Pouco depois de meu aniversário de 70 anos, comecei a ouvir um zumbido agudo, sempre na orelha esquerda. Eu percebi que o ouvia apenas durante momentos de silêncio, mas logo me dei conta de que ele nunca ia embora.
Um especialista em ouvido, nariz e garganta (otorrinolaringologista) examinou meus ouvidos e me consultou sobre meu histórico médico, fazendo perguntas sobre o quanto me expus a ruídos e sobre os medicamentos que tomo. Um audiologista verificou minha audição.
Diagnóstico: acúfeno, com uma perda auditiva de grau leve na faixa superior que praticamente correspondia ao tom do zumbido.
Embora não fosse particularmente perturbador, perguntei o que poderia ser feito caso o zumbido ficasse alto a ponto de interferir na minha vida e na minha capacidade de ouvir com clareza (cerca de 85% dos casos de acúfeno são acompanhados por perda auditiva). A resposta foi que eu poderia utilizar um aparelho auditivo.
Porém, como o acúfeno de que sofro é leve, não foi feita menção de nada que possa aliviar o ruído que está constantemente presente na minha cabeça.
O acúfeno consiste na sensação auditiva de um barulho crônico de volume, intensidade e tom variáveis que não se origina de nenhuma fonte externa. Pelo contrário, ele parece vir de dentro da cabeça da pessoa. Fica mais evidente quando tudo está silencioso e pode não ser notado quando a pessoa está distraída - quando participa de atividades físicas, por exemplo, ou ouve música.
Ainda não existe cura para o acúfeno, um problema que pode atrapalhar a vida de quem é acometido - cerca de 10% a 20% da população, principalmente pessoas com idade acima de 65 anos.
Entre as causas possíveis estão lesões na cabeça e no pescoço, medicamentos que causam danos ao ouvido, doenças arteriais e autoimunes, problemas nos ouvidos e disfunções na articulação temporomandibular.
Até recentemente, não havia nenhum tratamento de eficácia duradoura confirmada por estudos clínicos controlados, apesar de uma série de remédios ser endossada de modo variado por especialistas em audição e interessados em lucrar com o nicho.
Além de um aparelho auditivo, o remédio mais comumente prescrito é um "dispositivo de mascaramento," uma máquina que faz soar um ruído natural ou artificial nos ouvidos da pessoa, numa tentativa de suprimir o barulho percebido por ela. No entanto, o barulho produzido pelo dispositivo de mascaramento pode se tornar tão incômodo como o do acúfeno.
- Os pacientes que reagem mal ao dispositivo de mascaramento muitas vezes têm de ouvir a explicação de que não o usaram por tempo suficiente ou de forma consistente o bastante - diz a piscóloga e pesquisadora Rilana Cima, da Holanda.
O alívio pela psicologia
A maioria das pessoas que sofre de acúfeno vive razoavelmente bem. Mas, para cerca de 3% dos pacientes, ela é extremamente debilitante, causa intensa angústia e aflição e os deixa incapacitados de exercer suas atividades.
Um tratamento habitual envolve um exame médico e um teste de audição, geralmente seguido pela receita de um aparelho auditivo, um dispositivo de mascaramento ou ambos.
Também se costuma receitar antidepressivos, ansiolíticos e soníferos, entre outros medicamentos, para aliviar a angústia emocional e outros sintomas debilitantes.
- Os pacientes afirmam que o barulho os deixa loucos - resume a psicóloga e pesquisadora Rilana Cima.
Recentemente, a equipe de Rilana demonstrou a eficácia de uma abordagem multidisciplinar, baseada na psicologia, para enfrentar o acúfeno. A técnica não faz o ruí­do desaparecer, mas mostra que há uma esperança concreta para aliviar as pessoas cuja capacidade de trabalhar, dormir e aproveitar a vida é prejudicada pelo acúfeno.
O tratamento de três meses desenvolvido e testado pela equipe holandesa baseia-se exclusivamente em técnicas psicológicas e recorre à terapia cognitivo-comportamental e a princípios da terapia de exposição, que já se mostraram eficazes para tratar fobias.
No modelo terapêutico, após uma sessão educativa e aulas de relaxamento profundo, os pacientes são gradualmente expostos a uma fonte externa que toca o mesmo zumbido que escutam o tempo todo. Após 10 a 12 sessões, eles se acostumam com o barulho, que passa a não mais incomodá-los.
- Não é o ruído em si, mas a reação extremamente negativa que os pacientes têm ao escutá-lo que compromete a vida cotidiana - explica Rilana.
Ela comparou a abordagem a ajudar as pessoas a superarem o medo de aranhas por meio da indução de um relaxamento profundo e gradual introdução de objetos que representam o seu medo de modo cada vez mais realista.
- Elas podem nunca vir a adorar aranhas, mas podem viver mais confortavelmente com elas - diz Rilana.