"Treine arte marcial focado na vida! Todos nós precisamos ser campeões na vida e como pessoa!"
Com esses gritos, é dado o pontapé inicial em uma aula de taekwondo para alunos a partir dos três anos. Enfileirados, posicionados sobre uma estrela estampada no tatame, trajando quimonos brancos impecáveis, amarrados com faixas de todas as cores – até a preta –, os pequenos ouvem atentamente as ordens do instrutor certificado pela American Taekwondo Association (ATA) Leandro Nery.
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De os olhos vidrados no treinador, eles repetem as ações propostas: posição de combate, chutes e defesas intercalados com polichinelos. Tudo devidamente contabilizado ao som de "um, senhor, dois, senhor, três, senhor" e assim por diante. Noções como essas, de respeito e disciplina, são peças chave da arte marcial originária na Coreia do Sul, que tem como objetivo muito mais do que servir como atividade física: a intenção é contribuir para a formação de pessoas.
Prova disso é o número de faixas que a modalidade comporta. São nove, e cada passagem leva cerca de seis meses para acontecer, com provas práticas e teóricas.
– Fazemos trabalhos teóricos, analisamos a evolução da prática e ajudamos a traçar metas. São nove etapas porque ninguém é 10. Podemos ser 9,9, mas ninguém é perfeito – justifica Nery.
Relatos carinhosos sobre as aulas não faltam. Em meio ao treinamento, Nery estimula os pequenos a contarem um pouco das suas experiências. Das pequenas bocas saem frases como "este local se tornou especial para mim" até um "estou mais confiante e me sinto uma pessoa melhor". Faz sentido, afinal, ali é onde eles levam ao pé da letra a filosofia da escola, baseada no songahm.
– Significa equilíbrio. Da mente e do corpo – pontua o instrutor.
Como funciona a prática
Aquecimento, parte física, defesa pessoal, chutes, técnicas com armas brancas e lutas são algumas das atividades propostas ao longo da aula. Além de trabalhar o condicionamento físico, noções de lateralidade e coordenação motora, a prática auxilia na hora de se defender.
– Prevenção é o foco. Falamos para eles andarem sempre atentos – diz Nery, reforçando que não prega a reação em casos de violência.
Cuidados importantes
O sedentarismo infantil é um problema que preocupa os especialistas da área da saúde. Crianças e adolescentes trocam os esportes e brincadeiras na rua por tablets e videogames. Diante disso, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) elaborou, em 2016, um manual com orientações para a Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital. Conforme o documento, 21% dos adolescentes deixaram de comer ou dormir por causa da internet e 17% procuraram informações sobre formas de emagrecer.
O médico Ricardo do Rêgo Barros, coordenador do grupo técnico de medicina desportiva da SBP, afirma que os exercícios físicos são benéficos em todas as fases da vida. Ainda segundo Barros, não há idade mínima para ingresso em uma modalidade:
– Não existe uma idade específica para começar a se exercitar, mas para iniciar a prática de uma arte marcial, o recomendado é que isso ocorra entre cinco e sete anos em modalidades que sejam menos agressivas e foquem na defesa, como o judô e o jiu-jitsu.
Para o especialista, os pais devem ficar atentos ao número de professores na escola – o recomendado é um para cada cinco alunos – para oferecer a supervisão adequada e garantir que os movimentos sejam executados sem prejuízos. É bom lembrar que práticas como karatê, kickbox e muay thai devem ser iniciadas um pouco mais tarde, a partir dos 13 anos.
Já a Federação Gaúcha de Karatê (FGK) garante que a prática pode ser iniciada aos quatro anos.
– No mundo inteiro, as crianças começam com quatro ou cinco anos. Mas elas podem competir somente a partir dos 10 e com regulamento específico para elas – argumenta o presidente da FGK, Celso Piaseski.
Nesta modalidade, ainda há golpes que só são permitidos quando os praticantes atingem os 20 anos, conforme Piaseski.
Também é preciso ficar de olho na hidratação. Barros recomenda que as crianças bebam água a cada 20 minutos.
*Colaborou: Liliane Pereira