São Borja. Foto: Diego Vara
Tensão em São Borja: por que a exumação de Jango levou 19 horas
Um participante assumido da Operação Condor (colaboração entre as ditaduras militares sul-americanas) foi preso na tarde desta terça-feira em Porto Alegre.
O uruguaio Mário Ronald Neira Barreiro, ex-agente dos serviços de informação da ditadura militar do Uruguai, foi preso em flagrante por agentes da P2 (serviço de inteligência da BM) na vila Lupicínio Rodrigues (bairro Menino Deus), portando documentos falsos. Junto com ele estava um ex-PM, apenado que usava tornozeleira eletrônica e portava identidade fraudada de policial federal.
Neira estava foragido da Justiça, por ter escapado da prisão em regime semiaberto. Cumpria pena por assaltos.
No Facebook, antes de ser preso, Neira dizia a amigos estar vivendo em Buenos Aires. Ele diz ser trabalhador da construção civil em Gravataí.
Antes de ser condenado por crimes comuns no Brasil, o uruguaio se notabilizou por ter assumido que espionou o ex-presidente brasileiro João Goulart, o Jango, deposto por militares em 1964 e exilado na Argentina. O agente uruguaio e colegas de espionagem tinham a missão de seguir Jango onde ele fosse (Uruguai ou Argentina).
Neira ganhou notoriedade ao garantir - em entrevistas a vários jornais, inclusive Zero Hora - que Jango foi assassinado, envenenado de forma a simular um ataque cardíaco. O veneno teria sido misturado a pílulas que o ex-presidente tomava para evitar um infarto.
Após a redemocratização, Neira fugiu para o Brasil, temeroso de ser punido por crimes praticados em favor dos militares de seu país. Aqui foi preso pela primeira vez em 1999. Portava radio-comunicadores, coletes à prova de bala e foi condenado por formação de quadrilha e roubo. Ainda preso, pediu no começo dos anos 2000 asilo ao governo brasileiro, sob alegação de ser perseguido político no Uruguai. Lá ele está condenado por crimes comuns, como assalto a uma financeira. O Supremo Tribunal Federal negou a ele o asilo e decretou sua extradição, mas ela ainda não ocorreu porque Neira tem contas a acertar com a Justiça brasileira.