O clima de consternação tomou conta do ambiente de trabalho da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), nesta quinta-feira, depois da confirmação da morte do agente de trânsito Carlos Henrique Severo, 39 anos. Ele foi baleado por assaltantes em uma loja na Avenida Assis Brasil, em Porto Alegre. Severo chegou a ser socorrido por policiais militares, que o levaram em uma viatura para o Hospital Cristo Redentor, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no local. Em 2000, como militar do Exército, participou de Missão de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Timor-Leste.
Severo, como era conhecido, atuava havia 11 anos como agente de trânsito. Passou em um concurso público da EPTC em 2004 e, no ano seguinte, assumiu a função. Trabalhava no Comando de Operações Especiais (COE), onde exercia atividades de batedor e na Balada Segura. Seu histórico profissional era impecável, garantem colegas.
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– Era um cara bem característico pelo operacional. Estava sempre à disposição. Um colega muito simpático e gente boa. Todos na EPTC estão muito comovidos – relata Lucas Barroso, assessor de imprensa do órgão.
Severo estava de folga do trabalho nesta quinta-feira. A principal hipótese é de que ele estaria trabalhando como segurança em uma loja na Assis Brasil. Na sexta-feira da semana passada, foi ele quem acionou a Brigada Militar para atender um assalto no mesmo estabelecimento. Naquele dia, o desfecho foi outro, lembra o major Douglas Soares, do 11° Batalhão de Polícia Militar, que faz o policiamento ostensivo na Zona Norte.
– Por casualidade, foi a minha equipe que se deslocou até a loja. Prendemos dois assaltantes e recuperamos todo o material roubado. O solicitante da ocorrência foi o rapaz que morreu hoje, o Severo. Ele que ligou para o 190. Se não me engano, recuperamos uma arma com os bandidos que era do próprio Severo. E hoje (quinta) colegas encontraram ele baleado em uma rua atrás da loja e o levaram para o Cristo Redentor – detalha o major.
Além da condição oficial de agente de trânsito da EPTC, Severo também foi militar. Serviu na Polícia do Exército, no 3° BPE, em Porto Alegre. Em 2000, participou da missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Timor-Leste. Durante o período, fez a segurança da família de José Ramos-Horta, ex-presidente do país, Nobel da Paz em 1996.
Quando Ramos-Hora veio ao Brasil, em 2013, para o Fronteiras do Pensamento, Severo lhe entregou uma medalha do Instituto Boina Azul, entidade que ajudou a criar, junto com seu colega de Exército André Cunha, que também serviu na missão timorense. A entidade reúne militares que participaram de missões de paz da ONU em diferentes países.
– Criamos o instituto juntos para não deixar essa história acabar. Fomos colegas de PE e participamos da missão no Timor. Ele era um cara muito participativo. Recebemos essa notícia da morte dele com muita tristeza. O Severo era um homem de coração grande, sempre pronto para servir e ajudar o próximo. Uma pessoa fantástica – lamenta Cunha.
Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde de Porto Alegre escreveu: "Carlos Henrique Severo, agente da EPTC, sempre foi um grande parceiro das nossas equipes do Samu. Não mediu esforços para a chegada das ambulâncias até as emergências dos nossos hospitais. Ajudou a salvar muitas vidas com sua dedicação e parceria. Lamentamos profundamente a perda desse grande servidor público.".
Nas redes sociais da EPTC, diversos colegas e amigos lamentaram a perda. "Meu amigo, irmão, colega de quartel e EPTC... profissional exemplar, ser humano como poucos. Tombou para a criminalidade que torna esse país refém. Hoje perdemos mais um soldado do bem!", diz uma das mensagens.
Severo será sepultado nesta sexta-feira às 14h no Cemitério Parque São Vicente, em Canoas. Ele era doador de órgãos.
*Zero Hora