A chacina que vitimou quatro pessoas de uma mesma família em Gravataí é mais uma prova de que se foi o tempo em que as guerras entre bandidos atingiam apenas os envolvidos com a criminalidade.
O próprio secretário da Segurança Pública, Cezar Schirmer, em entrevista à colega Débora Ely, na semana passada, chegou a afirmar que "quem está se matando, infelizmente, são os traficantes".
Porém, basta abrirmos os jornais nas páginas destinadas aos assuntos de segurança para constatarmos que a declaração do secretário está mais do que defasada.
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É importante frisar que já faz tempo, também, que as balas perdidas perderam a exclusividade como causa das mortes de inocentes, em meio ao fogo cruzado das disputas entre facções criminosas.
É bem verdade que tivemos um caso deste tipo, na madrugada deste domingo, na Praia do Magistério, onde uma adolescente de apenas 14 anos, no sétimo mês de gravidez, morreu ao ser atingida por um tiro, durante uma disputa entre traficantes que ela não conhecia.
Na quinta-feira passada, em Porto Alegre, morreu o porteiro José Luís Oliveira Ferreira, 56 anos, vítima também de bala perdida, em um tiroteio no Centro, no dia 5 deste mês.
Mas, voltando à chacina de Gravataí, cinco das sete pessoas baleadas – das quais quatro morreram –, nada tinham a ver com a criminalidade. E foram vítimas de atiradores que, na busca por seus alvos, dispararam contra quem viram frente, sem poupar sequer um menino que na próxima sexta-feira completaria sete anos.
E são muitos outros casos a engrossar essa triste e preocupante estatística. Há o do empresário executado no estacionamento de um supermercado, ao ter o seu carro confundido com o de um traficante.
Também o da idosa na Vila dos Sargentos, de uma adolescente e um homem no Jardim Carvalho, de um comerciante e um pintor no Bairro Bom Jesus, e o do servente de obras na Vila Cruzeiro, todos mortos em ataques a esmo realizados por bandos armados.
Isso tudo, sem contar as vítimas de latrocínio (roubo com morte), crime cada vez mais associado direta ou indiretamente ao tráfico de drogas.
Portanto, mesmo aqueles que não têm qualquer contato com o mundo das drogas estão sujeitos a serem mortos nessa guerra que há muito fugiu do controle das agências de segurança pública e parece longe de acabar.