Graças a terapia antirretroviral, muitas pessoas com HIV têm expectativa de vida de muitas décadas depois de infectadas. Ainda assim, especialistas têm observado que esses pacientes apresentam sinais de envelhecimento precoce. Em um estudo, publicado na semana passada na revista Moleculla Cell, pesquisadores aplicaram um biomarcador de alta precisão para medir o quanto a infecção pelo HIV interfere no desenvolvimento biológico. A média foi de quase cinco anos a mais.
– Os problemas médicos no tratamento de pessoas com HIV mudaram. Não estamos mais tão preocupados com infecções decorrentes do vírus. Agora precisamos dar atenção as doenças relacionadas ao envelhecimento, como as cardiovasculares, as disfunções cognitivas e os problemas no fígado, por exemplo – disse Howard Fox, professor no departamento de Farmacologia e Neurociências Experimental da Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, e um dos autores da pesquisa.
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A ferramenta usada no estudo, o biomarcador, analisa as mudanças genéticas em células. Os pesquisadores perceberam que essas alterações afetam o DNA, mas não a sequência do DNA. Uma vez que a alteração ocorre, são passadas de uma célula a outra e influenciam a forma como os genes se apresentam.
– Embora não tenhamos certeza do exato mecanismo pelo qual essas mudanças genéticas levam ao envelhecimento, essa tendência pode ser medida no interior das células das pessoas com HIV – afirmou Trey Ideker, professor de genética do departamento de Medicina da Universidade da Califórnia e também autor do estudo.
O biomarcador foi aplicado em 137 pacientes que participaram do estudo que monitora a infecção por HIV em cada um deles individualmente. Essas pessoas são tratadas com uma terapia que combina antirretrovirais. Os sujeitos que participaram da pesquisa não teriam outras condições de saúde que poderiam distorcer os resultados. Além da descoberta de que o HIV faz o envelhecimento biológico dos infectados acelerar, os investigadores notaram que pessoas que vivem com o vírus têm um risco aumentado de mortalidade de 19%.
– Nos propusemos a olhar para os efeitos da infecção pelo HIV. Fiquei surpreso que encontramos um efeito forte de envelhecimento – destacou Ideker.
– Não houve diferença entre os padrões das pessoas que foram recentemente infectadas (menos de cinco anos) e aqueles que vivem há mais de 12 anos com o vírus – acrescentou Fox.
Os investigadores dizem que é possível desenvolver drogas que poderiam, eventualmente, afetar as mudanças genéticas observadas no estudo. Mas as implicações mais imediatas são muito mais simples: o grupo de pesquisadores observou que as pessoas infectadas com o HIV devem estar cientes de que têm maior risco de sofrer com doenças relacionadas à idade e devem trabalhar para diminuir esses riscos fazendo escolhas de estilo de vida saudável, como fazer exercícios, ter uma dieta saudável e evitar drogas, álcool e tabaco.