Sentir-se cansado é uma descrição genérica que ocorre pela ação de três processos no corpo. Um deles é o excesso de cortisol e de noradrenalina. Quem dorme mal mantém durante o dia níveis mais altos desses hormônios, relacionados ao estresse e ao estado de alerta. Eles são produzidos após estímulo do sistema nervoso simpático, ativado em situações vistas como perigo.
Essa região, ao ser acionada, emite ordens para que todos os sistemas do corpo fiquem em alerta, porque supostamente estamos sob ameaça. Há, então, um aumento da frequência dos batimentos cardíacos, da respiração e também da pressão arterial. Exigidas além do normal, as células oxidam, o que contribui para uma espécie de ressaca, explica a neurologista Luciana Palombini, especialista em medicina do sono pela Academia Americana do Sono.
– Sob estresse e com falta de sono, as células liberam toxinas. Com isso, o corpo não funciona bem – diz.
De forma crônica, esse processo prejudica o sistema imunológico e lesiona o sistema cardiovascular, ao exigir demais do coração e das artérias. Isso também eleva o risco de doença coronária, acidentes vasculares cerebrais (AVCs), infarto agudo e arritmia cardíaca. E o cérebro também paga o pato: há indícios de que o excesso de cortisol pode estar relacionado a um prejuízo na memória.
– A pessoa passa a ter dificuldades em reter informações. E se esquece rapidamente das coisas – diz Denis Martinez, professor do curso de pós-graduação em Cardiologia da UFRGS e especialista em sono.
Energia para o dia não para a noite
Outro ponto observado em pesquisas sobre o tema é a falta de energia nas células. Ficar cansado é não ter energia para nada. E quem faz tudo no nosso corpo são as células, usando como combustível a glicose que está nos alimentos. Mas a célula não "come" glicose assim, na forma bruta. Dentro da célula, mais especificamente na mitocôndria, a glicose é queimada até virar uma substância chamada ATP, que dá energia para a célula.
Começamos o dia com bastante ATP nas células. Conforme nossos órgãos funcionam e as células trabalham, o estoque de ATP é "queimado" até se transformar em ADP. Esse transformação é barrada pela cafeína – por isso que ela tira, momentaneamente, nosso sono.
No fim do dia, nossos estoques de ATP estão lá embaixo, e os de ADP, lá em cima. Ao saber disso, o corpo nos manda ir para a cama, para recuperar o que foi gasto. É que, durante a noite, todo o processo que ocorreu à luz do sol é feito ao contrário: o ADP volta a ser ATP e, de manhã, as células voltam a ter energia novamente.
Quanto cada faixa etária deve dormir*
0-3 meses - De 14 a 17 horas
4-11 meses - De 12 a 15 horas
1-2 anos - De 11 a 14 horas
3-5 anos - De 10 a 13 horas
6-13 anos - De 9 a 11 horas
14-17 anos - De 8 a 10 horas
18-25 anos - De 7 a 9 horas
26-64 anos - De 7 a 9 horas
+65 anos - De 7 a 8 horas
*Dados da National Sleep Foundation, dos Estados Unidos