É com as melhores intenções que amigos e familiares levam flores e comida, sentam à cama, beijam e abraçam um paciente hospitalizado. Mas, sem os cuidados necessários, essa visita – que, os médicos apontam, é benéfica na recuperação – pode acabar tomando outro rumo e levando à piora no quadro de saúde. Por isso, há uma série de recomendações feitas pelos hospitais para garantir o bom tratamento de quem lá está e evitar que o próprio visitante acabe adoecendo.
É questão de etiqueta e também de bom senso. Ainda que as orientações pareçam óbvias, muitas acabam gerando dúvidas. Quando devo visitar um paciente? E um recém-nascido? Quanto tempo devo permanecer por lá? Posso tirar fotos? Levar flores?
– Claro que tudo depende das circunstâncias, das condições de saúde do paciente naquele momento – salienta o presidente do Comitê de Bioética do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Rogério Amoretti.
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Além do acompanhante, a presença de visitantes costuma ser benéfica. Mas o número de pessoas, o tom da conversa e o tempo que se passa junto ao paciente não podem passar de certos limites. Há casos, como o de pessoas em início de recuperação de uma situação grave, em que uma visitação estendida tem sido até recomendada – desde que não desagrade o paciente nem cause constrangimentos ou perturbação.
– Entregamos sempre um guia de orientações a pacientes e acompanhantes, com explicações desde como é feita a internação até o que se pode ou não fazer. Geralmente, as pessoas têm respeito dentro do ambiente hospitalar, mas, às vezes, encontramos problemas – destaca Saulo Bornhorst, assessor da direção técnica e clínica do Hospital São Lucas da PUCRS.
Os médicos explicam, ainda, que pacientes e familiares podem, sim, se negar a receber visitas: é possível, indicado até, ser seletivo. Não é obrigação receber pessoas em um momento de fragilidade.
– Por mais que seja bacana a intenção de visitar uma pessoa doente, isso nem sempre é o mais recomendado. O melhor é conversar com a equipe multidisciplinar e decidir caso a caso – define a gerente de qualidade e segurança do Hospital Mãe de Deus, Laura Berquó.
Não se trata de burocracia, mas de lembrar que tomar as devidas precauções pode tanto ser capaz de ajudar o tratamento de saúde quanto de interferir no pronto restabelecimento de quem está internado. Afinal, a melhora do paciente também depende de seu visitante.
A unidade de terapia intensiva (UTI) é um setor diferenciado, com cuidados específicos e, como o nome diz, intensivos. Por isso, o tempo disponibilizado à visita é menor, não sendo permitido, em muitos hospitais, o rodízio dos visitantes. Aqui, o mais importante é ajudar a equipe médica, auxiliando com as informações necessárias para um atendimento adequado.
– Entenda que, nessa situação delicada, a visitação é restrita. Familiares e amigos precisam se organizar para não gerar tumulto e frustrações.
– Ajude médicos e funcionários do hospital com informações sobre o paciente, histórico de saúde e demais dados que possam auxiliar.
– Não se sinta ofendido diante da negativa do paciente, de familiares ou do próprio hospital em permitir visitas nessa situação.
– Não mexa nos soros, sondas ou outros dispositivos que estejam sendo usados pelo paciente.
– Não toque nos equipamentos hospitalares e em outros dispositivos usados pelos pacientes.
– Não sente junto ao paciente nem coloque bolsas ou sacolas sobre o leito.
Um dos setores mais movimentados do hospital é também aquele em que a visitação é menos recomendada. Diante do risco de o paciente morrer e a necessidade de atendimento imediato, sobra pouco espaço para pessoas além da equipe hospitalar.
– Tenha paciência: os médicos vão avaliar o que é melhor para o paciente.
– Quando alguém da equipe médica precisar se aproximar, afaste-se. Permita que a pessoa seja devidamente tratada.
– Não insista em acompanhar o paciente até a sala de medicação: salvo exceções, esse é um lugar onde ele deve ir sozinho, até mesmo por questão de espaço.
As orientações, aqui, vão depender muito do estado do paciente e se o quarto é exclusivo ou semiprivativo. Se quem está internado não apresenta boas condições de saúde, muitas vezes não se recomenda que receba visitas – e, se elas ocorrem, devem ser rápidas. Quando a visitação é permitida, é preciso cuidado ao fazer contato.
– Mesmo sem saber, há contaminações que as visitas podem levar ao quarto, prejudicando a recuperação do paciente – avisa o médico Rogério Amoretti, presidente do Comitê de Bioética do Grupo Hospitalar Conceição.
Em quartos coletivos, cuidado redobrado: é preciso respeitar as outras pessoas, evitando fazer barulho excessivo, ocupar muito espaço e gerar quaisquer tipos de distúrbios.
– Peça permissão ao paciente ou à família dele antes da visita. E combine um horário.
– Fale baixo: no ambiente hospitalar, deve-se primar pelo silêncio.
– Higienize suas mãos: é um cuidado necessário não só para não levar algum germe, mas também para não ser contaminado.
– Antes de fazer a visita, descubra as restrições do indivíduo internado.
– Se quiser levar alguma coisa estranha ao ambiente hospitalar, pergunte sempre à equipe de enfermagem se aquilo é permitido.
– Leve um livro, um passatempo, um cartão, alguma mensagem que seja de agrado do paciente.
