A incidência da fumaça que cobre Porto Alegre e o Rio Grande do Sul -oriunda das queimadas em outros Estados e países como Bolívia e Paraguai - é motivo de preocupação em relação aos atendimentos no sistema de saúde. Ainda que especialistas sejam cautelosos ao afirmar que o ar poluído é o principal fator das internações e acolhimentos, alguns dos hospitais da Capital estão registrando aumento nas emergências por conta de doenças respiratórias, como crises de asma e bronquite, por exemplo.
Zero Hora procurou quatro instituições de saúde da cidade. Dessas, três afirmam ter registrado maior demanda na última semana por conta de problemas respiratórios. Todas forneceram dados percentuais do aumento. Pedidos os números exatos pela reportagem, as assessorias ainda não retornaram com o dado.
No Hospital Conceição houve um aumento entre 25% e 30% nas queixas respiratórias considerando os registros até 12 setembro em relação a todo o mês de agosto. A emergência tem recebido mais pacientes do que o habitual. Na manhã desta sexta-feira (13) a taxa de ocupação estava em 111%. O normal para essa época do ano na instituição é 90%. Segundo a instituição, foram 10 pacientes/dia em agosto e em setembro 13 pacientes/dia.
— Para o mês de setembro, não era esperado um aumento como o que a gente está percebendo agora. Ainda é muito cedo para afirmarmos a relação desta fumaça com estas queixas, talvez com mais tempo a gente possa estabelecer algum tipo de causa e efeito, mas ainda é precoce eu afirmar isso — ressalta o gerente de Internação do Hospital Conceição, Sati Jaber Mahmud.
As 12 Unidades de Saúde atendidas pelo Grupo Hospitalar Conceição (GHC) também apresentaram crescimento no atendimento de usuários com problemas respiratórios nos últimos dias.
A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre registra fenômeno semelhante. Da semana passada para esta, os atendimentos por conta de doenças respiratórias cresceram 25%. Conforme a instituição, nenhum caso exigiu internação; todos são de menor gravidade, mas acabam impactando na sobrecarga das emergências da instituição.
O Mãe de Deus afirma ter percebido um aumento de 20% dos pacientes com problemas respiratórios na última semana quando comparado com os sete dias anteriores.
Zero Hora procurou também o Hospital de Clínicas. A assessoria de imprensa da instituição disse não ter percebido alterações no comportamento da emergência nos últimos dias.
Rede municipal
No caso das unidades de saúde geridas pela prefeitura, a Secretaria Municipal de Saúde também registrou crescimento. Os dados enviados dizem respeito às internações por doenças respiratórias nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA's) nos 10 primeiros dias de setembro de 2024, comparados com o mesmo período do ano passado. São 592 casos neste ano e 502 em 2023, um aumento de 18%.
A avaliação do coordenador de Urgências da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Paulo Ricardo Bobek, é de que a presença da fumaça já pode ser considerado um fator agravante para a superlotação das emergências. No entanto, é necessário incluir outros motivos como problemas ainda relacionados à enchente no período do inverno.
Efeito das fumaças na saúde
Médicos ressaltam que, ao respirar um ar mais poluído, é possível ter uma reação de irritabilidade. A resposta tende a ser mais severa com quem já possui condições como bronquite, rinite, sinusite ou asma.
Recomendações para toda a população
- Se tiver sintomas respiratórios, busque atendimento médico o mais rápido possível
- Beba mais água e líquidos para manter o aparelho respiratório mais protegido
- Se possível, fique menos tempo em ambiente aberto, durante o dia ou à noite
- Mantenha portas e janelas fechadas, para diminuir a entrada da poluição externa no ambiente
- Evite atividades em ambiente aberto enquanto durar o período crítico de contaminação do ar
Recomendações a pessoas com problemas cardíacos, respiratórios e imunológicos
- Mantenha ao alcance os medicamentos indicados pelo médico, para uso em crises agudas
- Busque imediatamente atendimento médico se apresentar sinais ou sintomas de piora das condições de saúde após exposição à fumaça
- Consulte o médico sobre a necessidade de mudar o seu tratamento