O programa TimberNook, criado pela terapeuta ocupacional pediátrica norte-americana Angela Hanscom, membro do Children & Nature Network, tem o objetivo de estimular a criatividade e as atividades ao ar livre. O projeto, que começou nos Estados Unidos e no Canadá, já se estendeu a países como Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido.
O programa desenvolvido por Angela propõe, por meio de uma série de atividades a serem realizadas em espaços abertos, o estímulo ao trabalho em equipe, à solução de problemas, à superação de desafios e ao desenvolvimento dos sentidos nos pequenos. Por e-mail, a especialista, que também é autora do livro Descalços e Felizes (2018), concedeu entrevista a GaúchaZH. Confira.
Seu programa é baseado em uma espécie de imersão das crianças na natureza. De que forma isso contribui mais para o desenvolvimento delas?
Nas últimas décadas, as prioridades da nossa sociedade mudaram muito. As sociedades ocidentais estão se tornando cada vez mais programadas, com horários e limites para a escola, para o brincar e para outras atividades. O jogo e a brincadeira foram retirados de muitas escolas para serem encaixadas mais atividades acadêmicas. Brincar ao ar livre permite romper esses limites e, consequentemente, desenvolver e organizar os sentidos e as emoções das crianças. As experiências na natureza deixam o corpo e a mente prontos para aprender.
Muitas crianças estão enfrentando distúrbios como depressão e ansiedade. Isso está conectado à falta de brincadeiras ao ar livre?
Sim. Os sistemas neurológicos das crianças são projetados para buscar informações e estímulos sensoriais. Se continuarmos restringindo isso, iremos seguir deparando com um aumento de problemas sensoriais, de controle inadequado do comportamento, entre outros. Brincar na natureza acalma os pequenos, proporciona sentimento de pertencimento ao mundo. Além disso, ter bastante espaço disponível e tempo livre reduz as pressões que as crianças sentem na infância, diminui o estresse e a ansiedade.
Muitos pais têm receio em deixar os filhos brincarem ao ar livre, porque temem que possam se machucar. Qual seu conselho?
Comece criando um espaço relativamente “seguro”. Elimine alguns perigos mais aparentes, como cacos de vidro ou outros elementos cortantes que estejam no local. E tenha confiança. Se queremos filhos “seguros”, temos de permitir que eles tenham liberdade de movimentos. Precisamos recuar um pouco e permitir que as crianças naveguem e explorem seus ambientes com liberdade. Deixe as crianças administrarem seus próprios riscos, como escalar pedras e pular em poças de lama. É somente por meio da experiência direta de assumir riscos que as crianças podem aprender a regular seus medos e testar os limites.
Que conselho você daria aos pais?
Primeiro, reserve um tempo todos os dias para que as crianças brinquem do lado de fora. Eles precisam de pelo menos três horas de brincadeiras ao ar livre todos os dias. Segundo, crie um espaço exterior ou encontre um em que elas tenham acesso regularmente e que lhes permitam mover o corpo livremente. É preciso reduzir a quantidade de atividades que são impostas pelos pais e substituir por experiências escolhidas pelas próprias crianças. Permita que outras crianças convivam com as suas todos os dias. Elas precisam de horas de brincadeira com outros jovens de diferentes idades para aprender habilidades sociais mais avançadas. Por último, dê um passo para trás, dê espaço para a criança resolver seus próprios desafios e conflitos e apresentar suas próprias ideias.