Leonardo Wagner Grillo (*)
Preta Gil, Chadwick Boseman, intérprete do personagem Pantera Negra, Simony e o Rei Pelé. Em comum a todos eles — além da fama por se destacarem nos campos da cultura e do esporte — está uma doença silenciosa e com potencial de letalidade: o câncer colorretal, popularmente conhecido como de intestino. Terceiro tipo de tumor mais comum em todo o mundo, ele corresponde a aproximadamente 10% dos casos de neoplasias. Em números absolutos, a quantidade de mortes por câncer no intestino grosso é grande — é a segunda causa de óbitos por câncer (no entanto, há outros tumores muito mais letais, percentualmente, sobre casos totais).
Por essa combinação de características perigosas é que neste mês celebramos o Março Azul, campanha destinada à conscientização e à prevenção dessa doença. A iniciativa reúne diversas sociedades e entidades médicas para chamar a atenção da população para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. Quando detectada em fase inicial, os índices de cura chegam a 95%. Por outro lado, em estágios avançados, esse percentual pode ser de apenas 10%.
Número de casos
No Brasil, estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam o surgimento de cerca de 45 mil novos casos a cada ano, sendo a região Sudeste a com maior incidência da doença, que afeta homens e mulheres em proporção semelhante. No ano passado, um levantamento feito pelas Sociedades Brasileira de Endoscopia Digestiva e Brasileira de Coloproctologia com a Federação Brasileira de Gastroenterologia mostrou que, a cada dia, em média, 265 brasileiros são internados no Sistema Único de Saúde em decorrência de complicações desse tipo de tumor.
O desafio do diagnóstico
Dado esse cenário e as particularidades do tumor, cabe o questionamento: como diagnosticar cedo uma doença que, até atingir graus mais severos, se mantém calada? A resposta combina uma série de fatores que precisam ser observados a fim de manter a vigilância. Embora não seja determinante, a idade igual ou superior aos 45 anos precisa de mais atenção. Apesar de mais prevalente a partir dessa faixa etária, a doença pode acometer indivíduos mais jovens.
Obesidade, sedentarismo, tabagismo prolongado, alta ingestão de carne vermelha e processados, como salsicha, bacon, salame e presunto, além do consumo excessivo de bebidas alcoólicas também podem acender o sinal de alerta. Por razão desconhecida, algumas populações, como judeus orientais e negros, também precisam dar mais atenção à doença, assim como aqueles com doença inflamatória do intestino e pólipos.
Evidentemente, o histórico familiar também tem um peso importante no desenvolvimento da enfermidade, contudo, um percentual significativo dos casos poderia ser evitado com a adoção de hábitos de vida saudáveis.
Prevenção começa no prato
Se todas essas características e comportamentos são fatores de risco para a doença, controlá-los é, sem dúvida, a melhor forma de prevenção. Um bom começo é atentar para a alimentação: ingerir mais fibras, frutas e legumes, e reduzir o consumo de carne vermelha e, especialmente, das processadas.
Em 2015, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou alimentos como salsicha, presunto e bacon como tão carcinogênicos quanto álcool e cigarro. Conforme os pesquisadores, o consumo de 50 gramas diários de carnes processadas aumenta em 18% o risco de desenvolver câncer colorretal. Ou seja, bastam pequenas porções para estar mais exposto a essa doença.
A colonoscopia
Soma-se ao cuidado com o que colocamos no prato os exames de rastreamento a partir dos 45 anos, ou antes, a depender do histórico familiar e recomendação médica. A colonoscopia, ainda que seja um tabu para muitos, é um procedimento seguro e indolor. Ela é capaz de identificar lesões benignas — os pólipos — que podem evoluir para um eventual tumor intestinal, assim como é essencial para o diagnóstico precoce de tumores colorretais.
Sintomas
Apesar de silencioso no começo, o câncer colorretal tem sintomas bem estabelecidos quando atinge estágios mais avançados. Constipação ou diarreia, sangue nas fezes, dor abdominal, anemia, fraqueza e perda de peso são sinais que podem indicar alguma alteração.
A conscientização e a prevenção de uma doença tão prevalente são os melhores remédios. E você, já falou com seu médico sobre o Março Azul?
(*) Coordenador da Unidade de Endoscopia do Hospital Moinhos de Vento