Mesmo que os números iniciais da Força Nacional de Segurança deem um alento no controle da criminalidade, o aumento do efetivo não representará maior disponibilidade de policiais dedicados ao atendimento direto à população.
Pior para o cobrador de ônibus Dalmo Pereira, 61 anos, que cansou de esperar por um PM disponível na tarde de sábado, depois de ter o carro roubado no bairro Belém Velho. Não havia qualquer policial militar que pudesse evitar assaltos naquela área. Depois de ocorrido o crime, foram mais de quatro horas para que uma viatura aparecesse lá.
Ele e a esposa pararam de carro em uma bica de água limpa na Estrada Afonso Lourenço Mariante por volta das 15h. É comum os moradores locais encherem as bombonas ali. Resolveram parar. Distraídos, foram roubados.
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– Quando eu me dei conta, tinha uma pistola na minha cabeça. Nem pensei em reagir. Perdi o meu carro que ainda nem terminei de pagar – lamenta o cobrador.
Na esperança de que o Gol prata ainda pudesse ser recuperado rapidamente, correu aos moradores próximos e ligaram para o 190. Eram 15h e o atendente informou que uma viatura seria deslocada. Esperaram, esperaram e ligaram mais cinco vezes para a BM. A resposta era sempre a mesma.
Na prática, o que acontecia no 1º BPM era o de sempre: limitação de viaturas e efetivo. E, por consequência, a priorização de ocorrências. Naquele momento, os policiais se desdobravam para atender um homicídio ocorrido às 16h30min na região da Vila Cruzeiro. Próximo dali, outro homem havia sido baleado. Os agentes da Força Nacional de Segurança não reforçaram nenhuma dessas ações de policiamento ostensivo.
– Não é a função deles nem dos PMs da Operação Avante. Eles não vão atender aos chamados do 190 – diz o comandante do policiamento da Capital, coronel Mario Ikeda.
Já eram 18h, cansado de esperar, Dalmo ligou para colegas de trabalho que o levaram até uma delegacia para registrar a ocorrência. Até hoje ele espera que o carro seja recuperado. Uma viatura da Brigada Militar só apareceu na Estrada Afonso Lourenço Mariante por volta das 19h30min. Para os moradores, parecia piada.
– Não adiantava mais nada, mas não foi a primeira vez. Aqui é sempre assim. A gente chama a Brigada e eles levam duas, três horas, quando aparecem – diz uma moradora de 38 anos.
Segundo ela, só no fim de semana foram dois assaltos junto à bica. Na semana anterior, outro. Em nenhum dos casos o policiamento apareceu.
– Eu só vi Força Nacional pela televisão. Aqui, faltava policiamento e continua faltando – desabafa a moradora.
Ela e os vizinhos pretendem colocar uma placa ao lado da bica para alertar os desavisados sobre os riscos de assaltos.
"É uma ação de marketing"
A determinação de que os reforços da Operação Avante e, agora, também da Força Nacional não façam o policiamento ostensivo rotineiro nas ruas da Capital é o alvo das principais críticas da Associação de Praças da Brigada Militar (Abamf).
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– Eles são quase uma estratégia de marketing. Trabalham em locais de movimentação e visibilidade, mas não combatem os crimes do dia a dia. Esse policiamento estático, como eles fazem em blitze, de pouco adianta, e ainda sobrecarrega o efetivo limitado e com salários parcelados – aponta o diretor jurídico da Abamf, Ricardo Agra.
Na prática, Porto Alegre recebeu desde o início da Avante um reforço de 220 PMs – do Interior e agora da Força Nacional –, que recebem o reforço das diárias, e deslocou dos batalhões da cidade pelo menos 60 PMs para se dedicarem às operações.
– Temos todo o respeito e admiração às pessoas da Força Nacional, que recebem honestamente diárias de R$ 300. Mas trabalham ao lado de um brigadiano com salário parcelado, sem diária ou com uma diária mínima. Isso não pode – desabafa o representante.