A polícia tenta esclarecer uma noite de tiroteios e assassinatos em Viamão a partir de duas ligações via celular entre traficantes de drogas que foram gravadas e enviadas via WhatsApp, a PMs, agentes civis e delegados.
Aparentemente fruto de uma interceptação telefônica, as conversas têm origem desconhecida, mas revelam uma crueldade incomum de criminosos ao perseguir e executar desafetos.
A partir dos diálogos, a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Viamão tenta identificar vítimas e autores. Um dos suspeitos de participar dos homicídios foi morto com outros três homens, em confronto com PMs em 22 de abril, em frente ao Hospital Cristo Redentor (HCR), em Porto Alegre.
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Os dois diálogos somam 44 minutos, e é possível identificar que ocorreram em noite de final de semana. O mandante dos crimes é chamado de Cupincha, um apelido genérico entre bandidos. É possível que ele estivesse preso e ordena a três comparsas percorrer vilas de Viamão para invadir bocas de fumo e matar traficantes rivais.
Um dos executores é tratado por Gatinho e, em determinado momento, ele próprio refere-se a si por Duduzinho, o apelido de Cláudio Eduardo Bandeira da Silva, 19 anos, que morreu no tiroteio com PMs em frente ao HCR.
As conversas revelam que os três homens estavam armados com pistolas, usavam camisas pretas com emblema da Polícia Civil e estavam em um Focus branco ou preto. Uma foto também enviada via WhastApp para a polícia mostra um deles – seria Duduzinho–, vestindo uma dessas camisetas.
Ao telefone, Cupincha determina que ninguém seja poupado:
– Quem vocês pegar, faz virar chuveiro, gasta todas as balas, não tem miséria.
O mandante das morte quer saber tudo que se passa durante a invasão das bocas de fumo e diz para um de seus comparsas deixar o celular ligado no bolso. Ele ouve disparos, gritos e relatos de que pelo menos dois homens foram executados com tiros nos rosto. Em alguns trechos da gravação, Cupincha ri da desgraça alheia e comenta:
– O Gugu (Streit, colunista do Diário Gaúcho e comunicador da Rádio Farroupilha) vai ficar louco amanhã. Final de semana violento em Viamão.
Depois, ele ordena para o trio ir para o Jardim Krahe, alegando que "ainda não mataram ninguém" por lá.
– Bota tudo ajoelhadinho e mata todo mundo que tiver. Não podemos voltar para casa sem nenhum corpo.
Em outro momento, Cupincha se irrita porque resta pouca munição e evoca aos céus para o trio ir até a localidade conhecida como Recanto.
– Vamos voltar para casa sem nada de bala, pelo amor de Deus – esbraveja.
O caso é investigado pela delegada Larissa Fajardo, da DHPP de Viamão.
– Existem homicídios que podem coincidir com o que é narrado nos áudios, mas ainda não foi possível confirmar quem matou e quem morreu – assegura.