A pessoa vai ao trabalho todos os dias, mas emocionalmente há algum tempo não bate o cartão. Esse é o principal sintoma do presenteísmo, um problema que, segundo especialistas, tem aumentando no ambiente corporativo. Diferente do absenteísmo, quando alguém se ausenta fisicamente do trabalho, o presenteísmo causa conflitos para o empregado e para a equipe da qual ele faz parte.
– Se o funcionário não comparece ao trabalho, os colegas olham para o lugar dele e sabem que não foi trabalhar. No presenteísmo, a pessoa está ali, mas totalmente incapacitada de realizar suas tarefas em razão do nível de estresse elevado – explica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), que discute o tema em um congresso promovido pela entidade, em Porto Alegre, até esta sexta-feira
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Em uma pesquisa feita pela Isma com mil profissionais, com idades entre 25 a 60 anos, detectou que o problema está diretamente ligado ao excesso de estresse negativo no trabalho. O presenteísmo se apresenta com sintomas físicos, emocionais e comportamentais.
– O sinal mais comum, relatado por 91% dos profissionais, é a desmotivação e a insatisfação. Você poderia me perguntar "então por que essas pessoas não saem desse emprego?" e eu te diria "porque elas têm medo de ficar sem trabalho". Essas pessoas têm nível de estresse muito elevado e praticam o presenteísmo como forma de sobrevivência – diz Ana Maria.
Outros sintomas que chamaram a atenção da pesquisadora foi que 89% dos entrevistados associavam o problema a dores musculares e dor de cabeça, 86% estavam ansiosos e 81% angustiados. Segundo Ana Maria, o problema aparece muito em razão do não reconhecimento e das críticas recebidas pelos profissionais, que interiorizam as agressões veladas que recebem das chefias e começam a fazer as tarefas de qualquer jeito. Se comparados com um profissional saudável, o presenteista trabalha cinco horas a menos por semana.
– Essa pessoa procrastina, não entrega no horário solicitado, perde a autoconfiança e começa a cometer erros que não cometia porque age mecanicamente – explica a psicóloga.
Ainda não há dados se o problema atinge mais mulheres ou homens ou faixas etárias específicas. Ana Maria explica que o problema aparece quando há o desequilíbrio entre esforço e a contribuição dada à empresa. No caso da geração Y, ainda que seja um grupo que necessita de feedback, em geral são pessoas que têm mais flexibilidade e não têm medo de mudar.
– Dos 35 anos para cima, essa flexibilidade é menor. As pessoas não podem jogar tudo para o alto e trocar de emprego. Quem apresenta o presenteísmo, acaba interiorizando frustrações e o problema vai se revelar em dores, falta de concentração, cansaço, angústia. Em casos extremos, a pessoa pode começar a abusar de álcool e drogas prescritas para se anestesiar – aponta a especialista.
A solução pode ser encontrada com ajuda com um profissional de saúde. Mudar o ambiente de trabalho pode não ser possível, mas o psicólogo ou psiquiatra pode criar uma plano de ação e encontrar situações em que o presenteista tem poder de controle.
– Exercícios em geral melhoram a qualidade de vida, mas um presenteista pode se sentir mais ansioso se, por exemplo, começar a nadar. Ele precisa de uma atividade em que perceba e controle a respiração. Essas pessoas têm uma respiração muito artificial, acelerada, por isso precisa fazer exercícios de relaxamento e aprenda, primeiro, a controlar a própria forma de respirar – explica Ana Maria.
Serviço:
16º Congresso de Stress do Isma
Tema: Trabalho, Stress e Saúde: viver bem é trilegal – da teoria à ação
Quando: até 23 de junho
Local: Centro de Eventos Plaza São Rafael (Avenida Alberto Bins, 514, no Centro de Porto Alegre)
Informações em ismabrasil.com.br/congressos/congresso-2016q