As mensagens envolvendo curas, tratamentos e receitas milagrosas para prevenir o câncer parecem não ter fim. Uma das mais recentes a circular pelas redes sociais afirma que a doença ocorre por conta de uma deficiência da vitamina B17 e que, para evitá-la, basta ingerir diariamente de 15 a 20 sementes de damasco ou pêssego, supostamente capazes de suprir a falta desta vitamina no corpo.
Em primeiro lugar, é importante saber que sequer existe uma vitamina chamada B17. O complexo vitamínico B inclui apenas as vitaminas B1, B2, B3, B5, B6, B7, B9 e B12. A B17 é apenas um apelido dado a um composto semissintético chamado amigdalina, extraído do caroço de frutas como pêssego e damasco.
Entretanto, ao contrário do que sugere a mensagem, esse composto não proporciona benefício para o corpo humano, e sim o prejudica, já que, quando entra em contato com o organismo, libera cianeto, que é extremamente tóxico, explica Stephen Stefani, oncologista do Hospital Mãe de Deus.
— Quando ingerido em uma dose muito elevada, o cianeto pode causar uma série de danos, que vão desde os mais simples, como enjoo, até os mais sérios, como problemas hepáticos — alerta o oncologista.
Mito começou no século 20
Essa crença existe desde a metade do século passado, quando a tal "vitamina B17" passou a ser comercializada com o nome de Laetrile, composto que supostamente teria propriedades anticâncer. De acordo com Stefani, mais tarde, comprovou-se que isso não é verdade:
— Qualquer veneno que seja testado em laboratório pode apresentar uma atividade que mate células. O fato é que essa substância até matava células cancerígenas em placas de laboratório, mas, quando em contato com o organismo, causa problemas graves.
Segundo uma nota postada pelo Ministério da Saúde sobre o assunto, a Biblioteca Cochrane publicou uma revisão sistemática em 2015, o que significa que um grupo de especialistas reúne todas as evidências disponíveis sobre determinado assunto e analisa o conteúdo dos estudos para descobrir se há alguma evidência para apoiá-lo. "Esta revisão apontou que os benefícios reivindicados do Laetrile não são apoiados por ensaios clínicos controlados. Ela também encontrou um risco de efeitos colaterais graves de envenenamento por cianeto após o Laetrile ou amigdalina, especialmente depois de tomá-lo por via oral", diz a pasta.
Quando entra em contato com o organismo humano, o composto libera cianeto, que é extremamente tóxico. Se ingerido em uma dose muito elevada, o cianeto pode causar uma série de danos, que vão desde os mais simples, como enjoo, até os mais sérios, como problemas hepáticos.
STEPHEN STEFANI
Oncologista do Hospital Mãe de Deus
Stefani ainda alerta para que as pessoas não acreditem em curas para o câncer, que é uma doença extremamente complexa, a qual dificilmente poderia ser curada ou evitada apenas ingerindo determinada vitamina ou alimento.
— Todos os profissionais adorariam que existisse uma substância que curasse todos os tipos de câncer, mas isso não existe — diz o oncologista.