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Em risco

América Latina lidera o ranking de cesarianas desnecessárias

De acordo a OMS, em torno de 38,9% dos nascimentos ocorrem por procedimento cirúrgico

Andresr / Shutterstock

É cada vez maior o número de cesarianas dispensáveis feitas na América Latina, região onde mais se realiza esta prática. A quantidade de cesáreas injustificadas estão aumentando sem nenhuma razão médica, colocando em risco desnecessário milhares de mulheres e seus bebês.

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- Nós não temos nenhuma evidência para justificar esse enorme número de cesarianas - disse Bremen De Mucio, médico assessor para a América Latina em Saúde Sexual e Reprodutiva da Organização Mundial da Saúde (OMS).

De acordo com um comunicado da OMS emitido na última sexta-feira, em torno de 38,9% dos nascimentos ocorrem por cesarianas. Esse índice fica acima do recomendado há quase 40 anos pela organização: entre 10% e 15%.

Embora a região ostente o título de maior número de cesarianas, outros países como os Estados Unidos e a Espanha também produzem altas taxas de parto cirúrgico: 33% e 25%, respectivamente, segundo um relatório detalhado da OMS de 2014. O Brasil, com 200 milhões de pessoas, tem uma média de 54% de partos feitos por cesarianas. Nos serviços privados, a cifra chega a ser maior que 80%, tornando-o o lugar do mundo onde mais se realiza o procedimento.

No Haiti, a falta de acesso aos serviços de saúde coloca a taxa de cesarianas em 5,5%, abaixo do recomendado.

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Os números crescem mesmo em países com maior predominância indígena e histórico de nascimentos naturais, como a Bolívia, onde as cesarianas aumentaram de 14,6% em 2008 para 19% em 2012, e o Peru, que saltou de 15,8% para 25%. As altas taxas de cesarianas também foram registradas na República Dominicana (44%), na Colômbia (43%), no México (39%) e no Chile (37%).

Risco oito vezes maior

Maior comodidade e ganho econômico para as equipes médicas estão entre os fatores responsáveis pelo aumento do número de cirurgias, as quais têm risco oito vezes maior em comparação ao parto normal.

- O aumento não tem nada a ver com uma necessidade médica, e sim com uma equipe médica que pensa mais em seu conforto do que no bem-estar das mulheres - afirma Ana Quirós, diretora do Centro de Informação e Consultoria de Serviços de Saúde da Nicarágua, país que tem uma das mais altas taxas de cesarianas na América Central, com 30%.

Mesmo em países onde não há diferença significante nos custos de parto natural e cesariana, o número de cirurgias continua a aumentar.

- Ainda quando o médico recebe por um parto normal o mesmo que recebe por uma cesariana, o tempo que o último leva o torna muito mais rentável para o profissional. Um trabalho de parto pode durar até 24 horas. No mesmo período, o médico poderá agendar várias cesarianas - explica De Mucio.

Mulheres mais ativas profissionalmente, mais estáveis, com medo da dor do parto e que têm adiado a maternidade, também influenciam no aumento dos índices.

- Eu escolhi ter meu filho por cesariana porque estava com medo do parto natural. Especialmente de sofrer durante longo tempo - conta a designer de interiores carioca Luana Martines, 26 anos, que acaba de ter o primeiro filho numa maternidade particular. Luana afirma ainda que recomendaria a prática cirúrgica para outras mulheres.

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Partos humanizados

Várias tentativas de regular o número de cesarianas falharam na América Latina, com o argumento de se preservar a segurança da mãe e do bebê.

Na Europa, a taxa de cesarianas chega a 24%, graças a um maior estímulo ao parto natural. Na maioria dos partos de baixo risco na Europa, por exemplo, o parto é quase exclusivamente feito por doulas, sem médicos.

Como solução, na América Latina pretende-se levantar uma segunda opinião médica para justificar cada uma das cesarianas e o fornecimento de mais informações às pacientes, para que elas avaliem os riscos.

A OMS, alarmada com o que foi chamada de "epidemia de cesarianas", pediu para que o recurso ao parto cirúrgico seja feito apenas quando "medicamente necessário".

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