Com objetivo de desafogar os presídios brasileiros, as audiências de custódia têm convertido a maioria dos flagrantes em prisão preventiva, em vez de conceder liberdade. Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam que em 18 das 27 unidades federativas do Brasil os juízes decidem prender mais do que soltar. No topo da lista, o Rio Grande do Sul é o Estado que mais prende em audiência de custódia, segundo o estudo, com 84,88% dos flagrantes convertidos em preventivas.
Sob a chancela do CNJ, as audiências de custódia começaram em São Paulo, em fevereiro de 2015, e depois se espalharam por todos os Estados, além do Distrito Federal. O programa torna obrigatória a apresentação em até 24 horas de uma pessoa detida em flagrante a um juiz, para decidir se mantém a prisão ou se o suspeito pode responder em liberdade.
Leia mais
Forças Armadas poderão atuar em presídios por 12 meses
Schirmer não vê necessidade das Forças Armadas nos presídios do RS
Sartori avalia pedir ajuda militar para presídios do RS
Foram realizadas 174.242 audiências de custódia no Brasil até dezembro de 2016, segundo o CNJ. Em 93.734 dos casos, ou 53,8%, o suspeito foi encaminhado para uma unidade prisional, após o flagrante ser convertido em prisão preventiva. A análise Estado por Estado aponta que, em 2/3 das unidades federativas, o encarceramento supera o número de solturas.
Depois do Rio Grande do Sul, os Estados que mais convertem flagrantes em prisões preventivas são Pernambuco, Sergipe, Rondônia e Rio. Na outra ponta, está Alagoas, com 21,2% de prisões, mas só 99 audiências.
Para o advogado Marcos Fuchs, da ONG Conectas, que atua em audiências de custódia, os índice sinalizam um Judiciário "rigoroso".
– Já vi juiz aplicar fiança de um salário para homem que furtou uma torneira. Se não tem dinheiro para comprar torneira, como vai pagar a fiança? – diz. – Aí, é mais um que vai para o Centro de Detenção Provisória, forma essa massa de encarcerados e vai cair nas mãos de facções criminosas.
Em nota, o CNJ diz que as audiências "têm mantido detidos presos por crimes graves" e adotado "outras medidas para casos de menor gravidade e de réus primários". O órgão destaca, ainda, que os Estados fazem economia "na casa dos milhões", ao evitar prisões desnecessárias e diminuir a quantidade de presos provisórios.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.