Os primeiros anos de vida da criança criam um mundo de descobertas para os bebês e seus pais. Para os que são observadores, as mudanças acontecem em velocidade impressionante e, logo, logo, o filhote muda de alguém totalmente dependente para uma pessoinha autônoma e desafiadora.
Dentro dos marcos do desenvolvimento, a locomoção é algo sempre esperado e estimulado. Todo bebê saudável se movimenta em uma sequência que respeita a maturação neuronal crânio-caudal, ou seja, vai adquirindo controle no sentido da cabeça aos pés. Aos seis meses, ficar sentado (e apoiado) permite melhor interação com tudo que acontece ao redor. Progressivamente, acontecerá o controle postural e será possível desencostar, para alcançar o brinquedo mais distante. Um pouco mais, e se arrasta, quem sabe até engatinha. Isso é pouco. Agora precisa seguir as etapas para se tornar bípede: se apoia nos móveis, dobra os joelhos, levanta seu próprio peso, busca seu eixo anteroposterior para se equilibrar e... caminha.
Nessa fase, as titias e os dindos querem agradar com um presente marcante, e então surge a ideia do andador. Permitir o deslocamento e autonomia a alguém que quer ficar sempre acompanhado parece tentador. O bebê se distrai, e a mãe fica liberada.
A verdade é que o andador continua popular e, contra as recomendações usuais dos pediatras, é utilizado por muitos lactentes entre seis e 15 meses. Os motivos alegados pelos pais para colocarem seus bebês em andadores incluem segurança, independência, melhora do desenvolvimento e maior facilidade para tomar conta da criança.
No entanto, a história é bem diferente. Iniciemos pelo que existe de mais grave: NÃO É SEGURO! As estatísticas apontam que esse é o equipamento infantil que mais provoca lesões em bebês, 90% das quais, ocorrem na cabeça. A incidência chega a um caso de traumatismo para cada três crianças que utilizam o andador. Parte deles são lesões graves como fraturas ou traumas cranianos, que necessitam hospitalização.
Os perigos que o andador traz à criança incluem: risco de quedas por tombamento, principalmente em escadas ou em desníveis do piso, queimaduras e intoxicações, porque a maior mobilidade facilita o acesso a objetos quentes e substâncias tóxicas, possibilidade de choque contra paredes ou objetos, já que pode atingir velocidade superior a três metros por segundo, escapando do controle do cuidador.
É importante frisar: andadores não trazem qualquer benefícios motores ou mentais. Seu uso pode até retardar o desenvolvimento da marcha infantil em algumas semanas, ao alterar o funcionamento normal da estrutura muscular. Bebês que utilizam andadores levam mais tempo para ficar de pé e caminhar sem apoio.
Em relação à facilidade nos cuidados, se o adulto necessitar realizar tarefas, é mais seguro colocar o bebê em um cercadinho com brinquedos.
Por esses motivos, a Sociedade Brasileira de Pediatria está em campanha contra o uso de andadores, unindo-se a países da Europa e aos Estados Unidos. Estamos buscando mudanças na legislação, como aconteceu no Canadá, que baniu os andadores desde 2004. Nesse país, a posse de um andador pode levar a multa de até US$ 100 mil ou seis meses de prisão.
Até lá, contamos com o bom senso dos pais e dos dindos. Aquele cercadinho bem colorido é uma excelente opção de presente.
10 PERIGOS DO ANDADOR
- Prejudica o desenvolvimento psicomotor
- Atrapalha o processo natural da marcha
- Gera mais quedas do que o normal
- Oferece mais riscos de traumatismo cranianos nos bebês
- Proporciona independência a uma criança que ainda não tem maturidade para isso
- Desequilibra, gerando riscos mais graves como queimaduras e afogamentos, por exemplo
- Prejudica o exercício físico, pois a criança despende menos energia
- O bebê aprende a correr de forma errada e fora da hora
- Não desenvolve sistemas de defesa
- Ensina o bebê a caminhar na postura errada
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria e pediatra Rui Locatelli Wolf
*Pediatra, Tânia sabe que nunca se pode descuidar das crianças