O câncer colorretal, também conhecido como câncer do intestino grosso, é uma condição em que ocorre uma multiplicação desordenada das células do cólon e do reto, o que gera o surgimento de pólipos (pequenas massas que crescem na parede do intestino) que, por sua vez, podem evoluir para câncer. A doença foi diagnosticada na cantora Preta Gil, no início do ano passado.
Ela contou que precisou remover o reto em agosto de 2023, durante o tratamento contra a doença. A declaração foi feita ao Fantástico, que exibiu uma entrevista com a artista neste domingo (8).
— Tudo nessa doença é um grande tabu. Eu amputei o reto e eu não posso ter vergonha, porque é a minha realidade — disse a artista em um trecho do programa dominical.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o país registra mil casos anuais de câncer colorretal, o que equivale a uma incidência de 21,10 casos para cada 100 mil habitantes. Quando o câncer colorretal é detectado em estágio inicial, há uma grande chance de ser tratado com sucesso.
O tratamento, no entanto, depende de inúmeros fatores, como localização, tamanho, extensão, metástase, e se é indicada a retirada dos pólipos, radioterapia, quimioterapia ou intervenção cirúrgica. No caso da cantora, houve a necessidade de remover e reconstruir parte do reto.
Remoção parcial
Preta Gil teve o órgão parcialmente removido, com a preservação do esfíncter anal. Foi feita uma reconstrução parcial do reto e uma ileostomia, que ocorre quando a porção final do intestino delgado (íleo) é exteriorizada. Nesses casos, o paciente é submetido a uma cirurgia de remoção do tumor, na qual os médicos retiram uma área além da afetada, por segurança.
O intestino grosso é então exteriorizado para o abdômen e o paciente passa a evacuar por uma bolsa de colostomia. É o que explica Rui Weschenfelder, Coordenador do Núcleo de Oncologia Gastrointestinal do Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre:
— Esse tipo de ostomia é muito comum quando não se faz a amputação do reto, e sim a reconstrução do órgão. Ela serve como uma medida temporária até a cicatrização, para então ser revertida (fechada). Nestas situações, o reto é reconstruído e feita uma nova conexão do intestino (anastomose).
Amputação anorretal
O especialista explica que a retirada total é um tratamento de exceção e ocorre quando não é possível preservar o esfíncter, músculo responsável pela continência fecal.
— A primeira opção é a remoção do tumor, preservando o esfíncter e a continência fecal. Entretanto, nem sempre é possível, e a única forma de remover o tumor completamente, é através da remoção do reto junto desse músculo, que é o esfíncter anal, chamada de amputação anorretal — ressalta Weschenfelder.
Quando isso ocorre, o paciente recebe uma colostomia definitiva, que é a exteriorização do intestino pela parede abdominal, onde fica uma bolsa para coleta das fezes. Alguns pacientes, quando adaptados, podem migrar para um processo chamado irrigação.
— Nesse processo, utiliza-se uma técnica em que se faz uma pequena lavagem do intestino e se usa um tampão, chamado oclusor. Ele fecha a saída do intestino, que é coberta por um adesivo. As pessoas conseguem conviver com isso por um período de um a três dias, sem necessidade da bolsa. Quando sentem a necessidade de evacuar, retiram o oclusor e evacuam na bolsa novamente - explica o oncologista.
Vida normal
Pacientes podem viver uma vida normal após a cirurgia, aprendendo a lidar com a utilização da bolsa. O conceito de qualidade de vida após a cirurgia envolve também as dimensões social, familiar, emocional e física do paciente, explica Weschenfelder:
— Isso traz impactos importantes para a vida da pessoa, porque ela vai precisar aprender a utilizar a bolsa, manter a alimentação e as atividades, e precisa criar uma rotina para a higienização e troca periódica do item. Sem dúvida, isso tem um grande impacto na rotina das pessoas.
Depois de estabelecida uma nova rotina, grande parte das pessoas consegue manter suas atividades diárias. Preta Gil foi diagnosticada com câncer de intestino no início do ano passado.
Na época, ela realizou sessões de radioterapia e tratamento cirúrgico. A cantora também teve de passar por uma histerectomia total abdominal, procedimento que consiste na remoção do útero.
Após o tratamento primário, ela entrou em uma fase chamada de "sem evidência da doença". No mês passado, porém, a artista informou que o câncer havia voltado, sendo detectado em dois linfonodos, no peritônio — membrana na cavidade abdominal que envolve órgãos como estômago e intestino — e no ureter.
*Produção: Murilo Rodrigues