– Em quartos compartilhados, respeite a privacidade: nada de espalhar roupas, bolsas e outros itens ou de dar palpite em conversa alheia. Isso também inclui garantir um tempo a sós entre paciente e médico.
– Na hora da refeição, é recomendado que o visitante se retire.
– Não sente ou deite na cama: ao levar bactérias ao contato direto, o gesto pode acabar atrapalhando o tratamento. Se não houver cadeiras por perto, melhor ficar em pé.
– Não atenda ligações comerciais em frente ao paciente e não entregue o telefone a ele mesmo que o contato seja de seu interesse. O melhor é deixar o celular de lado, de preferência no silencioso.
– Procure não prolongar a visita por muito tempo: a não ser que seja alguém muito próximo do paciente ou que isso seja solicitado por ele, é indicado que se faça uma visita relativamente curta.
– Não utilize o banheiro do quarto. Se precisar, use o sanitário próprio para os visitantes, normalmente localizado nos corredores do hospital.
– Evite também usar perfumes, especialmente os mais fortes, durante a visita. Eles podem provocar alergias ou enjoo ao paciente.
– Tome cuidado ao levar presentes como flores e balões. Esses objetos podem trazer problema ao paciente, a quem mais está no quarto ou a outras pessoas no local.
– Nada de levar equipamentos eletrônicos como cafeteira e micro-ondas.
– Evite levar comida: ainda que muitos hospitais permitam essa prática, o paciente pode ter de reduzir o consumo de certos alimentos sem que você saiba. Além disso, comer e/ou beber fora da hora prevista pode impedir a realização de alguns exames e cirurgias.
Apesar de manter o mesmo nível de atenção à saúde que as demais áreas de um hospital, na maternidade as regras de visitação costumam ser mais brandas. Isso não deve significar que tudo está permitido.
A chegada de um bebê é um momento de recuperação da mãe e de atenção total ao recém-chegado. Vale lembrar que a criança não é atração turística, e nas primeiras semanas – e até meses – de vida, o contato costuma ser recomendado, além dos pais, apenas para as pessoas mais íntimas da família.
– Entenda se, em um primeiro momento, apenas familiares e amigos mais próximos puderem ir à maternidade. O ideal é esperar até que o recém-nascido complete o primeiro ciclo de vacinas.
– Registre o encontro em fotos apenas se houver consentimento dos pais.
– Procure alternar a visita com outras pessoas que também querem ver a mãe e o bebê: isso agiliza o processo e garante mais tempo a sós para os pais.
– Durante a visita, desligue o celular. Se um alarme ou uma chamada já incomoda adultos em um ambiente silencioso, imagine o que o som representa para um bebê.
– Não espere atenção, especialmente da mãe, nesse momento: é preciso respeitar o tempo dela e do recém-nascido. O bebê, sozinho, já exige bastante dos pais logo após o nascimento.
– Quando encontrar o recém-nascido – e isto vale tanto para a maternidade quanto em casa –, não exagere no carinho. Apertar e "amassar" o bebê pode até gerar fraturas nos primeiros dias.
– Não insista em carregar a criança no colo, especialmente nos dois primeiros meses de vida. Além da fragilidade do corpo, ela também está mais suscetível a infecções.
– Nada de ligar o flash. Caso os pais permitam que se tirem fotos, desative essa opção. A luz pode causar desconforto para a criança ou acordá-la.
– Evite visitas muito longas ou que possam gerar algum desgaste, como no caso de alguém com quem você discutiu recentemente ou não vê há muito tempo. É bom também evitar aglomerações dentro das áreas de atendimento e tratamento. O acúmulo de pessoas, além de dificultar o trabalho da equipe médica, aumenta o risco de transmissão de doenças. E respeite sempre o horário de visita definido pelo hospital.
– Caso você esteja doente, melhor não visitar um paciente internado. Qualquer mal contagioso pode se tornar um problema em pessoas já debilitadas.
– Higiene: antes de encostar em qualquer paciente, ou entregar algum objeto que passou pelas suas mãos, certifique-se de que elas estão limpas. E não adianta tê-las lavado em casa: no caminho até o hospital, provavelmente houve contato com germes que podem levar a uma contaminação. Com água e sabão ou com álcool gel, é preciso tomar cuidado com a higienização dentro do estabelecimento de saúde. Sem isso, abre-se um caminho para que infecções de fora do ambiente hospitalar atinjam o paciente.
– Seja agradável, evite pessimismo, tente não dar notícias ruins. Além do dano físico, os pacientes em estado vulnerável também podem ser mais acometidos por problemas emocionais e mentais. A não ser em caso de pedido da pessoa doente, consentido pelos médicos, geralmente se recomenda que informações que não sejam boas novas ou conversas leves esperem até a alta.
– Procure não levar crianças nas visitas. Ainda que a orientação na maternidade seja mais flexível, normalmente não é indicado que os pequenos circulem pelo hospital.
– O mesmo vale para visitantes idosos, que geralmente têm imunidade mais baixa. Costumam ser feitas exceções se o paciente for alguém muito próximo, especialmente se estiver em tratamento oncológico ou tenha acabado de sair da UTI.
– Não fume. Por mais que isso pareça óbvio em se tratando de um ambiente hospitalar, mesmo ir para a rua, fumar e voltar faz com que as roupas carreguem o cheiro do cigarro – que pode tanto repugnar quanto despertar o desejo de fumar no paciente.