A frequência de infecções é uma preocupação recorrente na população infantil. Tanto que a febre, que é o principal marcador, é causa de um terço das consultas pediátricas.
A história se repete. O bebê nasce, mama no peito, faz vacinas e tudo está indo muito bem. Mas, aos seis meses, a mãe volta a trabalhar, o bebê vai para a creche e logo surgem a febre, o nariz entupido e a tosse. Levado ao consultório médico, recebe o diagnóstico: é um quadro viral.
Os agentes virais são numerosos, têm nome e muitas vezes batizam doenças específicas. Mas essas doenças, em geral, são chamadas de viroses.
Quadros infecciosos virais e, em especial, o resfriado comum, causado pelo rinovírus, são mais frequentes nos menores de seis anos, e considera-se normal a apresentação de até oito episódios por ano. Essa incidência resulta da maior suscetibilidade da criança associada ao comportamento infantil, sem preocupação com higiene - a chupeta perdida é de qualquer um! Acontece mais com crianças que frequentam creche ou escola e também com irmãos. Alguns vírus são transmitidos por espirro e tosse, e outros mais pelo contato, mas a regra de lavagem das mãos funciona muito bem na prevenção. Uma vez acontecido o contato, é só contar o tempo que os sintomas vão aparecer. No caso do resfriado comum, um ou dois dias após iniciam a obstrução nasal, a coriza aquosa e a febre. Logo surgem a tosse e a coriza mais grossa. Nas crianças, a resolução também é mais lenta, durando em torno de 10 dias. Outros vírus causam diarreia, conjuntivite, laringite... Os agentes causadores são variados e circulam na comunidade com preferência sazonal: mais vírus causadores de diarreia no verão e mais de doenças respiratórias no inverno.
A teoria tradicional de que quadro viral tem menor risco deve ser considerada com precaução. O citado resfriado comum é complicado por otite bacteriana em 30% das crianças pré-escolares, e o risco é maior dos seis aos 11 meses. Nas crianças asmáticas, 50% das crises são desencadeadas por quadro viral. Alguns vírus podem diretamente causar situações de maior gravidade, como meningite, bronquiolite e miocardite. A diferenciação entre o acometimento mais ou menos sério, especialmente nas crianças menores de dois anos, carrega uma bagagem de características nem sempre tão claras aos pais e ao profissional de saúde. Dados sutis, como a qualidade do choro de um bebê, sua resposta à estimulação dos pais e do ambiente e seu estado de alerta, podem ser decisivos entre a condição de baixo ou alto risco de doença grave. O somatório desses conhecimentos e habilidades vai resultar na comunicação: "É uma virose. Não precisa medicamentos e vai resolver sozinho".
A probabilidade de a criança febril estar cursando com uma infecção viral autolimitada é de 90%. Sim, a declaração está correta. Mas atenção se seu filho está prostrado, sem querer brincar e sem aquele jeito sorridente. Leve ao médico, porque somente ele foi instruído para reconhecer e descartar complicações nesses 10% de exceções.