O ritual de contar história, tocar música no violão e rezar ao pé da cama todas as noites antes de dormir da família Silva foi interrompido na noite de Réveillon, quando o pequeno Arthur Rosa Pospichil da Silva, cinco anos, foi ferido por uma bala perdida, no bairro Parque dos Anjos, em Gravataí.
O tiro, que veio do alto, o atingiu no meio do crânio e se alojou na têmpora. Desde então, o pai Oséias Pospichil da Silva, 32, e a mãe Micheli Rosa da Silva, 27, se revezam em um quarto de UTI, no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, onde a criança está internada.
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Uma campanha de doação de sangue está circulando pelas redes sociais. O tipo sanguíneo dele (AB+) recebe doação de todos os tipos. Arthur é tão apegado aos pais que, mesmo em coma induzido, sofre alteração na pressão arterial toda vez que ouve a voz de um deles. Por isso, o casal precisa fazer mais o sacrifício de acompanhar o filho em completo silêncio.
– A pior parte é quando entro no hospital. Acostumado a ver ele correndo e falante, encontro ele daquele jeito. Tenho vontade de pegar no colo, abraçar e beijar, mas não posso. É terrível. Tento passar força para a minha esposa, mas não estou mais aguentando a dor. Preferia mil vezes que (o tiro) fosse em mim e não nele – lamentou Oséias.
Filho único do jovem casal, Arthur já é guerreiro antes mesmo de nascer. A mãe teve dificuldade para engravidar e passou por gestação de risco. Os médicos não acreditavam que o bebê passaria dos três meses de gestação. Ele chegou aos nove, nasceu com os batimentos cardíacos fracos e precisou ser reanimado. O primeiro choro demorou, mas saiu.
Arthur não só vingou como se transformou num menino cheio de vida. Adora tomar chimarrão e comer pipoca. Desde os quatro anos, ensaia os primeiros ritmos na bateria. O instrumento também tem ajudado Oséias com a renda familiar, pois conseguiu aulas na igreja onde frequenta. Desempregado, o casal conta com a ajuda de familiares e amigos para bancar as viagens diárias até o hospital.
– A gente faz um apelo para quem ouviu alguma coisa naquela noite procurar a polícia. Não precisa se identificar. Espero também que a pessoa (que deu o tiro) se sensibilize e nunca mais faça isso. Não há necessidade de atirar para cima – clamou o pai.
Réveillon
"Preferia mil vezes que o tiro fosse em mim", diz pai de criança ferida por bala perdida em Gravataí
Pais de Arthur, cinco anos, se revezam em quarto de UTI, onde ele está internado. Campanha de doação de sangue é compartilhada pela internet
Schirlei Alves
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