A chegada prematura de um bebê representa um desafio inesperado para muitas famílias, que precisam aprender a lidar com uma nova rotina. No Brasil, a estimativa é que essa situação atinja cerca de 12% dos partos, o que equivale a cerca de 340 mil crianças por ano, conforme o Ministério da Saúde.
O dia 17 de novembro serve para conscientizar sobre os cuidados necessários ao longo deste processo, quando é celebrado o Dia Mundial da Prematuridade.
São muitas as causas que podem levar ao parto prematuro, algumas podem ser evitadas durante o pré-natal. Entre os fatores, estão a idade materna, doenças obstétricas e ginecológicas e até a restrição do crescimento do feto na barriga.
O tempo ideal para o nascimento dos bebês é a partir das 39 semanas de gestação, período em que o desenvolvimento já está completo. Quando prematuro, o parto acontece com menos de 37 semanas.
— Quando mais próximo o bebê está das 39 semanas, menor é o risco de complicações, que vão exigir uma série de intervenções imediatas para proporcionar ao recém-nascido o suporte de que ele precisa — afirma o doutor Mauricio Obal Colvero, chefe do Serviço de Neonatologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
Gêmeas prematuras
Desde o nascimento, o ambiente hospitalar se transforma na primeira casa do recém-nascido. Incubadora, suportes respiratórios, alimentação por sondas e o constante monitoramento são apenas alguns dos procedimentos indispensáveis feitos por profissionais.
No caso das gêmeas Maria e Lara, a prematuridade foi uma experiência de superação e de luta diária, tanto para elas, quanto para os pais Ruan e Karine Ferraz. Após horas de parto, as meninas chegaram ao mundo pesando pouco mais de um quilo cada uma.
A família, que reside em Gramado, já esperava que o nascimento fosse prematuro, algo que é mais comum entre gêmeos, mas foi surpreendida quando elas nasceram com 31 semanas, pouco mais de seis meses.
— A bolsa da Karine estourou inesperadamente, e após várias tentativas de encontrar uma vaga em unidades neonatais na região, a gente conseguiu acolhimento no (Hospital de) Clínicas, onde elas foram recebidas com todos os cuidados necessários — relata Ruan.
Logo após o nascimento, as gêmeas necessitaram de suporte respiratório, pois os pulmões ainda não haviam se desenvolvido completamente. Nesses primeiros dias, as meninas passaram por "manuseio mínimo", permanecendo em incubadoras sem contato direto com os pais, para garantir a estabilização.
— Como pais, a sensação de impotência é grande. Você vê sua filha ali, tão pequena e vulnerável, e só resta confiar nos médicos e na equipe, que tiveram uma postura de se colocar no lugar do paciente, de entender o que estávamos sentindo — relata o pai.
Primeiros dias
Nesta fase, os bebês prematuros enfrentam uma série de riscos devido à imaturidade do seu corpo. Cada órgão necessita de atenção específica, e a vulnerabilidade dos pequenos aumenta com a menor idade gestacional.
Entre as principais complicações estão problemas respiratórios, cardíacos, renais e, especialmente, infecções, já que o sistema imunológico continua em formação.
— A cada dia, monitoramos o desenvolvimento de cada órgão, pois complicações são frequentes e podem evoluir rapidamente. Os pulmões, por exemplo, ainda não estão completamente maduros, o que aumenta a necessidade de suporte respiratório — explica o médico neonatologista.
Além do suporte respiratório, a nutrição dos prematuros também é um desafio. Nos primeiros dias de vida, é comum que eles recebam alimentação parenteral — uma nutrição intravenosa — para suprir as necessidades básicas. Aos poucos, se introduz o leite materno por meio da colostroterapia, um método no qual gotas de colostro, o primeiro leite materno, são administradas na boca do bebê.
Método canguru auxilia na recuperação
A equipe do Hospital de Clínicas apresentou à família o método canguru, uma prática simples, mas poderosa, que se mostrou essencial para a recuperação das meninas. Trata-se do contato pele a pele entre o bebê e os pais, abordagem que incentiva a estabilidade física e emocional dos prematuros.
Para os pais das gêmeas, o método foi um divisor de águas, permitindo que sentissem que estavam participando ativamente do processo de recuperação e desenvolvimento das filhas. Logo após começarem, as meninas deixaram de usar oxigênio para respirar por conta própria.
Colocá-las no peito, sentindo o calor e o batimento delas junto ao nosso, nos deu força. A gente percebeu que o nosso amor estava, de fato, ajudando elas a lutar e melhorar
RUAN FERRAZ
Pai de gêmeas que nasceram com 31 semanas
Participação dos pais
O acompanhamento dos pais é determinante para a recuperação dos prematuros. Durante esse processo, o envolvimento familiar ajuda na estabilização dos bebês e melhora a resposta aos cuidados médicos.
— A presença do pai e da mãe deixam eles e os bebês internados mais tranquilos. Até no caso de um irmãozinho que está ansioso pela vinda do irmão. Assim que o bebê já tem uma mínima estabilidade, a gente busca proporcionar esse contato — acrescenta o médico.
Após mais de um mês de internação, Maria e Lara estão estáveis e prestes a sair da UTI neonatal. Para Ruan e Karine, ver as filhas se fortalecerem e estarem prontas para irem para casa é um alívio.
— Foi um aprendizado contínuo. A cada pequena conquista, como mamar sozinhas na mamadeira ou ganhar peso, nosso coração se encheu de alegria e esperança. Fomos acolhidos quando chegamos e hoje já estamos acolhendo outros pais— finaliza o pai das bebês.
*Produção: Murilo Rodrigues