A fumaça dos incêndios florestais que atingem o Brasil e países vizinhos se dissipou na última semana, trazendo uma melhora da qualidade do ar. A pluma (nuvem de fumaça), no entanto, voltou a circular no Rio Grande do Sul a partir desta segunda-feira (30). Ela deve permanecer, pelo menos, até quarta-feira (2), quando a chuva retorna para grande parte do Estado e ajuda a amenizar a situação.
Em meio a esse cenário, em Porto Alegre, as emergências e unidades de pronto atendimento ainda operam acima da capacidade. No entanto, houve uma leve melhora em comparação a duas semanas atrás, quando o máximo de ocupação registrado foi de 380%, no Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) – atualmente, o pior cenário ainda é registrado no local, com 280% de lotação. No pronto atendimento da Bom Jesus, há superlotação de 400%, frente a 528% há duas semanas.
Relação direta
Não há como estipular, porém, relação direta entre a procura por atendimentos respiratórios e a fumaça das queimadas, conforme especialistas.
As internações por doenças respiratórias na Capital aumentaram 7% para adultos e 23% para crianças em setembro (828 internações na enfermaria e UTI adulto, e 917, em pediatria), em comparação a agosto (773 internações de adultos e 744 pediátricas), de acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (SMS).
Em setembro, a segunda quinzena se manteve estável em relação à primeira (401 internações em ambas), em relação aos adultos. Já no pediátrico, houve aumento de 426 para 464.
No Hospital Conceição e no Hospital Criança Conceição, as hospitalizações por doenças respiratórias tiveram redução em agosto deste ano em comparação a agosto de 2023. Em setembro, no entanto, o número de atendimentos cresceu em 2024 (567) em comparação a igual período de 2023 (520) – um aumento de 9%.
A proporção de doenças respiratórias também aumentou, de 18% para 24,1%. O número de internações em setembro, porém, foi menor do que em agosto.
Na UPA Moacyr Scliar, o aumento de atendimentos por doenças respiratórias foi mais perceptível, de acordo com os dados do Grupo Hospitalar Conceição (GHC). Os atendimentos saltaram de 871 em agosto de 2023 para 1031 em agosto deste ano – um aumento de 18%.
Período do ano
É comum neste período do ano, entre maio e setembro, um aumento nas doenças respiratórias, especialmente em crianças. Isso ocorre por diversos fatores, como o frio do inverno, o aumento da umidade e o maior tempo que as pessoas passam em ambientes fechados.
Para Luis Antônio Benvegnú, diretor de Atenção à Saúde do GHC, a fumaça pode ter influenciado o aumento das internações, devido à concentração de material particulado fino no ar, prejudicial à saúde, e por deixar o clima mais seco, mas não se pode afirmar que ela seja a responsável.
O mês de setembro teve presença mais constante de fumaça no Estado. O diretor explica que, por não existirem medidas ou referências exatas no período, não há como saber se pessoas que foram atendidas estiveram expostas a maior ou menor concentração de fumaça.
— Mas, considerando a informação genérica e essa diferença, nós podemos intuir que, sim, alguma influência pode ter tido da fumaça. É possível que seja uma variação sazonal, que também acontece em outros anos, por um vírus mais forte, um período maior de chuva ou frio, ou algum surto específico de uma gripe. O fato: teve fumaça. Outro fato: teve maior internação, maior atendimento nas emergências e na UPA. Então, a gente pode, sim, estimar que houve alguma influência — declara Benvegnú.
O Hospital Moinhos de Vento informou que a procura por atendimento em decorrência de doenças respiratórias permanece alta na instituição, o que é esperado para esta época do ano.
Já o Serviço de Emergência do hospital está com 52,5% de ocupação no atendimento adulto e 60% de ocupação no pediátrico — as doenças respiratórias são a principal causa.
Na Santa Casa, a coordenação das emergências afirma que é possível observar redução das queixas respiratórias em setembro, comparativamente ao período de agosto. A instituição não disponibilizou dados.
No Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), não houve impacto nos atendimentos da emergência e na internação hospitalar por doenças respiratórias em decorrência da fumaça.
A exposição ao ar contaminado pode trazer prejuízos à saúde e demanda cuidados para evitar agravos respiratórios.