Inta Muller (*)
As terapias conjuntas dos pais e seu bebê vêm tomando novas dimensões a cada ano. Apesar de existirem há muito tempo, ainda são pouco indicadas ou compreendidas.
Nos últimos anos, muitas instituições psicanalíticas propuseram como tema de seus congressos ou jornadas o nascimento emocional primitivo e suas relações afetivas.
A pandemia afetou de forma considerável as famílias com bebês, e a procura por auxílio profissional se intensificou. A construção da saúde mental começa muito cedo.
O que é?
É uma psicoterapia que trabalha com os pais e o bebê juntos na sessão. E não importa a idade do bebê.
Vale lembrar que “bebê” é chamada aquela criança que ainda não fala, que ainda não consegue se pronunciar verbalmente de forma clara e precisa. Por isso, a importância dos pais em sessão para que eles possam pensar e falar por e pelo bebê, trazendo suas impressões, fantasias, ideias, falando sobre o que está acontecendo com seu filho. Os bebês participam ativamente, interagem e apresentam pelo brinquedo ou comportamento o que sentem.
Que sintomas pode ter um bebê?
Os mais comuns são os transtornos do sono. Alguns pais se sentem esgotados depois de meses sem um sono restaurador.
Há os transtornos alimentares. Lembro de um bebê que desenvolveu uma anorexia aos nove meses de idade, simplesmente parando de comer ou mamar. Também existem as questões de pele, os eczemas graves. Ou os bebês que permaneceram muito tempo na UTI, a perda de algum familiar, a entrada na escolinha... São inúmeras as situações em que o bebê capta algo que está acontecendo, mas ainda não tem palavras suficientes para expressar seu desconforto, então se expressa pelo corpo.
O bebê é o paciente?
Não. Entendemos que o “paciente” é a relação estabelecida com seu meio, é esta relação que necessitaria de maior cuidado. E, por favor, sem formação de culpa.
Ainda temos uma ideia muito arraigada de que o bebê não compreende o que se fala e o que acontece ao seu redor, este é um grande equívoco! Eles captam sensorialmente, por exemplo, quando um tom de voz muda, podendo transformar tal fato em captação de sentimentos. Se alguém estiver falando muito alto e com a voz mais trêmula, algo não vai bem. Importante incluir o filho, desde a gestação, como participante ativo da vida em família. Sempre conversar muito, narrar a vida, explicar o dia a dia, antecipar, contar histórias...
Que tipo de profissional atende as famílias?
Deve ser um psicólogo com especialização na área da infância. De preferência, em atendimento de bebês e suas famílias.
Existem em Porto Alegre algumas instituições que formam estes profissionais, como o Ceapia, por exemplo. Depois da Segunda Guerra Mundial, com muitos bebês órfãos, internados ou hospitalizados, percebeu-se que eles poderiam morrer (ou se deixavam morrer) pela falta de um cuidador afetivo. Várias instituições foram formadas e profissionais se dedicaram, então, a estudar de forma mais efetiva o sofrimento emocional de um bebê e do que necessita para se constituir um ser humano adequado.
A terapia leva quanto tempo?
Difícil definir. Em casos, digamos, mais simples, tivemos quatro consultas apenas. Em outras situações, pode se estender por meses até podermos ter um entendimento mais amplo e o esbatimento dos sintomas. Mas há situações bem mais complexas, como o risco de autismo. Atualmente, podemos iniciar uma avaliação mais detalhada a partir de poucos meses de vida do bebê. Já temos técnicas mais efetivas para compreender, avaliar e até reverter esse risco, conforme a psicanalista francesa Marie-Christine Laznik.
(*) Psicanalista, especialista em intervenção precoce com formação na Universidad de Málaga (Espanha) e na Université de Provence (França)