Um dos negociadores do acordo que acabou com a liberação de dez reféns durante uma rebelião de apenados no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, o juiz da Vara de Execuções Penais do Amazonas Luís Carlos Valois atribui o conflito à guerra entre facções no Estado. Mesmo com a superlotação da casa prisional, o magistrado afirma que não havia a suspeita de que poderia ocorrer a chacina. Em entrevista ao programa Gaúcha Repórter, Valois avaliou que seria difícil evitar o conflito que acabou com 56 detentos mortos.
– Quando (os presos) querem, fazem (rebelião) – frisou. – O sistema penitenciário do Brasil todo vive na ilegalidade. Não adianta tentar arrumar solução dentro da ilegalidade. Temos que começar a cumprir a lei de execução penal.
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O juiz da Vara de Execuções Penais afirma que, nos últimos anos, houve um empoderamento de facções criminais – processo intensificado pela divulgação dos nomes das organizações criminosas, na avaliação de Valois.
– Nas rebeliões, antigamente, morriam dois, três, quatro lá, mas não 50 – diz o juiz, que afirma estar chocado com o fato.
No domingo, o juiz foi chamado pelo secretário de Segurança Pública do Amazonas, delegado Sérgio Fontes, para ir ao Complexo Anísio Jobim e negociar a libertação de funcionários mantidos reféns pelos presos. Luís Carlos Valois disse que os detentos "praticamente não queriam nada". Entre as exigências para negociar a soltura das vítimas, estava a manutenção de visitas e banho de sol.
– Ficou parecendo, para a polícia e para mim também, que aquelas reivindicações eram para disfarçar, como se a rebelião tivesse sido feita especificamente para matar pessoas – afirma, reforçando a suspeita de que o conflito tenha ocorrido como acerto de contas entre facções.
Após a chegada de Valois ao presídio, já com as negociação em andamento, não houve novas mortes de presos. Os reféns acabaram liberados.