Em quase 20 anos como jornalista, já vi policiais militares suspeitos de extorquir bicheiros, proteger traficantes e ficar com dinheiro de assaltantes de banco. Já escrevi sobre policiais que viraram de lado: deixaram de comandar patrulhas para liderar quadrilhas.
Mas nunca tinha deparado com um oficial suspeito de meter a mão no dinheiro destinado a escolas e à prevenção às drogas, como o capitão Heraldo Leandro dos Santos, comandante da BM em Tramandaí. Talvez seja por isso que a história revelada nesta quarta-feira (14) pelo repórter Eduardo Torres é uma das mais lidas em GaúchaZH.
Comandante da BM em Tramandaí, Heraldo teria desviado recursos de escolas públicas e embolsado grana que seria empregada na compra de bandeiras do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd). No total, R$ 10,6 mil teriam sido desviados pelo PM.
O oficial foi denunciado à Justiça Militar pelo Ministério Público, na última quarta-feira (8), conforme revelou o repórter Eduardo Torres. Capitão Heraldo vai responder por três crimes: peculato (corrupção cometida por funcionário público), estelionato e furto.
Conforme a denúncia apurada em uma investigação da própria Brigada Militar, antes do início da Operação Golfinho de 2016, o oficial teria acordado com as escolas Manoel Mendes, de Imbé, e São Francisco, de Tramandaí, que elas abrigariam policiais militares durante o verão, sendo que cada PM pagaria R$ 50 mensais pela estadia. O dinheiro seria entregue às diretorias para eventuais reparos na estrutura após o período da operação. O inquérito comprovou que os policiais pagaram, mas o dinheiro — R$ 3,5 mil a cada uma da instituições — não foi entregue em março do ano passado. No caso da escola São Francisco, o capitão teria feito o pagamento somente em setembro de 2016. Algo que, segundo a conclusão da investigação, não descaracterizaria o crime de peculato.
Heraldo terá oportunidade de se defender na Justiça, mas o estrago — para ele e, sobretudo, para a corporação — está feito. O policial poderá alegar qualquer coisa durante o processo para justificar os desvios de dinheiro, só não poderá dizer que recebe salário baixo. Segundo o aplicativo Pilas RS, do governo do Estado, com dados atualizados em outubro, o comandante recebe remuneração bruta de R$ 19.667,91.