Quando o assunto é sexo, assunto esse que faz muita gente gaguejar, se fechar ou fazer piadas, Esther Perel, terapeuta de casais e autora, é excepcionalmente eloquente, e até mesmo rapsódica. Esse dom da retórica em particular está aparentemente em alta demanda: em julho, Perel fez o discurso de abertura do Summit Outside, um encontro de três dias com 900 empreendedores e pessoas criativas realizado em Powder Mountain no Eden, Utah.
- Pense em um momento no qual você tem uma experiência de grande aventura, de novidade, de surpresa, de risco. Um momento talvez onde você manifeste desejos em seu ser que você normalmente não se permite conhecer - Perel, 55 anos, falou aos ouvintes, que estavam sentados em um gramado estendido diante do palco.
A terapeuta, uma belga que fala nove idiomas, tem um sotaque meio francês que implicitamente parece reforçar a sua autoridade. Um vídeo deste evento captou a reação: em um momento, um jovem olhou os arredores nervosamente, como se estivesse desconfortável com o exercício, e no entanto, alguns dos participantes, com suas credenciais de identificação penduradas no pescoço, fecharam os olhos, deleitando-se em seus momentos de reflexão.
Os organizadores do Grupo Summit sabiam que as palestras de Perel, que tratam do paradoxo de querer tanto aventura quanto segurança nos relacionamentos monógamos, teve boa aceitação da plateia que tinha gurus como o diretor executivo da Zappos, Tony Hsieh, e o querido da TED JR, o artista de rua e fotógrafo. Todavia, ficaram surpresos quando mais da metade dos 900 hóspedes do evento compareceu na manhã seguinte para ouvir a palestra sobre "Amor, Sexo e Poder". Perel acabou fazendo três oficinas extras para atender a demanda.
- Ela trouxe essa discussão à baila, e também se tornou a companhia predileta de todos. Houve um monte de comentários, 'Oh, estive com Esther no jantar, e ela disse isso'. Ela se tornou o capital social - disse Emily Greener, uma das fundadoras da organização sem fins lucrativos com sede em São Francisco "I Am That Girl" (Sou Essa Garota, em tradução livre), que esteve no evento.
Desde 2006 quando Perel publicou o livro campeão de vendas, Sexo no Cativeiro (Editora Objetiva), ela se tornou a oradora autoridade em sexualidade e relacionamentos no mundo da terapia de casais, assim como no cenário luxuoso da realização pessoal. Ela frequentemente cria discussões em resorts durante os eventos que o magnata do autoaperfeiçoamento, Tony Robbins, realiza para os seus membros de Platina, que estão entre os que mais doam para a sua fundação. Em janeiro, ela deu uma palestra no Programa Educacional de Férias de Inverno do Instituto Ômega, na Costa Rica. A sua palestra no TED em 2013, "O Segredo do Desejo em um Relacionamento Duradouro", teve um milhão de acessos nas primeiras duas semanas em que foi publicada, enfrentando uma aparente epidemia de casamentos com baixa libido no que, em tese, seria a era menos reprimida da História Moderna (Isso pode ser parte do problema: "Como desejar aquilo que você já tem?", Perel sempre pergunta em suas palestras).
Talvez, desde que a Dra. Ruth comandou as transmissões americanas nos anos 80, não houve ninguém que atraísse tanta atenção para o seu trabalho sobre a sexualidade humana. Porém, se a Dra. Ruth tentou falar explicitamente sobre os mecanismos sexuais em um ambiente de comunicação relativamente domesticado e pré-Monica Lewinsky, Perel conseguiu atenção na era exageradamente sexual. Ao invés de oferecer algo mais explícito, ela escreve e fala dos aspectos sexuais que não podem ser captados através de uma tela, os estados psicológicos ocultos que ativam ou não o funcionamento desses mecanismos.
- Atualmente, o que é veemente demais não inspira. Mas falar sobre o mistério é imensamente inspirador - declarou Perel, tomando café no seu apartamento em Manhattan recentemente. Ao abraçar os mistérios do desejo significa que ela também não tem a obrigação de oferecer respostas normativas para ressuscitar uma vida sexual já morta.
