Um número elevado de pessoas no mundo sofre com um dos tipos de dor de cabeça mais comuns e incapacitantes: a enxaqueca. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são pelo menos 1 bilhão de pessoas no planeta e cerca de 30 milhões no Brasil. Se não tratada de forma preventiva, a enxaqueca pode se tornar crônica e reduzir muito a qualidade de vida da pessoa acometida, explica Henrique Mohr, neurologista do Hospital Mãe de Deus.
— A enxaqueca não vai resultar em algo com risco de vida, mas pode trazer grande impacto à vida da pessoa. Quando não tratada, pode evoluir de um episódio esporádico para algo crônico, tornando-se uma dor persistente e refratária. Em casos graves, pode evoluir para algo chamado status migranoso, em que pacientes precisam ir para emergência, às vezes passar por internação hospitalar, em razão de uma dor persistente e que demanda muito cuidado — diz o médico.
O tratamento preventivo principal para a enxaqueca começa por mudanças no estilo de vida, para evitar o surgimento de novas crises. Manter uma rotina de sono e alimentação saudável, atividade física regular e não ficar muito tempo em jejum estão entre os pontos mais indicados. Para quando ocorrem as crises, analgésicos mais comuns podem ajudar no controle da dor.
— Já quando a enxaqueca se torna crônica, os analgésicos também podem ser indicados, mas apenas para alívio das crises, pois, para a prevenção de novos casos, é preciso lançar mão de outras estratégias. Existem moduladores de dor, como antidepressivos e medicações para controle de pressão arterial e antiepilépticas, que são os mais utilizados para tentar evitar novos episódios — diz Mohr.
De custo mais elevado, portanto, menos acessível à população geral, existe também no mercado uma injeção subcutânea de aplicação mensal, feita de anticorpos monoclonais, que traz grande benefício na prevenção de crises de enxaqueca crônica. Assim como para alguns outros tipos de cefaleias crônicas, também pode ser aplicada injeção de toxina botulínica.
Tire suas dúvidas
Quantos tipos de cefaleia existem?
São mais de cem tipos, algumas bem raras. De maneira geral, o que se tem é uma divisão entre cefaleias primárias, que são caracterizadas pela dor de cabeça como a enfermidade em si, e cefaleias secundárias, quando a dor é consequência de alguma outra condição médica, por exemplo, meningite, AVCs hemorrágicos, tumores cerebrais, entre outros.
Quais os sintomas que diferenciam a enxaqueca dos demais tipos?
Alguns fenômenos que anunciam a chegada de uma enxaqueca são muito clássicos, como a pessoa se sentir mais lenta e perceber pontos luminosos no campo visual. Depois, a dor aparece de uma forma muito específica: de um lado da cabeça, latejante, e a pessoa pode apresentar intolerância à luz e ao barulho, náuseas ou vômitos. Essa dor pode durar várias horas, passando de leve à intensa. Qualquer faixa etária pode ser acometida, mas não costuma aparecer pela primeira vez em pessoas com mais de 60 anos, quando outras causas da dor devem ser investigadas. Mulheres são mais vulneráveis, e o pico de incidência acompanha a idade reprodutiva. Quem tem histórico familiar de enxaqueca tem risco aumentado de crises ao longo da vida.
Como é feito o diagnóstico?
Diagnósticos de cefaleias primárias, aquelas que não têm uma causa por trás, é feito com base no quadro clínico. Na enxaqueca, por exemplo, confere-se a duração, a localização, fenômenos associados. Tomografia ou ressonância magnética de crânio, bem como exames laboratoriais, entram apenas nos casos de alarme para uma cefaleia de caráter secundário, quando é preciso investigar a causa por trás daquela dor de cabeça.
Quando a cefaleia ou enxaqueca é considerada crônica?
Se é uma dor que está presente a maior parte dos dias por, no mínimo, três meses, isso já é considerado uma cefaleia crônica.
O que pode desencadear uma crise?
Existem muitos gatilhos e os mais comuns são quadros psiquiátricos, como depressão e episódios de ansiedade, ciclo menstrual na mulher, jejum por períodos prolongados, privação de sono ou até mesmo um sono muito prolongado. Certos odores específicos, alimentos e bebidas alcoólicas também podem ser desencadeantes, mas isso pode variar muito entre as pessoas. O exercício físico pode alavancar uma crise em um quarto dos pacientes, mas é importante ressaltar que, para a maioria, a prática é benéfica na prevenção da dor.
Quando a pessoa precisa procurar uma emergência?
Em casos de qualquer dor de cabeça súbita, que já começa com intensidade máxima, algo inédito para a pessoa, associado à febre ou à redução do nível de consciência, é preciso procurar uma emergência imediatamente, pois é possível estar diante de um quadro de causas potencialmente graves, como tromboses e infecções cerebrais, AVC hemorrágico, entre outros.
Fonte: Henrique Mohr, neurologista no Hospital Mãe de Deus