É frequente?
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), se estima que ao redor 32 milhões crianças no mundo têm alguma surdez considerada incapacitante.
Qual o impacto?
A deficiência auditiva pode causar atraso no desenvolvimento de linguagem, déficit cognitivo, transtornos emocionais, mau desempenho escolar e isolamento social. Quanto mais cedo for identificada e precocemente receber o tratamento, maior será a possibilidade dela de desenvolver linguagem e menor o impacto na sua qualidade de vida.
Quais são as causas?
Sobre as mais frequentes, podemos destacar algumas infecções virais e bacterianas (rubéola, citomegalovírus, caxumba, meningite, sarampo e infecções no ouvido), alterações genéticas (síndromes, malformações), complicações na gestação (falta de oxigênio, baixo peso, prematuridade), uso de antibióticos tóxicos para a audição e, mais tardiamente, a exposição excessiva ao ruído.
Como podemos investigar?
Atualmente, tem se rastreado precocemente ainda na maternidade através da Triagem Auditiva Neonatal Universal, que no Brasil é obrigatória desde 2010, conhecido por “teste da orelhinha”.
Vários diferentes testes auditivos podem ser realizados na criança, variando de acordo com a faixa etária. Podemos também identificar o grau e a localização da perda auditiva. Exames como a audiometria por condicionamento, impedanciometria, potencial evocado auditivo de tronco encefálico, eletrococleografia e resposta auditiva de estado estável são utilizados para a confirmação do diagnóstico da surdez. Além disso, a busca da causa pode ser realizada através de exames laboratoriais, de imagem e genéticos. Essa investigação deve ser sempre realizada por médico otorrinolaringologista.
Como é o tratamento na infância?
Diversas formas de perda auditiva são completamente reversíveis através de medicamentos e procedimentos. O melhor exemplo disso é a condição conhecida por otite média, que está frequentemente relacionada com questões respiratórias e pode estar presente em crianças em idade pré-escolar e escolar. Algumas dessas crianças podem necessitar o procedimento de colocação dos tubos de ventilação, conhecidos também por “drenos dos ouvidos”. Esse é um dos procedimentos mais realizados no mundo em crianças.
Algumas crianças podem nascer com alterações na forma e no tamanho da orelha, ou seja, sem a existência de um canal auditivo bem formado (microtia, anotia). Quando indicado, pode ser necessário a abertura do canal auditivo com cirurgia ou a colocação de um tipo especial de implante auditivo, conhecido por prótese auditiva de ancoramento no osso (ósteo-ancorada).
E nos casos mais graves?
Nas formas mais avançadas, especialmente relacionado a uma estrutura mais interna do ouvido (cóclea), pode ser indicado o uso de aparelhos de amplificação sonora individual (AASI), também conhecido por prótese auditiva. Essa adaptação deve ser realizada por fonoaudiólogo habilitado em reabilitação auditiva pediátrica.
Quando a surdez é de um grau mais severo e até profunda, pode ocorrer a necessidade da realização do implante coclear. O implante coclear é uma prótese cirurgicamente implantável que oferece informação sonora quando o aparelho auditivo não foi suficiente para reabilitar adequadamente. Tem dois componentes: um externo (processador), composto de microfone, processador de fala, codificador e transmissor, e outro interno, composto por eletrodos e um aparelho receptor.
Em casos de surdez somente em um dos ouvidos, vários tratamentos podem ser utilizados como alguns tipos especiais de aparelhos auditivos, próteses auditivas de ancoramento ao osso e inclusive o próprio implante coclear para casos selecionados.
Hoje, é muito raro não haver tratamento para a surdez na criança, ou seja, a grande maioria das crianças pode ser muito bem reabilitadas. Recomenda-se uma minuciosa investigação e avaliação auditiva para direcionar o tratamento mais apropriado. E o mais importante é reabilitar a criança o mais rápido possível para que não seja perdido a etapa mais crítica de desenvolvimento da área auditiva ao nível cerebral que ocorre principalmente nos primeiros anos de vida.
Parceria com a Academia
Este artigo faz parte da parceria firmada entre ZH, GZH e a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM). A estreia foi em março de 2022, com a reportagem "Câncer: do diagnóstico ao tratamento", e agora foi renovada para mais uma temporada. Uma vez por mês, o caderno Vida vai publicar conteúdos produzidos (ou feitos em colaboração) por médicos integrantes da entidade, que completou 30 anos em 2020 e atualmente conta com cerca de 90 membros e é presidida pela endocrinologista Miriam da Costa Oliveira, professora e ex-reitora da UFCSPA. De diversas especialidades (oncologia, psiquiatria, oftalmologia, endocrinologia, otorrinolaringologia etc), esses profissionais fazem parte do Programa Novos Talentos da ASRM, que tem coordenação de Rogério Sarmento Leite e no qual são acompanhados por um tutor com larga experiência na área.