- Os americanos acreditam profundamente que não existe problema sem solução. É a abordagem da Nike: Simplesmente faça. Entretanto, tente aplicar isso ao erotismo? Não tenho respostas como 'É isto que você deve fazer'. O que realmente digo 'É assim que acho que funciona' - explicou.
Então como exatamente ela acha que funciona? Nem precisa dizer, funciona de várias maneiras, porém, os livros e as palestras de Perel alegam que, na busca do conforto e intimidade totais, os casais às vezes destroem qualquer possibilidade de reacender a chama.
"A intimidade torna-se cruel quando ela exclui qualquer possibilidade de descoberta", escreveu em Sexo no Cativeiro. E também: "Quando não existe nada mais a esconder, não existe nada mais a procurar".
Essa noção, por mais intuitiva que possa ser para qualquer mulher comum, surgiu como uma espécie de revelação para a comunidade da terapia de casais.
A terapia de casais nos últimos 20 anos, Perel declarou em uma palestra que fez para essa associação em dezembro, enfatiza a necessidade de segurança em um relacionamento.
- No entanto, se a mulher fosse tão domesticada e tudo o que ela quisesse fosse segurança, por que todas as civilizações precisaram trancafiá-las já que elas não iam a lugar algum, afinal?
Em vez das respostas, Perel oferece visões embaladas tentadoramente e também um jeito franco, dizem os seus fãs, o que facilita o diálogo sincero. Que ela seja atraente fisicamente - em algumas fotos, ela se parece com Katie Couric no estilo exótico - não é irrelevante em sua linha de trabalho. Como Robbins colocou:
- Ela é uma pessoa atraente, e por isso os homens prestam atenção (parece horrível, mas é verdade) porém, não exageradamente de forma que as mulheres fiquem inseguras.
Perel prefere deixar o marido, Jack Saul, diretor do Programa Internacional de Estudos de Traumas em Nova York, fora das histórias do seu trabalho (embora ela goste de mencionar que ele adora dizer que vai escrever uma sequência chamada "Como Fazer Sua Esposa Escrever um Livro Sobre Erotismo"). Por outro lado, quando o mais velho dos seus dois filhos, Adam Saul, chegou em casa naquela tarde, ela o convidou (em francês, idioma no qual ela geralmente fala com ele) para comentar sobre o trabalho dela se ele assim quisesse. Adam, que está no segundo ano de faculdade, disse que durante anos ele implorou que a mãe escondesse os seus livros sobre sexo quando os amigos os visitassem.
- Mas ela disse que não escondia os livros sobre a destruição em massa, 'E assim, ela tampouco esconderia os outros' - disse Adam, imitando o sotaque europeu da mãe. Com toda a vergonha que ele deve ter passado, ele também teve algumas coisas legais para falar sobre ter uma mãe psicoterapeuta:
- Os programas de educação sexual no ensino médio não ensinam a como se comunicar com a sua parceira. Mostram uma foto, e eu sei dizer se é gonorreia ou clamídia, mas não como ter um relacionamento íntimo normal e saudável.
Perel ainda atende clientes, todavia, ultimamente, só aceita os que passaram por casos de infidelidade, que é o assunto do seu próximo livro a ser publicado pela HarperCollins em data ainda não definida. A sua abordagem até agora é tanto empática quanto provocativa.
- Nem toda infidelidade é um sintoma de um problema no relacionamento. Às vezes, isso tem a ver com outros anseios que são bem mais existenciais. Às vezes, a pessoa procura outras companhias não porque não está gostando do parceiro; não está gostando da pessoa que se tornou.
Ela está pronta para ser mal interpretada, declarou, se é isso o que é necessário para provocar um diálogo.
- Qualquer coisa que eu possa fazer que inclua a ambiguidade nas vidas complicadas que levamos, me sentirei fazendo algo de bom no mundo - concluiu Perel.
Curandeira sexual
Terapeuta de casais e autora, Esther Perel fala sobre sexualidade e ganha adoradores pelo mundo
As palestras de Perel, cujo trabalho é focado na psicologia por trás do sexo, tratam sobre o paradoxo de querer tanto aventura quanto segurança nos relacionamentos
GZH faz parte do The Trust Project