Novas recomendações do National Institute for Health and Care Excellence - Nice, do Reino Unido, sugerem que pacientes diabéticos tipo 2 com índice de massa corpórea (IMC) de 30 podem ser elegíveis à cirurgia bariátrica ou metabólica.
O órgão é o primeiro a sugerir a redução dos parâmetros. Até então, apenas pacientes com IMC acima de 35 e duas comorbidades, ou pacientes com IMC superior a 40, poderiam passar pelo procedimento. A recomendação foi realizada levando em conta o crescente número de diabéticos registrado nos últimos dez anos no Reino Unido. Essa sugestão de diretriz, a qual não é final, passará por consulta pública durante o período de um mês. Sua publicação deverá acontecer em novembro.
Diferentes estudos vêm confirmando que a cirurgia bariátrica/ metabólica pode gerar resultados além da perda de peso. Um estudo realizado no Brasil e publicado na revista científica Diabetes Care, com acompanhamento dos pacientes por até seis anos, demonstrou que a cirurgia bariátrica/ metabólica melhora o diabetes tipo 2 em pacientes com IMC de 30 a 35.
Um estudo publicado recentemente no Journal of the American Medical Association (Jama) reforçou as evidências de que o procedimento é eficaz no tratamento do diabetes tipo 2, mesmo em longo prazo. Segundo a pesquisa, a cirurgia aumenta a chance de regressão do diabetes e diminui as complicações da doença quando comparada ao tratamento com medicamentos.
Livres da insulina
Algumas pesquisas anteriores já haviam indicado esses resultados. Em março, pesquisadores da Cleveland Clinic publicaram um trabalho comprovando que os efeitos benéficos da cirurgia sobre o controle do diabetes duram três anos - esses pacientes continuam sendo acompanhados por mais tempo. No estudo, quase todos os pacientes se viram livres da insulina e muitos puderam abandonar todos os remédios para controlar o diabetes. O estudo mostra ainda que os pacientes que passaram por cirurgia bariátrica/ metabólica tiveram melhora na qualidade de vida e redução na necessidade de medicações para controlar a pressão e o colesterol.
- Estamos entrando em uma nova era para as cirurgias bariátricas e metabólicas, uma vez que o objetivo da cirurgia passa a ser tratar as comorbidades associadas e não apenas a obesidade. Esse tipo de procedimento é capaz de melhorar ou eliminar condições como diabetes, hiperlipidemia, hipertensão e apneia obstrutiva - comenta Ricardo Cohen, diretor do Centro de Obesidade, Diabetes e Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, e coordenador do estudo realizado no Brasil.
Segundo Cohen, a cirurgia não apenas limita a quantidade de comida que o estômago consegue receber ou a quantidade de calorias absorvidas, como também induz a resposta metabólica de alguns receptores presentes no trato gastrointestinal", explica.
Os avanços no entendimento dos processos metabólicos têm permitido a compreensão dos mecanismos que regulam o controle do peso. Hoje, sabe-se que a capacidade de perder ou manter o peso vai muito além do número de calorias ingerido e está relacionada a um sistema complexo que envolve hormônios e sinais cerebrais. Com base nesse conhecimento, a cirurgia bariátrica/ metabólica é capaz de alterar a fisiologia do corpo, mudando a programação de armazenamento da gordura, as percepções de fome e saciedade e alterando a forma como o corpo processa a ingestão e nutrientes e regula as funções metabólicas.
Muito mais segura
Além de trazer benefícios adicionais à perda de peso, a cirurgia bariátrica/ metabólica se tornou muito mais segura. Uma revisão de estudos, publicada no Jama Surgery recentemente, revelou que além dos resultados positivos em relação às comorbidades associadas à obesidade, as taxas de mortalidade se mostraram muito inferiores ao que se acreditava anteriormente. De acordo com a revisão, as taxas de mortalidade variaram de 0,08% no mês seguinte à cirurgia e 0,31% após 30 dias. Já as taxas de complicação variaram entre 10 a 17%.
Segundo o Datasus, a taxa de mortalidade no SUS foi de 0,22% no ano de 2013, lembrando que as cirurgias realizadas no sistema público de saúde são abertas.
As baixas taxas de mortalidade em complicação em comparação com o que costumava-se ver no passado, são consequência da substituição das cirurgias abertas pelo método laparoscópico, ou minimamente invasivo. Hoje em dia, as cirurgias são feitas com a incisão de uma pequena câmera no abdômen, permitindo que o cirurgião conduza e visualize a cirurgia por meio de um monitor de vídeo. Dessa forma, os instrumentos cirúrgicos são inseridos por pequenas incisões na parede abdominal. Além de trazer uma série de benefícios a médicos e pacientes, como recuperação mais rápida, menos dor e menos tempo de internação, as cirurgias minimamente invasivas ainda representam uma economia significativa para os serviços de saúde.
Hoje em dia, no Brasil, 75% das cirurgias feitas já usam o método laparoscópico, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.