As hepatites virais são doenças provocadas por vírus que causam a inflamação do fígado. Existem cinco principais tipos de hepatites por vírus hepatotrópicos, que atacam preferencialmente esse órgão: A, B, C, D e E.
Cada uma delas tem suas particularidades, ou seja, variam muito em relação à transmissão e à possibilidade de evolução clínica. No Brasil, as hepatites virais mais comuns são as causadas pelos vírus A, B e C.
Hepatite A
É provocada por um vírus de transmissão oral-fecal – ou seja, é ingerido por meio de água ou de alimentos contaminados e eliminado pelas fezes. Trata-se de uma doença autolimitada, que não é curada com medicamentos e que se apresenta de forma aguda, não tendo potencial para se tornar crônica. Além disso, pode não apresentar nenhum sintoma.
Em menos de 1% dos casos, pode se manifestar de forma fulminante, em que as células hepáticas morrem muito rápido e o fígado perde a função, levando o paciente a precisar de um transplante do órgão. Pode-se prevenir basicamente com medidas de higiene, como lavar bem as mãos e os alimentos.
Hepatite B
Tem transmissão sanguínea que, em adultos, se dá basicamente por relações sexuais desprotegidas ou exposição ao sangue contaminado. É considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST) e, em 90% das vezes, também pode transmitida por mulheres grávidas para os recém-nascidos. Por isso, durante o pré-natal é solicitado o exame para hepatite B e, caso tenha a doença, a mãe toma o medicamento para diminuir a carga viral e evitar a transmissão para o bebê. Cuidados especiais com o recém-nascido de mães portadoras da doença devem ser tomados logo após o parto a fim de evitar evolução para formas crônicas.
Diferentemente da hepatite A, pode se tornar crônica – quando o vírus não sai do corpo do paciente após seis meses de contaminação – e, a partir disso, evoluir para cirrose ou até mesmo câncer. Para evitar essa evolução, é necessário, na maioria das vezes, fazer acompanhamento e tratamento contínuo para o resto da vida. Em adultos saudáveis, essa condição ocorre de 5% a 10%, quando o tratamento antiviral a longo prazo pode ser indicado.
Hepatite C
É considerada o maior problema de saúde pública em relação às outras, pela sua frequência e porque se torna crônica em 80% dos casos. Tem transmissão sanguínea e é mais comum em pessoas que tenham feito transfusão de sangue antes de 1993, usuários de drogas ou que tenham compartilhado o uso de objetos cortantes. Em alguns casos também pode ser transmitida por relações sexuais desprotegidas.
Trata-se de uma doença silenciosa, que raramente apresenta sintomas e, por isso, na maioria das vezes é diagnosticada somente quando já está muito avançada. Apesar de ser uma doença curável, cerca de 30% dos pacientes com hepatite C desenvolvem cirrose, devido à demora no diagnóstico e tratamento.
Hepatite D
É uma doença considerada rara no Rio Grande do Sul, sendo mais frequente na bacia amazônica. O vírus D depende do B para sobreviver, então, normalmente a pessoa contaminada tem os dois tipos de hepatite. É considerada grave e tem grande possibilidade de evoluir para cirrose e câncer.
Hepatite E
É rara no Brasil e é semelhante à hepatite A. Sua transmissão dá-se de forma oral-fecal. Pode se tornar crônica em pacientes imunodeprimidos, principalmente que já realizaram transplante.
Manifestação clínica
Há duas principais formas de manifestação: aguda e crônica. A aguda pode ocorrer em qualquer um dos cinco tipos de hepatites virais e corresponde a um período de sete a 10 dias em que o paciente apresenta sintomas gerais, como cansaço, falta de apetite, febre e náuseas.
Normalmente, os sintomas diminuem quando a pessoa começa a ficar com icterícia, o chamado “amarelão”. Após alguns dias, ela passa a evoluir bem e fica assintomática – exceto nos casos de hepatite fulminante.
A fase crônica ocorre quando o paciente não se cura da hepatite em até seis meses, e a principal característica é não apresentar sintoma. As hepatites crônicas representam um grande risco porque evoluem de forma silenciosa e o paciente só percebe alguma manifestação – como barriga d’água ou hemorragia digestiva – quando a doença já está extremamente avançada e há pouca chance de cura.
Diagnóstico
Como costumam ser doenças silenciosas, o diagnóstico das hepatites virais deve ser feito a partir dos fatores de risco: se a pessoa fez transfusão de sangue antes de 1993, usou drogas, teve relações sexuais desprotegidas, colocou piercing ou fez tatuagem em locais insalubres, ela pode e deve solicitar os exames apropriados. Os testes para hepatites A, B e C são oferecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Prevenção e tratamento
A vacina para o vírus A é ofertada pelo SUS para crianças acima de um ano e para pessoas com outras doenças no fígado. São duas doses que garantem proteção de 100%. Para adultos saudáveis, a vacina pode ser feita em clínicas particulares. Já a vacina para o vírus B está disponível para todas as pessoas, independentemente de idade. São três doses com intervalo de 30 e 180 dias após a primeira dose.
O tratamento para as hepatites B e C também é oferecido pelo SUS de forma gratuita. Pacientes com o vírus B devem fazer tratamento contínuo pelo resto da vida. Já a hepatite C é tratada e curada, em mais de 95% dos casos, com a administração de um único comprido diário, durante 12 semanas.
Produção: Jhully Costa
Fontes: Mário Reis Álvares-da-Silva, chefe do Serviço de Gastroenterologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), e Eduardo Emerim, médico hepatologista do SAE Santa Marta e presidente da Sociedade Gaúcha de Gastroenterologia.